O som das ondas quebrando na praia ecoava na mente de Alexa, mesmo estando longe do mar. Tudo nela parecia pesado, como se a saudade da tia Zoe fosse um fardo que ela não conseguia largar, e nem sabia se queria. A cada dia que passava, as bolinhas de gude no pote ao lado de sua cama pareciam ganhar mais significado. Ela ainda não conseguia entender o que cada uma representava, mas algo naquelas esferas coloridas começava a mexer com ela.
Era um domingo comum, mas Alexa sentia como se o mundo ao seu redor estivesse congelado. Ela sentou-se no banco de seu quarto, a janela entreaberta, deixando a brisa fria da tarde invadir o espaço. Olhou mais uma vez para o pote de vidro, onde as bolinhas ainda estavam, impecáveis em sua disposição.
Ela havia tocado apenas a primeira, a bolinha azul, mas agora, não conseguia evitar o desejo de entender o que aquelas pequenas esferas poderiam representar. O que significava ser amada com intensidade, como Zoe havia prometido?
-Eu não acredito em contos de fadas
ela sussurrou para si mesma, mais uma vez tentando afastar a ideia de que algum dia alguém poderia amá-la da forma como a tia sugerira. A ideia parecia boa demais para ser verdadeira. Como alguém poderia amá-la de forma tão avassaladora, quando ela mesma se sentia tão fragmentada, perdida? O amor parecia algo distante, inalcançável.
E, ainda assim, havia algo em sua mente que se recusava a abandonar aquele pensamento. Algo que Zoe havia deixado ali, nas entrelinhas das palavras, como se fosse uma promessa silenciosa. Um amor que a faria sentir viva novamente, que a restauraria por dentro.
Sem perceber, Alexa pegou a segunda bolinha de gude. Ela era verde, translúcida, com leves manchas de luz dourada em seu interior. A garota a observou atentamente, como se tentasse decifrar um código que sua mente não conseguia entender. Ela sentia uma conexão com a bolinha, como se algo, em algum lugar profundo, a estivesse chamando. Mas, ao mesmo tempo, o medo tomava conta dela. E se o amor realmente fosse algo que ela não merecesse? E se fosse tudo uma ilusão?
Lentamente, Alexa se levantou e foi até a varanda. Olhou para o horizonte, onde o céu se encontrava com o mar, com as cores se misturando no entardecer. A dor ainda a acompanhava, mas havia algo mais agora. Uma leve sensação de que, talvez, o que Zoe dissera tivesse algum sentido, mesmo que ela não soubesse o que exatamente estava esperando.
Foi quando a porta do quarto se abriu, quebrando o silêncio do ambiente. Alexa olhou para trás, surpresa. Seu irmão, Gabriel, estava ali, com os cabelos bagunçados e um sorriso hesitante no rosto.
-Eu não sabia que você estava aqui
ele disse, com uma expressão que refletia a mesma saudade e tristeza que ela sentia.
-Eu… queria falar com você.
Alexa deu um meio sorriso, mas não conseguiu esconder a dor nos olhos. Gabriel sempre soubera o que dizer, ou, ao menos, o que não dizer. Ele havia sido sua rocha, sua companhia nas noites mais solitárias, mas, naquele momento, ele também parecia perdido.
-Eu estava só pensando…
Alexa começou, mas a voz falhou. Ela não sabia como expressar o turbilhão de sentimentos que estava dentro dela.
-Você… você acredita que a vida pode nos dar um tipo de amor que a gente não espera? Algo que nos faça sentir completos novamente?
Gabriel a olhou com uma expressão séria, mas cuidadosa. Ele sempre fora mais pragmático, alguém que buscava entender as coisas de forma lógica, mas, diante da dor dela, parecia hesitar. Ele deu um passo em direção a ela, ficando ao seu lado.
-Eu não sei, Alexa. Mas eu acho que, se o amor vier, você vai reconhecê-lo. Mesmo que pareça estranho, ou até impossível no começo. Às vezes, as coisas boas aparecem nos momentos mais inesperados.
Ele pausou, olhando para o pote com as bolinhas de gude.
-A tia Zoe… ela sempre foi cheia de mistérios, não é?
Alexa assentiu, a garganta apertando. A perda de Zoe ainda era um golpe difícil de suportar, mas, ao olhar para Gabriel, ela sentiu uma leveza. Ele estava ali, oferecendo-lhe algo que ela não sabia como encontrar sozinha: a esperança.
-Você acha que isso tudo… essas bolinhas, o que ela escreveu, pode ser real?
Alexa perguntou, sua voz baixa.
Gabriel se inclinou um pouco para olhar o pote.
-Não sei. Mas talvez o mais importante seja acreditar. Mesmo que só um pouquinho. Talvez o amor venha em formas diferentes, e a gente só precise abrir os olhos para vê-lo.
Alexa respirou fundo, ainda sem ter certeza de que estava pronta para acreditar. Mas, pela primeira vez, ela sentiu um fio de esperança. As bolinhas de gude estavam ali, diante dela, como um símbolo de algo ainda por vir. Talvez, no fundo, Zoe tivesse razão. Talvez o amor fosse mais complexo do que ela imaginava, mais do que a dor da perda.
Ela pegou a bolinha verde e a segurou na palma da mão, sentindo seu peso leve e suave.
-Eu vou tentar acreditar
murmurou para si mesma.
Gabriel a olhou de forma atenta, mas não disse mais nada. Ambos ficaram ali, silenciosos, com o peso da saudade e a leveza de uma esperança que começava a germinar.
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Atualizado até capítulo 25
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