Capítulo 02

Atualmente

A cidade se estendia diante da minha janela panorâmica, os prédios altos e as luzes refletindo o caos que existia dentro de mim. Meus olhos estavam fixos na vista, mas minha mente girava em mil direções diferentes. O trabalho era a única coisa que conseguia me manter ocupado, distraído da única verdade que eu não queria encarar: Sophia ainda estava em cada pensamento meu.

Mordi a ponta da caneta sem perceber, um hábito que nunca tive antes. Foi só quando senti o gosto amargo do metal que me dei conta. Esse era um costume dela.

Soltei um suspiro pesado e joguei a caneta sobre a mesa.

Dois meses.

Dois meses tentando de tudo. Tentando me desculpar, tentando conversar, tentando consertar o que destruí. Mas Sophia não queria. Ela disse que precisava de tempo, e eu estava me forçando a respeitar isso.

O problema é que eu não sabia mais o que fazer com esse tempo.

Esquecer? Não era uma opção.

Seguir em frente? Como, se cada canto da minha vida ainda tinha a marca dela?

Desistir? Nem pensar.

Eu a amava mais do que a mim mesmo. Mas se estar longe era o que ela precisava, eu ia dar isso a ela. Mesmo que isso me destruísse pouco a pouco.

Toc, toc.

Minha secretária interrompeu meus devaneios.

— Entre.

— Senhor Salvatore, a senhorita Hollis está aqui.

Respirei fundo e me endireitei na cadeira.

— Pode mandá-la entrar, Jessie.

— Sim, senhor.

Enquanto ela saía, afrouxei a gravata e me preparei para a reunião. Mas, no fundo, uma parte de mim sabia que, independentemente de quantos contratos eu assinasse hoje, nada preencheria o vazio que Sophia deixou.

A mulher entrou no escritório como se desfilasse em uma passarela. Alta, magra, com cabelos tão loiros que chegavam a refletir a luz do ambiente. Cada traço de seu rosto carregava o peso de inúmeras cirurgias plásticas.

Kethelen Hollis deveria estar na casa dos trinta e poucos anos, mas sua expressão confiante fazia questão de ignorar qualquer vestígio do tempo. Ela vestia um terninho vermelho impecável, que contrastava com o batom ainda mais vibrante. Seus saltos estalaram contra o chão de mármore enquanto caminhava em direção à poltrona diante da minha mesa.

— Fabrizio Salvatore, que prazer encontrá-lo novamente. — Sua voz era aveludada, carregada de segundas intenções. — Obrigada por me receber.

Ela sorriu, um sorriso malicioso, estudado, o tipo de sorriso que muitas mulheres já lançaram na minha direção. Mas eu já tinha aprendido a ignorar esse jogo.

Sem demonstrar qualquer emoção, apenas indiquei a cadeira com um gesto breve.

— Vamos direto ao ponto, Kethelen. O que a traz aqui? — minha voz saiu firme, profissional. Eu não estava com paciência para rodeios.

Ela cruzou as pernas lentamente, inclinando-se um pouco para frente, os olhos brilhando com uma intenção desconhecida.

— Negócios, é claro. Mas quem sabe... um pouco mais do que isso?

Mantive meu rosto impassível, mesmo quando senti a irritação subir. Se ela achava que eu estava interessado em qualquer coisa além daquela reunião, estava muito enganada.

Mantive minha expressão fria enquanto observava Kethelen Hollis jogar seu jogo. Eu já tinha lidado com muitos como ela — pessoas que usavam charme e segundas intenções como armas em uma negociação. Mas eu não estava no clima para esse tipo de coisa.

— Se não for diretamente sobre negócios, Kethelen, então estamos desperdiçando tempo. — Cruzei os dedos sobre a mesa, encarando-a sem qualquer traço de interesse.

Ela sorriu, inclinando a cabeça levemente para o lado.

— Sempre tão direto, Fabrizio. Isso é algo que eu admiro em você.

Revirei os olhos internamente.

— Diga logo o que quer.

Ela descruzou as pernas e se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa, como se estivesse prestes a me contar um segredo importante.

— Tenho uma proposta para você. Uma parceria que pode ser muito lucrativa para ambos.

— Estou ouvindo. — Minha paciência estava no limite, mas continuei a escutá-la.

— Preciso da sua influência em alguns contratos importantes. Em troca, posso te oferecer algo que talvez lhe interesse… — Seus olhos brilharam com malícia.

Soltei um suspiro.

— Eu não faço negócios baseados em insinuações, Kethelen. Se não for algo sólido, essa reunião acabou.

Ela riu baixinho e se recostou na cadeira, cruzando os braços.

— Ah, Fabrizio… tão sério. Mas tudo bem. Vou direto ao ponto. Quero fechar um contrato com a sua empresa para uma nova filial no centro financeiro. Mas, além disso, sei que você está passando por… tempos difíceis.

Meu olhar ficou ainda mais duro.

— Não sei do que você está falando.

— Não se faça de desentendido. Todos sabem que Sophia te deixou. — Ela sorriu como se saboreasse a informação. — E que você está afundado no trabalho, tentando esquecer.

Minhas mãos se fecharam em punhos sob a mesa.

— Cuidado com o que diz, Kethelen.

— Calma… só estou dizendo que, às vezes, um novo começo pode ser uma boa ideia. — Ela se levantou lentamente, deslizando as mãos sobre a mesa, como se quisesse me provocar. — Pense na minha proposta, tanto a profissional quanto… a pessoal.

Ela piscou para mim antes de virar nos saltos e sair da sala.

Fiquei encarando a porta por um longo momento, sentindo a raiva pulsar em minhas têmporas.

Sophia.

A dor da nossa separação ainda estava ali, uma ferida aberta que eu tentava ignorar.

Mas talvez Kethelen estivesse certa sobre uma coisa… talvez estivesse na hora de seguir em frente.

O problema era que eu não sabia se queria.

No final do dia, dirigi até minha cobertura. Eu já não morava mais na casa que um dia foi nossa. Não suportava a ideia de entrar ali e ver cada parte dela naquele lugar. Tudo ainda estava decorado do jeitinho dela, como se ela pudesse voltar a qualquer momento. Mas a realidade era outra.

O closet agora tinha um espaço vazio onde antes estavam as roupas dela. A vaga do carro dela na garagem permanecia intocada. O lado da cama onde ela dormia parecia mais frio a cada noite.

BIIII!

Um som alto de buzina me arrancou bruscamente dos meus pensamentos. Percebi que tinha reduzido a velocidade sem perceber e quase bati no carro à minha frente. Xinguei baixinho e recoloquei as mãos firmemente no volante, tentando afastar a avalanche de memórias que insistiam em me assombrar.

Acelerei o carro e segui para a cobertura, sendo acompanhado de perto pelo veículo dos meus seguranças. Assim que cheguei, entreguei as chaves para o manobrista e subi diretamente para meu apartamento.

Ao abrir a porta, fui recebido pelo silêncio sufocante do lugar. Larguei o paletó no sofá e afrouxei a gravata, soltando um longo suspiro.

Minha vida se resumia a isso agora. Trabalho, solidão e um esforço constante para não olhar para trás.

Mas esquecer Sophia?

Isso parecia impossível.

Mais populares

Comments

Lucineide Tavares

Lucineide Tavares

acho que o Fabrizio deveria dar uma esnobada sabe um gelo na Sophia ficar correndo atrás não tá funcionando, acho que ela deveria sentir que tá a ponto de perdê-lo de vez pra ver se se toca porque acho que ela tá se achando muito pra quem já mentiu pra ele tbm

2025-03-10

1

Alessandra

Alessandra

Autora linda vai no seu tempo mais posta mais capítulos mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais,não demora muito.

2025-03-11

1

Solange Lopes

Solange Lopes

mais mais por favor autora atualiza mais capítulos muito bom

2025-03-10

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!