Aos poucos, tudo foi ficando mais escuro.
A tensão em casa se tornava tão densa que era difícil respirar.
Minha mãe andava o tempo todo com os ombros curvados e os olhos fundos, como se o próprio corpo carregasse o peso de cada humilhação.
Meu pai… bom, ele estava sempre no controle.
Mesmo no silêncio, ele dominava.
🌒 A Noite Quebrou Minha Mãe
Era uma terça-feira.
O cheiro de arroz queimado se espalhava pela casa, e antes mesmo de Spike dizer uma palavra, sabíamos que algo ruim ia acontecer.
Ele entrou na cozinha com os passos pesados e a testa franzida.
Spike
— "Isso aqui é o quê? Comida de mendigo?" — ele esbravejou, jogando o prato na parede.
O barulho do prato se espatifando ecoou como um tiro.
Minha mãe se encolheu, mas não correu.
Ela apenas caiu de joelhos no chão, como se as pernas tivessem desistido.
Hannah
— "Eu não aguento mais..." — sussurrou ela, com a voz embargada, os olhos transbordando.
Hannah
Ela chorava ali, sozinha, no meio dos cacos e do cheiro de queimado.
Eu a observava escondido atrás da porta, pequeno demais para compreender, grande demais para esquecer.
Ali eu vi, pela primeira vez, minha mãe quebrada por dentro.
---
🎭 A Máscara Que Aprendi a Usar
No dia seguinte, fui à escola como se nada tivesse acontecido.
Sentei na cadeira, sorri para a professora, brinquei no recreio.
Mas tudo era falso.
Na sala de aula, enquanto todos desenhavam o “meu lugar feliz”, eu desenhei uma porta fechada.
Quando a professora perguntou o que era, eu sorri e disse:
William
— “É só uma casa. Nada demais.”
Mas por dentro... eu gritava.
Ali nasceu minha máscara.
A máscara do menino “normal”, que aprende rápido, que é educado, que parece bem.
Porque ninguém nunca quer saber o que está por trás do sorriso de uma criança.
---
Comments