Patrícia tira o vestido de noiva, toma um banho. Escolheu uma roupa que imaginava melhorar a noite. Queria algo delicado, paciente, pois tinham a noite toda. Botões sendo abertos lentamente, toques suaves, descobertas...
Deixou um vinho na geladeira, frutas e doces, e como João já morava na casa, julgou que ele colocaria uma música romântica, que dançariam, que seria cuidadoso e romântico com ela, que como queria tanto se casar com ela se esforçaria para que tudo fosse o menos doloroso possível. Mero engano!
Praticamente não houve preliminares, a blusa de botões perolados foi arrancada pela cabeça sem nenhum cuidado, ali mesmo na sala. Sem música, sem vinho, sem carinho, como um selvagem lhe arranca as roupas, aperta seus seios, sem delicadeza, voraz."Agora você é minha!" - diz João como se ela fosse um objeto.
Foi tudo muito rápido e doloroso. O seu corpo foi violado, o coração rasgado. Ambos sangrando e muito. Onde foram parar os beijos apaixonados de antes? As promessas de amor? De amar pelos dois? Não tocou os seus lábios, foi direto ao que queria, não conversaram, não fizeram juras ou confissões, não foi feito amor, apenas sexo.
João sai de cima dela e quase que imediatamente dorme ao lado. Ela encolhe-se toda, se sentindo suja, machucada, mal amada. Como dormir? Foi a primeira de muitas noites em claro com os pensamentos fervilhando na sua cabeça, arrependimentos surgidos tarde demais.
Não consegue dormir, sangrando, dolorida, decepcionada. Sua primeira vez foi horrível. Não consegue tirar o lençol sujo, pois ele dorme profundamente. Se levanta, toma um banho, no outro dia viajam cedo para o Rio de Janeiro, para casa do seu irmão, que veio para o casamento e insistiu para que fossem com ele, se ela soubesse como estaria não teria aceitado ir viajar.
Assim que acorda João a quer, ela explica que está sangrando e dolorida, pede que por favor espere parar o sangrando ele aceita sem outra opção.
A viagem foi difícil. Um calor insuportável, desalojaram seu irmão e cunhada que deixaram seu quarto para os recém casados. Todos os dias ele perguntava se ela já estava bem, por umas três noites conseguiu o evitar, até que não teve mais como mentir, ele a levou para o quarto em pleno dia. Ela tensa, com medo de os virem ou ouvirem, não relaxou. Ao menos não foi doloroso.
Sua cunhada os levou para alguns lugares, pois seu irmão estava a trabalhar. Ela amou o mar, a areia fina da praia de Copacabana entre os seus pés, queria ter ficado ali, olhando para imensidão de água a sua frente, entrar nas águas e ir andando até ser encoberta por elas, não parar...
Não havia levado roupa de praia, João não a deixou se molhar.
João saia do lado delas em alguns momentos e voltava mais alegre e descontraído. Numa dessas saídas Patrícia foi atrás e o viu a comprar bebidas alcoólicas e as consumindo, não gostou, mais não tocou no assunto, afinal estavam em lua de mel na casa de outros. Foram as compras, ao shopping, ao metrô, ao museu, ao zoológico e muitos desses passeios foram muitos bons, divertidos e interessantes, ele sempre dando uma saidinha. O calor era demais, precisava de uma "gelada", decidiram voltar antes do previsto, de ônibus. Para surpresa de Patrícia, João diz não ter mais dinheiro (recebeu uma boa quantia no casamento com a venda de pedaços da gravata) e ela teve que pagar as passagens dos dois de volta.
Na época ela ficava chateada com esses acontecimentos, mais deixava de lado, imaginando que tudo mudaria quando estivessem na sua casa, e voltassem a trabalhar, e afinal de contas ela ganhava mais que ele que trabalhava por dia, em serviços braçais. Pensava que quem sabe já estivesse grávida e realizaria o seu sonho de ser mãe.
Em casa, as coisas só pioravam, João não tinha hora para chegar em casa, a cada dia chegava mais tarde e mais bêbado. Passam meses e nada de gravidez, Patrícia começa fingir que dorme quando ele chega, fecha a porta do quarto e fica ali quieta, ouvindo os seus resmungos e palavrões. Tenta por diversas vezes conversar com ele, que joga a culpa nela dizendo que bebe porque ela é fria e frígida que só se casou com ele para não ficar solteira. Depois de um tempo ela até torce para ele beber muito, pois assim cai no sofá e dorme ali mesmo.
Ela não tem coragem de reclamar, ou melhor se abrir com ninguém. Guarda tudo para si, se afasta do convívio com sua família justamente para evitar o assunto.
Passa o primeiro Natal após casada, sozinha, ele saiu com amigos para voltar só no outro dia, ela abre uma garrafa de vinho e toma tudo, na esperança de sentir algo, ou esquecer tudo. A única coisa que sente é náuseas e dor de cabeça. Ele chega com um amigo, vêm a garrafa de vinho vazio e ainda brincam a falar da ressaca que terá por beber aquele vinho, julgando que ela dormia. Saem a deixando sozinha de novo.
Patrícia jura nunca mais beber.
João fica alguns dias sem trabalhar, pede-lhe que pagasse as despesas da casa enquanto ele procura um novo trabalho para quitar as dívidas que fez. Ela assim o faz e ele não volta a pagá-las mais.
João até é trabalhador. Trabalha no que aparece, desde a colheita de café à carpir e roçar, mais não sabe economizar, gasta tudo que ganha, faz rolos com motos e nunca tem dinheiro para nada.
Patrícia tenta encontrar qualidades no seu marido, mais fica cada vez mais difícil, ele não colabora, a deixa sozinha, cheira a cigarro e álcool, age como se fosse solteiro não lhe dando satisfação de nada. Decepcionada com tudo, ela fecha-se, tornando-se triste, uma mulher fechada, decepcionada, carente...Só faz trabalhar, não procura fazer amizades, sempre só.
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Atualizado até capítulo 34
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