Capítulo 4. A insistente

Um ano se passa. Patrícia decide que fará de tudo para salvar o seu casamento, fazer João entender que não precisa beber, que podem ainda ser felizes, formar a família com que sempre sonhou, coloca na cabeça que talvez não tenha engravidado ainda porque não é o lar adequado para uma criança. Que talvez precisem se preparar melhor como pais para receberem uma criança no seu lar. Não quer que o seu filho tenha um pai viciado em bebida, quer um pai responsável e presente. O seu objetivo no momento era fazer o possível e impossível para isso acontecer e por muito tempo acreditou que seria capaz de mudar João, que se ele a amava como sempre jurou, por esse amor mudaria.

A primeira estratégia que usa para o fazer deixar o vício é a do sexo, o atendendo sempre que ele quer, compra uma camisola preta sexy, que ele nem percebe que ela vestia, pois, na noite que a usou chegou de madrugada, já na hora de sair para trabalhar. O satisfaz, faz-lhe carinhos, o recebe com um sorriso no rosto, tenta não demonstrar tristeza ou decepção, a maioria das vezes precisa fingir prazer e satisfação, se esforça mesmo, insiste e muito, até consegue que ele fique por mais tempo em casa e que pare de beber por uns três meses, a deixando mais alegre e confiante.

Contudo os amigos de copo são uma tentação, oferecem doses gratuitas, coisa que não fazem aqueles que bebem diariamente com eles, usam de chantagem e insultos "só uma! Pelos bons tempos!" " Está com o freio de mão puxado!?" " A sua mulher é quem manda?!" "Quem é o homem da casa?!"... Essas e muitas outras frases são ouvidas diariamente o fazendo fraquejar e voltar ao vício.

Percebendo que a estratégia de o satisfazer não adiantou, apela pelo contrário, greve de sex0.

Patrícia: — Não tenho feito tudo o que quer? Porque ainda bebe? Não ficarei mais com você se estiver cheirando a bebida! Não mereço isso!

João: — Eu sabia que logo arrumaria uma desculpa para ficar longe de mim. Eu bebo quando e o quanto quiser! Bem que os meus amigos me avisaram! Você quer mandar em mim? É só o que faltava, uma mulher me dizendo o que devo ou não fazer!

Por vários meses o evitou deixando bem claro que ele estava cheirando a álcool e assim não o queria, o que só fazia ele chegar mais tarde e cada vez mais bêbado.

Tenta ser compreensiva e entender o porquê de suas atitudes conversando bastante com ele sobre tudo e gradualmente entrando no assunto da bebida.

Patrícia: — Temos uma casa boa, não nos falta o que comer, cuido de tudo, queremos ter filhos... Porque precisa beber? O que o nosso filho pensará do pai?

João: — Quando engravidar eu paro! Já disse que paro quando eu quiser!

Em um alarme falso de gravidez ele até promete tentar parar, só da boca para fora. Bebe para comemorar, bebe porque não era gravidez bebe porque ela não o ama, na verdade bebe porque gosta.

Até sussurrar no seu ouvido enquanto dormia palavras de incentivo a deixar a bebida e o que ganharia se assim o fizesse ela fez por muitas noites.

 Chorou, implorou, discutiu, gritou, rezou e nada mudou, então calou-se, apática, resignada.

Insiste, e muito de todas as maneiras que conhecia o fazer melhorar, tudo em vão. E o cansaço toma conta de si novamente, a tristeza e desilusão voltam com tudo. Muitas vezes, ele bêbado colocava os dedos nos seus lábios e dizia "Porquê essa tromba!" Lhe fazendo um sorriso forçado no rosto, "melhore essa cara!". Ela já não diz nada. Calada, cansada.

Tudo lhe passa na mente, lhe tirando o sono noite após noite. Recordar dos momentos bons não adianta mais, são tão poucos. Uma festa de aniversário surpresa quando iniciaram o namoro, um urso de pelúcia, a coleção de tartarugas de kinder ovo. Nunca ter lhe agredido fisicamente...

Se lembra que uma vez ele lhe deu de presente uma blusa, quando ela disse que o presente que queria era ele sóbrio rasgou toda a blusa e jogou fora. Algumas semanas depois ela recebe a cobrança da loja da blusa que ele não havia pago.

Quando namoravam ele deu-lhe um rádio relógio, pois ela tinha que acordar cedo, adorou o presente, seria muito útil, teve que devolver, também não havia pago.

Foram tantos os sinais e mesmo assim ela insiste em acreditar que dará certo. Que tudo vai mudar, que ainda há uma chance.

A sua insistência chega ao fim. Não dá mais, está a morrer por dentro, amargurada, desiludida, parece ser dez anos mais velha do que é. Precisa dar um basta. São quatro anos de sofrimento. Não precisa nem merece isso, já suportou demais, por tempo demais.

Tira o gato de seu colo, se levanta respirando fundo, olha as horas, já está amanhecendo, está decidida a ter uma conversa séria com João e será a última, principalmente depois do que ele fez agora. Precisa ser de manhã pois ainda está sóbrio.

Entra, vai para o quarto e se senta ao seu lado na cama esperando que ele acorde por si, fica o observando, ele também parece ter dez anos há mais, barba por fazer, cabelo precisando de um corte, que ela mesma fazia, o vício tirou a sua vivacidade. Chama-lo o faria acordar nervoso então aguarda que acorde.Com um sentimento novo no seu interior, uma centelha de vida, de coragem e uma força que pensou que já não mais existia renasce no seu coração.

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