Capítulo 5. A batalhadora.

Acostumada a trabalhar desde sempre, quando Patrícia passa no concurso sendo chamada para trabalhar na escolinha do bairro vizinho fica muito feliz. Um emprego seguro, fazendo o que gosta, ensinando crianças pequenas. A escola não é muito perto, precisa caminhar mais de hora e a volta é só subida, com chuva ou sol, mais não reclama, várias crianças vão com ela. Imagina o seu futuro sendo mãe de um pequeno como eles, no caminho parece criança como eles, colhem frutas, andam descalços na chuva, brincam, correm...

A escola rural não tem diretora, apenas duas professoras de manhã e duas a tarde com uma cantineira. O material é escasso, Patrícia é criativa e inventa maneiras divertidas de ensinar. É cansativo, mais se sente realizada profissionalmente embora muitas vezes tenha chegado em casa com dor de cabeça pelo Sol quente que enfrentava e pela correria com os estudos, não tendo tempo, por muitas vezes, nem de se alimentar direito.

É querida por todas as crianças, fica triste quando no final do ano precisa os deixar, se alegra com a nova turma que vai assumir. Se bem que tem contato com a maioria deles no caminho para escola.

Para ter a sua independência financeira chegou a trabalhar em colheita de café e empreitadas na lavoura, estudiosa e esforçada logo conseguiu trabalhar no que queria.

Passou numa prova, entre cinco vagas para o município, em terceiro conseguindo entrar na faculdade de Pedagogia com bolsa integral, tinha apenas o magistério normal. Não foi fácil, era numa cidade distante, tinha que ir nas férias, e em sábados alternados, estudando de manhã a noite, além de trabalhar, estudar e fazer as provas, quando tinha uma folga queria dormir e descansar, mas tinha João ali querendo a sua companhia. Conseguiu se formar com louvor no mesmo ano em que se casou. Talvez pela correria não tenha dado a devida atenção a João não o conhecendo como devia.

Depois que se casou a jornada dupla continua, porém, era agora o trabalho da escola, planos para elaborar, provas para corrigir e a casa, roupa lavada e comida na hora certa, preparar a marmita para João do almoço do dia seguinte, cuidar da horta, sempre gostou de cultivar verduras e legumes. Chega a sentir falta do convívio com a família, da sua mãe e irmãs mais prefere ficar distante, não os envolver em seus problemas.

Podia estar com febre, com a garganta inflamada que não faltava, nem poderia, não tinha quem a substituísse, e não gostava que as suas crianças perdessem o dia e o tempo de irem e terem de voltar.

Trabalhou e economizou até conseguir comprar uma pequena casa com um bom quintal, antes mesmo de namorar, surgiu uma oportunidade e ela aproveitou, seu irmão quis vender pois iria embora para capital lhe fazendo um bom preço pela casa não estar terminada.

Mesmo pagando todas as contas da casa consegue comprar um carro, um fusca marrom. Não sabe dirigir, mais pretende tirar a habilitação o mais rápido possível. João tem moto, mais de nada lhe serve, por muitas vezes pediu que ele fosse a buscar quando vinha da faculdade cansada, subia a pé mais de cinco quilômetros, acabava chegando em casa e ele chegando bem depois dizendo haver confundido as horas ou se distraído notando apenas quando era tarde. Ele sabe dirigir também, mais ela não confia de sair com ele por beber e não ser cuidadoso, já havia acabado com diversas motos participando de trilhas. Não tem habilitação, já começou por duas vezes não passando no psicotécnico desistindo de continuar. Como moram em área rural, ficando a cidade distantes quase dez quilômetros, tirar a habilitação e dirigir tornou-se uma necessidade. Como ele não se esforça ela decide entrar na auto escola indo direto do trabalho e voltando muitas vezes a pé, assim que teve uma noção descia em seu fusca até onde dava para não ter que andar tanto.

Trabalhar nunca a incomodou. Sempre que podia substituía alguma colega, dobrava o turno, ajudava algum vizinho com necessidade. Era no trabalho que se realizava, esquecendo o desabor do casamento e a gravidez que não acontecia.

As vezes João saia com o carro sem falar nada, preocupada ela começa a esconder a chave, deixar na sua bolsa de propósito, ele percebe e reclama. Numa noite ele saiu com o fusca, estourou o pneu e como estava embriagado não o trocou a andar com ele assim mesmo deixando o pneu no aro, não abastecia, só usava e ela tinha que arcar com as despesas dos consertos.

Com muito esforço ela consegue a habilitação, não gosta muito de dirigir, o faz por obrigação e somente quando muito necessário, não sabe porque mais sente muito receio em dirigir, sente-se insegura chegando a suar frio, o que faz João usar mais o carro que ela.

João mexe na cama, não acorda. Parece que ele sente que ela está ali, decidida a dar um basta em tudo. Será que ele sabe que dessa vez exagerou, que passou dos limites. Que chorar, pedir perdão fazer promessas não será o suficiente?

Chega a hora de Patrícia sair para trabalhar e ele continua a dormir profundamente, ela arruma-se, toma um café puro, volta para o quarto e João está do mesmo jeito, dormindo. Ela pensa um pouco, não tem pressa, está decidida, algumas horas não a farão mudar de ideia, quando voltar do trabalho terá a conversa que precisa ter com ele, já adiou por tempo demais, já se anulou por tempo demais.

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