Dois meses atrás...
A casa estava em silêncio, mas a tensão entre nós era ensurdecedora. Sophia estava sentada na beira da cama, os olhos arregalados, o rosto pálido, e eu ainda sentia o gosto amargo das palavras que haviam saído da minha boca minutos atrás.
— Você mentiu pra mim esse tempo todo… — A voz dela saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de decepção.
Passei a mão pelo cabelo, sentindo a respiração pesada. Eu sabia que esse momento chegaria, mas nunca imaginei que seria tão doloroso.
— Eu não menti. Eu só… adiei. — Minha tentativa de justificativa soou fraca até para mim mesmo.
Ela riu sem humor, se levantando da cama.
— Adiou? Por dois anos, Fabrizio? Dois anos! Você me fez acreditar que éramos um casal normal, que construímos algo sólido, e agora, na véspera do nosso casamento, você me diz que faz parte da máfia?
Fechei os olhos por um instante, tentando encontrar uma forma de fazê-la entender. Mas quando os abri novamente, vi apenas a mágoa transbordando nos olhos dela.
— Eu precisava te proteger, Sophia. Eu queria te manter longe disso, longe da minha vida antes de você.
Ela cruzou os braços, me olhando com incredulidade.
— Ah, então você decidiu o que eu deveria ou não saber sobre o homem com quem eu ia casar? Você tomou essa decisão sozinho?
Meu peito se apertou, mas minha raiva também fervia. Eu a amava, mas não podia ignorar o fato de que ela também tinha seus segredos.
— E você? — minha voz saiu mais dura do que eu pretendia. — Você me contou apenas dois meses depois de começarmos a namorar que foi subornada para me fazer assinar aquele contrato. Você também mentiu, Sophia. Você também escondeu coisas de mim.
Ela piscou algumas vezes, como se eu tivesse acabado de dar um tapa nela.
— Isso não é a mesma coisa…
— Não? — Cruzei os braços. — Você quer me fazer de vilão agora, mas não esqueça que nós dois temos pecados.
Sophia passou as mãos pelos cabelos, respirando fundo, e quando me olhou novamente, vi a decisão estampada em seu rosto.
— Eu não posso fazer isso, Fabrizio.
Meu coração deu um salto.
— O quê?
— Eu não posso casar com você. — Sua voz tremeu, mas seus olhos estavam firmes. — Eu te amo, mas nós não somos mais os mesmos de quando nos apaixonamos.
Senti meu mundo desabar.
— Sophia…
— Eu vou embora. — Ela pegou sua bolsa, passou por mim sem me tocar e saiu do quarto.
Fiquei ali, parado, ouvindo o som da porta batendo. E foi assim que tudo desmoronou.
A porta se fechou com um estrondo, e o silêncio que se instalou depois foi mais sufocante do que qualquer discussão que já tivéssemos tido. Meus punhos se fecharam ao lado do corpo enquanto minha mente tentava processar o que tinha acabado de acontecer.
Sophia tinha ido embora.
Corri para o andar de baixo, mas quando cheguei à porta, tudo que vi foram as luzes traseiras do carro dela desaparecendo pela rua.
— Merda! — Rosnei, passando a mão pelo rosto.
Meu peito subia e descia em uma respiração irregular. Minha casa, que sempre foi um lar quando ela estava aqui, de repente parecia fria, vazia. Subi as escadas de dois em dois degraus e entrei no quarto que, até poucos minutos atrás, era nosso. O cheiro de Sophia ainda impregnava no ar, misturado ao perfume doce que ela sempre usava. Olhei para o vestido de noiva pendurado no cabide ao lado do espelho e senti um gosto amargo na boca.
O casamento estava acabado.
A raiva borbulhou dentro de mim, misturada ao desespero que eu me recusava a aceitar. Avancei até a mesa de cabeceira e, sem pensar, joguei tudo no chão com um único movimento. O barulho ecoou pelo quarto, mas nada foi suficiente para aliviar o nó no meu peito.
Meu olhar caiu para a aliança que ainda segurava entre os dedos. Um símbolo do que tínhamos construído. Do que eu destruí.
Respirei fundo, lutando contra o impulso de quebrar algo maior. Eu precisava sair dali. Precisava descontar essa porra de raiva de alguma forma.
...⋅•⋅⊰∙∘☽༓☾∘∙⊱⋅•⋅...
A academia particular da minha casa era um dos poucos lugares onde eu conseguia clarear a mente. Mas hoje, nem mesmo o som dos golpes contra o saco de pancadas era o suficiente para me acalmar.
Cada soco que eu desferia era carregado de frustração.
Um para a mentira que escondi.
Outro para a verdade que joguei na cara dela.
Mais um para a forma como tudo desmoronou.
Meu peito subia e descia em respirações pesadas. O suor escorria pela minha testa, mas eu não parava. Não conseguia.
Porque parar significava sentir. Significava encarar o fato de que eu tinha perdido Sophia.
E eu não estava pronto para isso.
Então liguei para a única pessoa que me entendia.
Para minha outra metade.
Para minha melhor amiga e irmã; Nathalie.
E naquela noite eu chorei no colo da minha irmã como um bebê.
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Atualizado até capítulo 26
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