O Início da Tempestade

Os dias seguintes passaram como um borrão para Lúcia. Ela tentava seguir sua rotina normalmente, mas a sensação de estar sendo observada não a abandonava. Sempre que saía do trabalho ou voltava para casa, tinha a impressão de que alguém a seguia. Quando olhava para trás, no entanto, nunca via nada além de rostos desconhecidos apressados em meio ao movimento da cidade.

Ela sabia que não era coincidência.

Desde a ligação de André, sua mente não encontrava descanso. Tentava ignorar, se convencer de que ele não teria coragem de aparecer pessoalmente. Mas, ao mesmo tempo, sabia do que ele era capaz.

Um Encontro Surpreendente

Numa sexta-feira à noite, Rafael insistiu para que saíssem para jantar. Ele percebeu que Lúcia estava diferente nos últimos dias e, mesmo sem entender exatamente o motivo, queria distraí-la.

— Acho que você precisa relaxar um pouco — ele disse ao telefone, com sua voz sempre calma e envolvente.

Lúcia hesitou. Sentia-se esgotada e vulnerável, mas sabia que estar com Rafael a ajudaria a afastar as sombras que rondavam sua mente.

— Tudo bem. Para onde vamos?

— Deixa comigo. Só se arruma e me espera.

Pouco depois das oito da noite, Rafael chegou para buscá-la. Ele sorriu ao vê-la vestindo um elegante vestido preto, mas percebeu a sutil tensão em seus olhos.

— Você está linda — disse, segurando sua mão e depositando um beijo suave em seus dedos.

— Obrigada.

No restaurante, a conversa fluiu com facilidade, como sempre acontecia entre eles. Rafael fazia piadas, contava histórias engraçadas, e por algumas horas Lúcia se permitiu esquecer seus medos.

Mas a ilusão não durou muito.

No momento em que saíram do restaurante e caminharam até o carro de Rafael, Lúcia sentiu um arrepio. Seu olhar se moveu automaticamente pela rua, e foi quando o viu.

Do outro lado da avenida, encostado em um poste, André a observava.

Seu coração disparou, e sua respiração ficou presa no peito. Ele estava ali. Real. Próximo.

— Lúcia? — Rafael perguntou, percebendo a mudança repentina em sua expressão.

Ela piscou algumas vezes, tentando recuperar o controle.

— Eu… Nada, só achei que vi alguém.

Rafael olhou na mesma direção, mas André já havia desaparecido.

Lúcia sentiu um frio na espinha. Ele não havia ido embora. Apenas queria que ela soubesse que estava ali.

O Passado Cobra Seu Preço

O caminho de volta para casa foi silencioso. Rafael segurava sua mão, tentando transmitir segurança, mas percebia que algo a atormentava.

Quando chegaram em frente ao prédio dela, ele a olhou nos olhos e segurou seu rosto com delicadeza.

— Seja lá o que for, eu estou aqui, tá? Você pode me contar.

Lúcia sentiu o peito apertar. Queria se abrir, contar tudo, confiar nele. Mas as palavras não saíam.