Capítulo 04

— Senhor Fabrizio? — A voz de Otie soou da porta. — A senhorita Sophia foi até Englewood, estacionou em frente a uma das casas e passou as próximas três horas ali. Depois, retornou para seu apartamento às 22h24.

Fechei os olhos por um instante, inspirando fundo. Englewood. O bairro onde Sophia cresceu, um dos mais precários e perigosos de Chicago. Mesmo sabendo que ela conhecia aquelas ruas como a palma da mão, a ideia de tê-la ali sozinha me irritava.

— Alguém a seguiu?

— Não, senhor. Nossa equipe ficou de longe, sem interferir. Ela estava segura o tempo todo.

Assenti, relaxando um pouco. Era um alívio saber que, mesmo de longe, eu ainda conseguia protegê-la. Mesmo quando queria esquecê-la, meu coração teimava em me lembrar que eu a amava.

E esse amor, por mais que eu tentasse sufocar, continuava latejando dentro de mim.

O silêncio da sala pesava sobre mim enquanto Otie aguardava alguma resposta. Eu podia simplesmente dispensá-lo, fingir que essa informação não mexia comigo. Mas era impossível.

— Ela estava sozinha? — minha voz saiu mais baixa do que eu queria.

— Sim. Não encontramos registros de encontros com ninguém fora da casa.Ela ficou dentro da casa durante todo o tempo.

Englewood. O bairro que a moldou, que fez dela a mulher resiliente que eu amava e também o lugar que representava tudo o que ela mais queria esquecer. O que a levou até lá?

Soltei um suspiro cansado e passei a mão pelo rosto.

— Mantenha a equipe de olho. Não interfiram, a menos que ela esteja em perigo.

— Sim, senhor.

Otie saiu, me deixando sozinho com meus próprios pensamentos. Caminhei até o bar e servi um dose de uísque, deixando o líquido dourado deslizar pela garganta enquanto tentava acalmar o nó que se formava em meu peito.

Dois meses. Sessenta dias desde que ela saiu da minha vida. Desde que eu estraguei tudo.

Eu poderia tentar seguir em frente, me convencer de que tudo estava acabado. Mas cada vez que fechava os olhos, era o rosto dela que eu via. O jeito que ela sorria torto quando tentava segurar uma risada, a forma como seus olhos brilhavam quando falava sobre um novo projeto.

E agora? Agora ela estava distante. Distante o suficiente para que eu não soubesse mais como alcançá-la.

Coloquei o copo sobre a mesa com um baque surdo e encarei meu reflexo na janela.

Eu não poderia continuar assim. Se ela não voltaria para mim por vontade própria, então eu precisaria encontrar uma maneira de trazê-la de volta.

Nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

...(...)...

A música alta reverberava no meu peito enquanto eu descia mais um gole da bebida forte. A boate estava lotada, cheia de mulheres e olhares interessados. Mas nenhuma delas era ela.

Encostei no balcão do bar, soltando um suspiro cansado. Algumas mulheres tentaram puxar conversa, sorriram de forma sugestiva, mas eu apenas dispensava com um aceno de cabeça ou um olhar frio. Eu não queria ninguém. Não conseguia sequer fingir interesse.

— Irmão, você está um verdadeiro pé no saco hoje. — A voz de Victtoria soou ao meu lado. Minha irmã mais nova se jogou no banco ao meu lado e pediu um drink para o barman, me analisando com aqueles olhos sagazes. — Não é pra isso que você veio aqui? Se distrair? Ou você só veio encher a cara e pensar na Sophia?

— Foda-se, Vic. — Respondi, girando o copo na mão. — Eu só queria esquecer, mas parece impossível.

Ela arqueou uma sobrancelha e cruzou as pernas, me estudando com um meio sorriso.

— Sabe o que eu acho? Você está facilitando demais para ela.

Virei para encará-la.

— Como assim?

— Sophia sabe que você ainda está atrás dela, que está esperando ela decidir o que quer. Mas e se, por um momento, você parasse?

Eu franzi a testa.

— Parar?

— Sim. Dá um gelo nela. Some. Para de tentar contato, para de facilitar as coisas. Se ela ainda sente algo por você, isso vai fazer ela sentir sua falta. Se perguntar por que você desistiu. E aí, meu irmão… você tem ela de volta no seu jogo.

Fiquei em silêncio, analisando as palavras dela.

Era um jogo perigoso. Mas e se desse certo? Se isso a fizesse perceber que me perder não era uma opção?

Soltei um longo suspiro e encarei meu copo antes de deixá-lo sobre o balcão.

— Talvez você esteja certa, Vic. Talvez seja hora de mudar a estratégia.

A ideia de Victtoria martelava na minha cabeça. Dar um gelo em Sophia.

Se eu não fizesse nada, ela continuaria achando que podia me manter ali, esperando, enquanto decidia se me queria de volta ou não. Mas e se eu sumisse? Se ela começasse a sentir minha ausência?

Virei mais um gole da bebida enquanto olhava ao redor da boate. Mulheres riam, dançavam, algumas me lançavam olhares convidativos. Mas eu não queria ninguém.

— Certo. — Falei, encarando Victtoria. — Vou sumir. Vou fazer ela sentir minha falta.

Minha irmã sorriu, satisfeita.

— Isso aí, irmão. Você precisa lembrar quem você é. Sophia tem que correr atrás dessa vez.

Me levantei do banco, sentindo o álcool começar a aquecer meu corpo.

— Vamos embora.

Victtoria piscou, surpresa.

— Como assim? Você mal chegou.

— Se eu quiser esquecer a Sophia, ficar aqui me afundando em álcool não vai resolver nada. — Passei as mãos pelo rosto e peguei as chaves do carro. — É hora de mudar o jogo.

Ela sorriu, se levantando comigo.

— Agora sim, esse é o meu irmão.

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