Acordo em um solavanco, meu coração martelando no peito como se tivesse acabado de despertar de um pesadelo. Um barulho estridente ecoa pelo interior da cabana, algo se arrastando contra a madeira do chão, misturado a um ruído grotesco de algo úmido sendo dilacerado. O cheiro de sangue inunda o ar, denso, metálico, enjoativo.
Minhas pálpebras se abrem devagar, ainda pesadas pela exaustão da noite anterior. Demoro um instante para processar a cena diante de mim. O lobo... aquele lobo enorme que estava ferido e deveria estar deitado, está agora de pé, sua presença dominando o pequeno espaço da cabana. Seu pelo escuro está eriçado, os olhos brilhando com um tom amarelado intenso.
E a meu lado, sobre o chão de madeira, há um javali.
Um javali sem cabeça.
Meus olhos se arregalam quando percebo que o sangue fresco ainda escorre, formando um pequeno lago vermelho abaixo do corpo retorcido. A cena me enjoa, uma onda de repulsa subindo pela minha garganta. O cheiro da morte toma conta do lugar, tornando o ar pesado e difícil de respirar.
— O que você está fazendo?! — Minha voz sai em um grito estrangulado, um misto de raiva e horror.
O lobo apenas vira a cabeça para o lado, confuso, como se não entendesse o motivo da minha reação. Sua boca está limpa, mas os dentes afiados, visíveis por trás dos lábios escuros, denunciam o que ele fez.
Engoliu a cabeça inteira?
Meu estômago se revira ao considerar essa possibilidade. Nenhum animal normal teria uma mordida tão grande. Nenhum lobo que eu conheça teria esse tipo de força.
Eu me afasto, sem me importar com o sangue que agora mancha os meus pés descalços. Meu corpo treme, não só pelo choque, mas pelo calor crescente da marca negra em meu braço. Ela pulsa como se reagisse a algo, mas eu não sei o quê.
— Tire isso daqui! — exijo, apontando para o corpo mutilado.
O lobo não hesita. Com um movimento ágil, ele segura o javali com os dentes e o arrasta para fora, deixando um rastro de sangue pelo caminho.
Eu observo enquanto ele leva a presa para o lado de fora. A cena deveria me assustar mais do que me enfurecer, mas, de alguma forma, estou mais irritada do que com medo.
— Fala sério! — grunho para mim mesma.
Pego um balde de madeira no canto da cabana e saio para buscar água no riacho. Preciso limpar essa bagunça antes que o cheiro impregnado na madeira me deixe doente.
A manhã ainda está fria, o céu encoberto por nuvens cinzentas da tempestade que passou. O solo está molhado, e a grama úmida faz com que meus pés fiquem gelados. Caminho com pressa até a água, ignorando a ardência persistente da marca em meu braço.
Depois de encher o balde, volto para casa e começo a esfregar o chão, tentando ignorar a presença do lobo que agora está sentado do lado de fora, observando-me em silêncio.
Ele não parece ter intenção de ir embora.
Isso me incomoda.
Assim que termino de limpar o chão, cruzo os braços e encaro a fera que ainda está ali, imóvel, como se estivesse me esperando.
— Você já está melhor, vá embora. Não tenho nada para nós dois, e essa carne não vai durar para sempre.
Ele continua me observando, os olhos dourados penetrando os meus como se pudessem enxergar além da superfície. Em seguida, empurra o corpo do javali em minha direção, como se estivesse me oferecendo.
Eu reviro os olhos.
— Eu não preciso disso. — Meu tom é firme, impaciente.
Ele continua me encarando, sem se mover.
A tensão no ar se torna quase palpável. Eu não sei o que fazer com essa criatura. Ele não é um lobo comum, isso é óbvio. Mas o que exatamente ele é? E por que eu sinto essa inquietação dentro de mim sempre que o olho?
A marca no meu braço pulsa novamente, uma pontada de dor ardendo na pele.
Respiro fundo, massageando a têmpora com os dedos.
— Faça o que quiser. Mas não entre na minha casa de novo com um cadáver.
Viro-me e entro na cabana, fechando a porta atrás de mim. Meu corpo inteiro está tenso, e a sensação de que algo está prestes a mudar me incomoda mais do que o cheiro de sangue que ainda paira no ar.
Me jogo sobre a cama e fecho os olhos, tentando ignorar a presença silenciosa do lobo do lado de fora. Mas, no fundo, sei que ele ainda está lá. E que, de alguma forma inexplicável, isso muda tudo. Tudo que tentei evitar.
Rapidamente caio em um cochilo, acordei no susto, precisava repor as forças do meu coração para caso aconteça mais um susto. Mas um sonho escuro, profundo, sensual e quente me toma e eu não consigo acordar.
Não quero.
" Sabrina... preciso de você... "
" Você é a única que acalma meu corpo"
" A única que acalma esse calor indescritível desde o momento que te vi "
" Mas se me enterro em você sou um monstro, e você vai quebrar tão fácil como uma pequena boneca de porcelana, o que posso fazer? "
" O que posso fazer quando não me importo e ainda assim quero me enterrar em você. Será que sou egoísta ou loucamente obcecado pra te foder logo... Sabrina....
É um sussurro acompanhado de algo molhado em minha intimidade. Algo quente e molhado, algo que me tira suspiros indesejados no meio das falas estranhas e daquele calor que se acumula em meu ventre, queimando e descendo, latejando aquele lugar que nunca cogitei me tocar para algo além de me lavar, e que nem nesses momentos me causou isso.
Não sei o que significa, mas é o melhor sonho que já tive, parece tão real, tão caloroso, tão surreal.
Os movimentos que agora aquilo faz é diferente, mais intenso e meu corpo reage tão intenso quanto, sinto-me mexer, meus braços sendo presos, meu pescoço sendo apertado e o meu corpo inteiro tremendo. Uma sensação incrível me tomando.
Me sinto libertar de um peso sem tamanho. Abro os olhos preguiçosamente, um calor insuportável ao meu redor que nunca senti, o suor escorrendo pelo meu corpo e um rastro quente e molhado em minhas coxas.
O lobo não está aqui, e é melhor assim, ficaria com vergonha caso ele visse o que aconteceu com meu corpo, pois imagino que ele sentiria o cheiro em mim agora, porque até eu mesmo sinto, e parece que estou em um Cio.
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Atualizado até capítulo 23
Comments
Marfisa Torres Ferreira
é um sonho ou real mesmo?
2025-03-12
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