Em uma Noite Estrelada
Eu sempre fui a sombra da minha irmã Helena, apesar de sermos idênticas: negras, cabelos cacheados e longos, um corpo perfeitamente definido pelo balé e o futebol, boca carnuda e olhos expressivos; éramos diferentes em todo o resto. Enquanto eu estudava e trabalhava meio período em uma papelaria/livraria no centro de São Paulo, ela se divertia com as amigas e o peguete da vez. Eu fazia questão de usar um óculos redondo, calça e camiseta larga para fugir dos assédios que eu sofria só por ser idêntica a Helena.
Em uma tarde fria de inverno de 2016 entra pela porta da livraria um garoto lindo, alto, pele clara, olhos claros e cabelos na altura dos ombros. Ele era a definição de homem perfeito, foi paixão a primeira vista.
— Olá boa tarde, você teria o livro Um amor para recordar? Pergunta o garoto um tanto tímido que completa. — Não é para mim, é para uma amiga.
— Não precisa se envergonhar, esse livro é ótimo, sua amiga tem bom gosto. Está na sessão de romances, na terceira prateleira ao fundo.
— Muito obrigado.
Alguns minutos depois o garoto volta segurando o livro.
— Você poderia embrulha-lo junto com esse diário?
— Perfeitamente, mas acho que essa caneta deixaria o presente ainda mais completo, oque acha?
— Acho ótimo. Quanto fica tudo?
— Com seu desconto de estudante R$65,00.
— Passa no débito por favor.
— Muito obrigada, volte sempre.
O garoto deu um lindo sorriso antes de ir embora e meu coração acelerou.
As 18:00 horas , pego minha mochila e vou para estação de metrô rumo a Vila Mariana onde moramos.
Chegando em casa sou recebida com um entusiasmo diferente.
— Nossa que animação é essa? Pergunto surpresa vendo a mamãe e o papai segurando uma taça de champanhe.
— Parabéns minha filha, você foi aceita na faculdade de Harvard. Diz meu pai enxugando as lágrimas segurando um envelope.
— Pai, o senhor abriu minha correspondência?
— Me perdoe filha, mas quando vi doque se tratava não resistir e abri.
— Eu insistir para seu pai abrir, a ansiedade estava me matando.
— Então fui aceita mesma? Com um sim feito com a cabeça, os dois me envolveram em um abraço apertado.
— Que farra é essa? Pergunta Helena ao chegar da rua.
— A Heloísa foi aceita em Harvard. Responde minha mãe animada.
— Não acredito, parabéns maninha. A felicidade tomou conta da casa e pela primeira vez na vida fui a protagonista.
O tempo passava depressa, de vez em quando a imagem do garoto da papelaria me vinha a mente. Na última semana de trabalho ele apareceu, estava ainda mais lindo.
— Oi, você poderia me indicar um bom romance?
— Presente para outra amiga? Pergunto sarcasticamente.
— Não, esse seria para mim, trabalho para a faculdade.
— Todos iriam seguir a linha de Shakespeare, ele é ótimo em retratar o amor romântico.
— Eu sei, mas eu queria algo atual. Algo diferenciado.
— Tem um livro que eu amo titulado A marca de uma lágrima, do autor Pedro Bandeira. É romance e tem muito suspense, tenho certeza que você vai gostar.
— Sendo indicação sua, tenho certeza que sim. Onde encontro esse livro?
— Naquele mesmo corredor , na prateleira de cima.
Ele volta com o livro, paga e se despede com aquele mesmo sorriso arrebatador. É uma pena que não estarei mais aqui para atendê-lo, embarco no sábado rumo aos Estados Unidos, meu sonho é me tornar uma mulher de sucesso sem ser comparada a ninguém.
De volta para casa, termino de arrumar as malas e escuto Helena se despedir dos meus pais.
— Mãe, não precisa me esperar , vou dormir na casa da Clara.
— Divirta-se minha filha.
— Juízo Helena. Alerta meu pai.
Nessa época eu não fazia idéia que essa saída de Helena para se divertir, mudaria o rumo de nossas vidas para sempre.
Quando amanheceu, me arrumei e desci para tomar café com meus pais, Helena ainda não havia chegado.
— Bom dia mãe, bom dia pai.
— Bom dia minha filha. Responde minha mãe começando a chorar.
— Não chora mãe, sua filha está indo estudar e não para guerra. Falo enquanto lhe dou um abraço apertado.
— E eu não ganho esse abraço não?
— Mas é claro que ganha pai.
O café da manhã foi nostálgico e animado ao mesmo tempo.
Helena chega um tempo depois de retirarmos a mesa do café.
— Bom dia família.
— Achei que não viria se despedir de mim?
— Eu nunca iria fazer isso com você irmãzinha. Vou tomar um belo banho e já desço.
— Não demora, temos que levar sua irmã no aeroporto. Grita meu pai do escritório.
Aproveito e subo para dar uma última revisada nas malas. Para minha surpresa Helena estava me esperando para contar que dormiu com um cara lindo, e que saiu antes dele acordar.
— Você dormiu com um cara que você não sabe nem o nome? Você enlouqueceu Helena? Pelo menos usaram preservativo né?
— Eu tomo pirulito e na hora nem lembrei disso. Relaxa, não vai acontecer nada.
— Como você é irresponsável Helena, você sabe muito bem que o perigo de uma transa sem preservativo não é só uma gravidez indesejada, mas as doenças que podem vim aparecer.
— Não se preocupe, ele era virgem.
— Como você pode ter tanta certeza assim?
— Ele não sabia nem beijar direito, mas era um gato universitário.
— E você ficou com ele só pela beleza?
— Claro que não, foi pelo que ele disse: Ti encontrei. A partir daí você já sabe.
— Você é doida.
— Doida pela vida. Agora sim vou tomar banho, precisava contar isso para alguém.
Sim, eu ainda era virgem, ao contrário de Helena, eu acreditava que me casaria virgem com o homem predestinado. É cafona , mas era o meu sonho na época.
As 14:00 horas, horário de Brasília, o meu vôo decolou. Olhando as nuvens pela janela, me lembrei mais uma vez dos olhos do garoto da livraria, será que um dia nos veremos de novo?
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Atualizado até capítulo 27
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