O som dos meus passos ecoava pelos corredores silenciosos da mansão. Cada canto daquele lugar carregava memórias – algumas boas, outras que eu preferia esquecer.
Mas agora, nada disso importava. Minha cabeça estava um caos, uma tempestade de culpa, raiva e cansaço. Eu precisava de um escape.
Empurrei a porta da sala de treino e entrei sem acender as luzes. A penumbra era suficiente. Tirei o paletó e comecei a enrolar as faixas nas mãos. Minutos depois, já estava golpeando o saco de pancadas com força e precisão.
Cada soco era um pensamento sufocado.
Liz morreu.
Foi minha culpa.
Eu deveria ter previsto aquilo.
Eu deveria ter sido mais rápido.
Meu punho afundou o saco, e o impacto reverberou pelos meus braços.
Liz sorriu antes de morrer.
A imagem dela me atingiu como um golpe certeiro no estômago, e eu avancei contra o saco com mais raiva, mais força. Meu corpo pedia descanso, mas minha mente não permitia. Continuei. Golpe após golpe.
Então, uma voz grossa soou atrás de mim.
— Vai destruir esse saco antes de aliviar essa culpa?
Parei no mesmo instante, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Eu não tinha ouvido passos. Não tinha sentido presença alguma.
Virei-me rápido e lá estava ele. Lincon Salvatore, meu pai. Agora faz sentido por eu não ter sentido sua presença.
Franzi o cenho
— O que está fazendo aqui?
Ele afrouxou a gravata enquanto se aproximava e, sem responder, segurou o saco de pancadas com as mãos.
— Bate. Vai te ajudar.
Meu olhar permaneceu fixo no dele por um instante. Era raro meu pai estar ali. Raro ele se importar o suficiente para oferecer qualquer tipo de conforto, mesmo que à sua maneira.
Levantei os punhos e voltei a golpear o saco, agora com mais firmeza. Lincon segurava para que eu pudesse descarregar toda a tensão sem precisar me preocupar.
— A missão foi bem-sucedida — ele disse, depois de alguns minutos.
Minha mandíbula travou. Parei os golpes e o encarei.
— Perdemos membros. Perdemos a Liz. Isso não é bem-sucedido.
Lincon suspirou, sem alterar a expressão.
— Todos que entram para a organização sabem o risco que correm. Se saíram naquela missão, sabiam que poderiam não voltar, até mesmo você.
Apertei os punhos
— Então é isso? Apenas aceitar e seguir em frente?
— Se o que vocês foram fazer deu certo, então a morte deles não foi em vão. — Ele me encarou, sério. — E se isso ainda pesa, então faça algo com esse peso. Use-o para ser mais inteligente na próxima vez.
Fiquei em silêncio.
A lógica fria do meu pai nunca foi surpresa para mim. Mas, por mais brutal que fosse, ele estava certo.
Voltei a golpear o saco. Mais alguns minutos, mais alguns socos até meus músculos arderem. Quando finalmente parei, minha respiração estava pesada e meu corpo exausto. Mas, de alguma forma, a mente estava um pouco mais leve.
— Obrigado — murmurei.
Lincon apenas assentiu. Ele nunca foi de palavras sentimentais, e eu nunca esperei isso dele. Mas, por mais que raros, aqueles momentos existiam. E eu sabia que, mesmo de longe, ele sempre esteve por perto.
Comecei a remover as faixas das mãos.
— Vou tirar uma semana de folga.
— Justo. — Ele acenou levemente com a cabeça.
O silêncio voltou a se instalar enquanto eu terminava de me desfazer das faixas. Mas, quando comecei a me levantar, a voz dele me pegou de surpresa.
— Você conseguiu encontrar quem estava procurando?
Meus olhos se estreitaram. Virei-me devagar para encará-lo.
— Como você sabe que estou procurando alguém?
Lincon pegou uma garrafa de água próxima e abriu, olhando para mim com aquele ar impassível.
— O que eu não sei?
Soltei um riso seco e balancei a cabeça.
— É apenas uma garota que conheci há muito tempo.
Ele bebeu um gole de água antes de responder.
— Deve ser importante, já que você a procura há anos.
Dessa vez, eu nem fiquei surpreso. E nem deveria ficar, nada passa despercebido por meu pai. Apenas encarei ele e soltei:
— Então imagino que eu nem precise te dizer que meu voo para a Inglaterra sábado já está marcado.
Lincon sorriu de canto.
— Não.
Ele ajeitou o terno e se virou para sair. Mas, antes de desaparecer pela porta, soltou um simples:
— De nada.
Fiquei parado por um momento, absorvendo aquilo. Sei que não foi por segurar o saco de pancadas.
E então a ficha caiu. Meu pai tinha sido o responsável por encontrá-la.
Desde o início, tudo o que eu tinha era o primeiro nome dela, o nome da mãe e a lembrança de que usavam roupas caras. Informações vagas demais para qualquer pessoa comum. Mas Lincon Salvatore não era uma pessoa comum.
Ele sempre soube de tudo. E, agora, eu também sabia: depois de anos, eu finalmente tinha um caminho até ela.
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Atualizado até capítulo 113
Comments
Celia Teotônio
Ah príncipe Atlas estamos falando de Lincoln Salvatore,no caso seu pai kkkk
você ainda tem dúvidas que ele está sempre a 10 passos a frente, que ele tudo sabe? kkkkkkkkkk
2025-10-25
0
Diana
🫣🫣🫣
2025-07-07
0