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As semanas passaram como um sopro, e a conexão entre Lúcia e Rafael só se fortalecia. O que começou com um encontro inesperado se transformou em longas conversas ao telefone, encontros espontâneos para um café no meio da tarde e passeios sem rumo pelas ruas da cidade.
Lúcia se surpreendia com a naturalidade com que as coisas fluíam entre eles. Rafael era o tipo de pessoa que fazia tudo parecer mais simples. Ele ria fácil, contava histórias de um jeito envolvente e parecia sempre encontrar beleza nas pequenas coisas. Com ele, Lúcia se permitia relaxar, rir sem motivo e até esquecer, por alguns momentos, que carregava um passado que preferia manter trancado.
Mas, por mais que tentasse aproveitar o presente, havia algo dentro dela que insistia em lembrá-la de que, mais cedo ou mais tarde, a verdade bateria à sua porta.
Naquela noite, caminhavam à beira do rio, aproveitando a brisa fresca que soprava suavemente. As luzes dos postes refletiam na água, criando um cenário quase mágico. Rafael segurava sua mão, entrelaçando os dedos nos dela com naturalidade, como se aquele gesto fosse algo que sempre deveria ter existido.
— Você está estranhamente quieta hoje — ele comentou, lançando-lhe um olhar de lado.
Lúcia sorriu, tentando disfarçar os pensamentos que giravam em sua mente.
— Estou só aproveitando o momento.
Rafael parou de andar e virou-se para ela, segurando suas mãos.
— Lúcia… Você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, certo?
Ela prendeu a respiração por um instante. O olhar de Rafael era gentil, mas ao mesmo tempo profundo, como se ele pudesse enxergar além do que ela mostrava.
— Eu sei — respondeu, desviando os olhos para o rio.
Rafael não insistiu. Ele apenas apertou levemente suas mãos e voltou a caminhar ao lado dela.
Lúcia queria confiar nele. Queria abrir seu coração e contar tudo. Mas como explicar algo que nem ela mesma conseguia superar completamente? Como contar sobre um passado que ainda a assombrava, sobre cicatrizes invisíveis que nunca haviam sido totalmente curadas?
De repente, seu celular vibrou no bolso do casaco. Ela hesitou antes de pegá-lo, mas quando olhou a tela, seu coração disparou.
André.
O nome que ela tanto evitava ver.
Uma mensagem piscava na tela:
“Precisamos conversar. Você sabe que não pode fugir disso para sempre.”
Lúcia sentiu um nó se formar em sua garganta. Seu estômago revirou, e por um instante ela esqueceu até como respirar.
— Tudo bem? — Rafael perguntou ao notar sua expressão.
Ela rapidamente apagou a mensagem e guardou o celular.
— Sim, só uma notificação do trabalho.
Ele franziu levemente a testa, como se não estivesse completamente convencido, mas não pressionou.
— Você parece cansada — ele disse suavemente. — Quer que eu te leve para casa?
Lúcia hesitou, mas acabou assentindo.
No caminho, Rafael manteve o assunto leve, contando sobre uma situação engraçada que tinha acontecido com um amigo. Lúcia tentava sorrir e reagir como sempre, mas sua mente estava longe dali.
Quando chegaram em frente ao prédio dela, Rafael parou e segurou sua mão novamente.
— Sei que às vezes a gente tem coisas que não quer dividir com ninguém — ele disse, olhando diretamente nos olhos dela. — Mas eu estou aqui. Quando e se você quiser falar.
O aperto no peito de Lúcia aumentou. Ela queria tanto confiar nele… Mas e se, quando ele soubesse a verdade, decidisse ir embora?
Ela respirou fundo, forçando um sorriso.
— Obrigada, Rafael.
Ele sorriu de volta e se inclinou levemente, como se fosse beijá-la, mas parou por um segundo, esperando por um sinal dela. Lúcia não hesitou. Ela fechou os olhos e encurtou a distância entre eles, sentindo os lábios de Rafael tocarem os seus com delicadeza.
Foi um beijo lento, sem pressa, mas carregado de sentimentos que palavras não poderiam expressar.
Quando se afastaram, Rafael sorriu de leve e tocou o rosto dela com carinho.
— Boa noite, Lúcia.
— Boa noite, Rafael.
Ela entrou no prédio e subiu para seu apartamento, sentindo o coração acelerado por dois motivos completamente opostos: o encantamento por Rafael e o medo do que estava por vir.
Ao fechar a porta atrás de si, encostou-se nela e soltou um longo suspiro. Pegou o celular novamente e abriu a mensagem de André.
Seus dedos pairaram sobre o teclado antes de finalmente digitar uma resposta curta:
“Não tenho nada para falar com você.”
Apertou enviar e bloqueou o número.
Mas, no fundo, sabia que aquilo não seria o suficiente para afastá-lo.
O passado sempre encontra um jeito de voltar.
E, quando voltasse, Lúcia temia que pudesse destruir tudo o que ela estava começando a construir ao lado de Rafael.
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Atualizado até capítulo 27
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