os passos da mudança

Nos dias que se seguiram ao encontro no café, Alexa sentia uma inquietação diferente dentro de si. Não era a dor esmagadora que a acompanhava há tanto tempo, mas algo novo, quase imperceptível, como um sussurro no fundo de sua alma. Rafael havia plantado uma semente de dúvida, ou talvez, de esperança. Ele não prometeu nada, não tentou convencê-la de que tudo ficaria bem de imediato. Mas, de alguma forma, suas palavras ressoavam nela.

Na manhã de domingo, Alexa se pegou olhando para o celular mais tempo do que deveria, hesitando sobre enviar uma mensagem para Rafael. Queria falar com ele, mas ao mesmo tempo, o medo do desconhecido a paralisava. E se estivesse lendo tudo errado? E se ele apenas estivesse sendo gentil, sem intenção de cruzar a linha da amizade? Inspirou profundamente e, antes que pudesse mudar de ideia, digitou uma mensagem simples:

-Bom dia. Vai ao parque hoje?

A resposta veio poucos minutos depois:- Bom dia, Alexa. Se você estiver lá, estarei também.

Um sorriso involuntário surgiu em seus lábios. Pegou um casaco leve, saiu de casa e caminhou até o parque, sentindo o ar fresco da manhã revigorar seus sentidos. Quando chegou, encontrou Rafael sentado no mesmo banco onde se encontraram da última vez. Ele ergueu os olhos ao vê-la e sorriu, um sorriso tranquilo que a fez sentir como se estivesse exatamente onde deveria estar.

-Que bom que veio

ele disse suavemente, batendo no espaço ao seu lado para que ela se sentasse.

Alexa se acomodou ao seu lado, observando o movimento ao redor. Crianças corriam pelo gramado, um casal passeava de mãos dadas, e o canto dos pássaros preenchia os espaços entre as palavras não ditas.

-Tenho pensado no que você disse

ela começou, sem tirar os olhos das folhas que dançavam ao vento.

-Sobre o amor. Sobre como ele pode ser algo gradual.

Rafael ficou em silêncio por um instante antes de responder.

-E o que acha?

Ela suspirou.

-Acho que tenho medo de que, se eu me permitir sentir algo novo, estarei traindo a memória da minha tia. Como se seguir em frente significasse deixá-la para trás.

Ele inclinou ligeiramente a cabeça, pensativo.

-Acho que seguir em frente não significa esquecer. O amor que sentimos por alguém que partiu nunca desaparece. Ele só encontra novas formas de existir dentro de nós.

Alexa absorveu suas palavras, sentindo uma leveza estranha preencher o espaço onde antes havia apenas dor.

-Você sempre fala dessas coisas como se já tivesse passado por algo parecido.

Rafael sorriu de lado.

-Talvez já tenha. A vida nos ensina de maneiras diferentes.

Ela queria perguntar mais, mas algo em seu olhar dizia que, se fosse importante, ele compartilharia no tempo certo. E, por algum motivo, ela não sentiu a necessidade de apressá-lo.

Ficaram ali por um tempo, apenas apreciando a companhia um do outro. Quando finalmente se levantaram para ir embora, Rafael tocou de leve o ombro de Alexa e disse

-O futuro pode ser assustador, mas talvez a gente só precise dar um passo de cada vez

Alexa sorriu, sentindo que, pela primeira vez em muito tempo, estava disposta a tentar.

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