Capítulo 3 – O Começo da Rebeldia

Crescer num ambiente quebrado é como viver dentro de um espelho rachado. Você se vê, mas nunca inteiro. Tudo distorcido. Tudo cortando. E por muito tempo, eu achei que o problema era comigo.
Com cinco anos, eu já sabia o que era pisar leve pra não acordar o monstro. Sabia quando o olhar do meu pai mudava. Sabia quando minha mãe precisava de silêncio mais do que palavras. Eu sabia demais pra uma criança. E isso me doía.
Mas aos sete… alguma coisa dentro de mim mudou.
A Primeira Faísca
Foi numa tarde de verão. Estava brincando na varanda, desenhando num papel amassado, quando meu pai chegou mais cedo. Ele estava bêbado. De novo. Tinha o olhar perdido, e o cheiro de álcool misturado com suor me dava enjoo.
Spike
Spike
— “Isso aí é brincadeira de marica?” — ele disse, arrancando o desenho da minha mão.
Eu levantei os olhos e o encarei pela primeira vez sem abaixar a cabeça.
William
William
“Não é brincadeira. É arte.”
Ele riu. Um riso feio, curto, debochado. Amassou o papel e jogou longe.
Spike
Spike
Homem de verdade não perde tempo com essas porcarias.”
Naquele momento, eu não chorei. Não corri pra minha mãe. Só fiquei parado. Com raiva.
Era a primeira vez que eu sentia aquilo queimando dentro de mim. A raiva de ser silenciado. De ser apagado. De não poder ser quem eu era.
--- O Desejo de Ir Embora
Depois daquele dia, eu comecei a sonhar com a fuga. Não uma fuga de malas e estrada. Mas uma fuga de alma. Eu queria sumir dali. Queria crescer logo, ganhar dinheiro, ser livre. Queria ser tudo o que meu pai dizia que era fraqueza: sensível, criativo, verdadeiro.
Comecei a escrever escondido. Pegava papéis velhos e desenhava mundos só meus. Falava com personagens imaginários que me escutavam melhor do que qualquer adulto.
Minha mãe sabia. Ela encontrava meus desenhos escondidos debaixo do colchão e sorria, mesmo cansada.
Hannah
Hannah
Você tem algo lindo aí dentro, filho. Nunca deixe que ele te apague.”
E era isso que me mantinha de pé. Não era coragem. Era sobrevivência.
--- Reflexão Final
Aquela criança, que um dia se encolheu atrás do sofá com medo dos gritos, agora olhava de volta com fogo nos olhos.
Eu não sabia ainda, mas ali nasceu o começo da minha rebeldia. A primeira faísca da força que um dia ia me tirar daquele inferno.
Porque, no fim, eu não queria só sobreviver. Eu queria viver. ---

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