Capítulo 04 - Noite da Traição

O caos consumia a alcateia. O som de garras rasgando carne, rosnados ferozes e gritos de dor ecoavam pela noite, misturando-se ao cheiro metálico de sangue e à fumaça das tochas caídas. Leo, Tom e Peter lutavam lado a lado, os corpos marcados por cortes e arranhões, mas a determinação em seus olhos os mantinha de pé.

Leo derrubou um inimigo, desviando de um golpe e cravando suas garras no flanco do traidor. Tom, apesar de mais jovem, mostrava sua coragem ao derrubar um lobo maior que ele, enquanto Peter, ágil e pequeno, usava sua velocidade para confundir seus adversários antes de atacar.

Foi quando Leo a viu. Lia estava no meio da batalha, seus olhos brilhando em fúria enquanto enfrentava dois adversários ao mesmo tempo.

Ela se movia com destreza, golpeando com precisão, mas então um lobo enorme avançou sobre ela. O coração de Leo disparou. Ele se lançou contra o inimigo, derrubando-o no chão antes que pudesse feri-la. Lia virou-se, pronta para continuar lutando, mas Leo segurou seu braço.

— Você precisa tirar as crianças daqui! — ordenou ele, ofegante.

— Eu posso lutar! — retrucou ela, seus olhos selvagens e cheios de fogo.

Leo segurou seu rosto entre as mãos, ignorando o sangue em seus dedos que manchava a pele dela.

— Se você ficar, quem vai protegê-los? Quem vai garantir que haja um futuro para a alcateia?

Lia apertou os lábios, os olhos denunciando sua luta interna. Queria ficar. Queria lutar ao lado dele. Mas sabia que Leo estava certo.

— Me prometa que voltará para mim — sussurrou ela.

Leo não hesitou.

— Farei o meu melhor.

Então ele a beijou, um toque rapido e urgente, desesperado, cheio de promessas silenciosas. Depois, sem olhar para trás, Lia se virou e desapareceu na escuridão, guiando as crianças para um refúgio seguro.

Leo respirou fundo e olhou para Tom e Peter.

— Vamos. Precisamos encontrar o Alfa.

Eles correram pelo campo de batalha, desviando de corpos e chamas. O salão do Alfa era seu destino. Se havia uma chance de restaurar a ordem, ela estaria ali.

Mas quando chegaram, o horror os atingiu como um golpe no peito.

O Alfa jazia no chão, sua pelagem manchada de sangue. E acima dele, de pé como um rei usurpador, estava Darius. Suas garras ainda gotejavam sangue fresco.

Leo sentiu o mundo girar. O Alfa estava morto.

— A partir de agora, sou o novo Alfa! — rugiu Darius, seus olhos selvagens refletindo a luz das tochas. — Quem for leal a mim viverá. Quem me desafiar, morrerá como ele.

O salão estava dividido. Alguns membros do conselho se ajoelhavam diante de Darius, enquanto outros eram dominados à força, seus rostos marcados pelo horror e impotência.

Tom segurou o braço de Leo, os olhos arregalados. Peter tremia ao lado deles.

Leo fechou os punhos. Eles precisavam sair dali.

O Plano de Fuga

A mente de Leo trabalhou rápido. Eles não poderiam lutar contra Darius e seus seguidores sozinhos. A única opção era fugir.

— Sigam minhas ordens sem questionar — sussurrou ele para os irmãos.

Tom assentiu, e Peter fez o mesmo, embora relutante.

Eles começaram a recuar, movendo-se pelas sombras, evitando os olhares dos inimigos. Mas quando estavam perto de escapar, um lobo traidor os viu.

— Ali! Os Herdeiros estão fugindo!

O rugido de Darius cortou o ar.

— Matem o mais velho! Os outros são inúteis sem ele!

Leo rosnou, sabendo que não havia mais opção. Se eles ficassem juntos, morreriam todos.

Ele se virou para Tom e Peter.

— Corram para o mosteiro. Não parem. Não olhem para trás.

— E você?! — perguntou Peter, desesperado.

Leo forçou um sorriso.

— Vou garantir que cheguem lá em segurança.

Então ele se transformou.

Seu lobo branco era imenso, um gigante de pelagem brilhante e olhos amarelos como brasas vivas. Um rugido poderoso saiu de sua garganta, e ele avançou contra os inimigos.

Ele lutou com tudo que tinha. Rasgava e derrubava lobos traidores, mantendo-os afastados de Tom e Peter. Mas seu corpo já estava fraco. Cada golpe drenava sua energia. Cada movimento fazia sua doença cobrar um preço alto.

Seu coração começou a falhar. Sua respiração ficou pesada.

Ele cambaleou.

E foi o suficiente.

Um lobo o atacou pela lateral, suas presas cravando-se em sua garganta. Outro mordeu seu flanco, derrubando-o no chão.

Ele ouviu os gritos de Tom e Peter ao longe, mas não podia mais protegê-los.

Seu corpo cedeu.

O mundo escureceu.

O último pensamento de Leo foi para Lia.

Tom e Peter Conseguem Fugir

Tom arrastou Peter, correndo o mais rápido que podiam. Eles ouviram os uivos de vitória de Darius e souberam que Leo havia caído.

Mas não podiam parar.

A dor os consumia por dentro, mas seguiram em frente.

O mosteiro dos Herdeiros surgiu no horizonte, um santuário de pedra e tradição, onde, quando crianças, haviam sido treinados. Agora, era seu único refúgio.

Os monges abriram os portões, puxando os irmãos para dentro antes de fechá-los rapidamente.

Tom caiu de joelhos, os olhos ardendo de lágrimas e fúria.

Peter segurou o braço do irmão, tremendo.

— O que vamos fazer agora?

Tom cerrou os punhos, a dor transformando-se em algo frio e afiado dentro dele.

— Sobreviver. E um dia, faremos Darius pagar por isso.

A alcateia estava perdida. O Alfa estava morto. Leo estava morto.

Mas eles ainda estavam vivos.

E Darius pagaria.

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