Patricia se lembra do seu casamento. O evitou o mais que pode. Até o curso de noivos foi marcado por João. Que no dia do mesmo pediu a ela que pagasse, pois estava sem dinheiro, um dos sinais que ela deveria ter notado.
João é mais novo dois anos. Começaram a namorar quando ele entrou para o exército. De início isso foi bom. Aparecia uma vez ou duas por semana, ia embora logo, pois tinha horário para voltar, tornando o namoro tranquilo, durante o primeiro ano. Saindo do exército passou a morar com os seus avós, no mesmo bairro, e os avós sendo conhecidos dos seus pais, faz sua mãe querer ainda mais que ae casem. Ele começa a ir diariamente à casa dela. Muitas vezes ela chegava do trabalho cansada, com dor de cabeça e ele ali a sua espera, chegou a ir ao seu trabalho dizendo que ia a acompanhar até em casa. Isso a constrangia por diversas vezes, pois seu trabalho era em uma escola, vivia cercada de crianças, tendo que pedir a ele que não fosse mais. Outro sinal!
Pediu-lhe que viesse apenas um dia no meio da semana, mais ele era insistente. Por sorte ele gostava de conversar com a sua mãe ficando muitas vezes na companhia das duas e de suas irmãs indo embora sem namorarem.
Por mais que João lhe fizesse carinho não lhe despertava o desejo do corpo, o que a fazia pensar que pudesse ter algum problema. E agora, após anos de casamento ele chama-lhe de fria e frígida, dizendo que se casou só para não ficar solteira.
Entre idas e voltas namoraram por mais de três anos. Casamento marcado, o coração de Patrícia fica apertado, João começa a beber. Diz que só bebe socialmente, para comemorar, um socialmente que se torna diário. Fuma também. Sendo esse o motivo do último término, após noivos há alguns meses. João chora, pedi perdão, jura nunca mais beber e que vai largar do cigarro, que ama pelos dois e fará tudo para que ela seja feliz. Promessas!
A pedido da sua mãe, que parecia gostar mais dele do que da filha, ela dá-lhe uma nova oportunidade. E de início, ele parece realmente se esforçar, reforma a casa que ela comprou, vende a sua moto e compra material, não aparece todo o dia, volta a trazer-lhe chocolates, presentes… Um cordeiro!
Patrícia não sabe se foi tola, ou deixou-se iludir. Ele chegava sempre com balas no bolso, lhe dava chocolate, sempre perfumado, disfarçando o cheiro de bebida. Agora ele diz que ela sabia que ele bebia, na época ela não deu atenção, acreditando que cumprira a promessa feita, ou talvez tenha fingido não perceber para evitar discussões. Acreditou nele, pediu para que não bebesse no dia do casamento, que não precisava mais beber, pois se casaria com ele como tanto queria e ele jurou que não o faria, que tinha abandonado o vício.
Não tiveram relações antes do casamento. Ela não conseguiu. Até tentou, talvez se tivessem não teria se casado e ele sabia disso, não a forçando. Ela não conseguia relaxar com os seus carinhos, ficava tensa, nervosa, dizia que queria que fosse especial, no dia e hora certa e a contra gosto ele concordava.
A casa reformada, tudo preparado, o dia chegando e a ansiedade de Patrícia só aumentando. Tudo piora quando há alguns dias do casamento a avó de João vem com uma conversa estranha.
Avó: — Tem certeza que vai mesmo se casar com João? Sabe mesmo como ele é? O conhece bem? Ele é preguiçoso, briguento...
Patrícia estranha, porque só na véspera do casamento a avó vem falar com ela?
João diz que ela fez isso porque brigaram, ela não deixou o seu avô o ajudar com os gastos do casamento emprestando o dinheiro que ele precisava, pedindo a Patrícia para pagar o civil e igreja, pois havia gastado tudo que tinha na reforma. E, mais uma vez é ela quem paga tudo.
Talvez tenha sido ingênua, acreditando que ele a amava e que isso bastava. Foi com certeza compassiva demais. Agora vê com clareza tudo que aconteceu, não pode voltar ao passado e mudar o que foi, não teve voz, deixou ser levada pelo vento, acreditando que a vida era assim mesmo, o amor da sua vida havia se casado e ido embora e quase dez anos após ter o conhecido seu coração ainda se acelera ao pensar nele. Como foi se apaixonar por alguém que nunca lhe deu atenção? Nunca lhe notou? Porque esse sentimento não sai do seu coração? Porque não consegue sentir o mesmo por João? Se ele sente por ela a metade do que ela sente por alguém que nunca sequer lhe tocou talvez ele consiga fazer-lhe feliz. Se fosse ela e o seu amado, se ele lhe tivesse do uma oportunidade não mediria esforços para o fazer feliz.
No dia do casamento tentou relaxar. A igreja estava lotada, não estava nervosa, estava inerte, parecia não ser ela naquele corpo, olhava a sua imagem de noiva refletida no espelho, estava muito bonita, a sua pele morena e cabelos longos e negros destacaram-se com o branco do vestido. Olhava e parecia ser outra pessoa ali. As suas ações eram mecânicas. João a esperava no altar, isso não a emocionou. O padre, um conhecido e amigo da sua irmã trocou o seu nome pelo dela por duas vezes. Mais um sinal!
Tudo passou tão rápido. Como um fresh. A festa, na casa dos seus pais, com muita fartura, muitos conhecidos e familiares. Depois das fotos, parabéns e presentes se separam para conversar com os convidados e amigos individualmente. Após dar uma volta, Patrícia olha para um grupo de rapazes e vê João no meio deles, ele pega uma latinha e bebe. "Deve ser só uma para relaxar! Como eu devo ser virgem e estar nervoso com a noite." Tudo estava na sua frente, não quis ou fingiu não ver, e agora está nessa situação, infeliz, sozinha, decepcionada.
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Atualizado até capítulo 34
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