Amaldiçoada - Parte Três

Amaldiçoada - Parte Três

Riacho

...AVISO...

Esse livro é continuação de escolhida por eles e fêmea, não é obrigatório ler os outros livros se não quiser, e se quiser maior parte do assunto abordado nesse livro é continuação principal do segundo livro, o que também de qualquer forma não faz tanta diferença.

: Cenas explícitas de sexo e violência. Isso é um romance maduro, puxado para um pouco do dark, apenas. Se é um lobisomen é claro que a relação sexual é bem mais primal, então não esperem misericórdia na hora do sexo. É o que tem que ser e se não gosta, tudo bem.

 : CASAL :

Sabrina

18 anos

Filha de Lumina

lobisomen/bruxa

***

Atlas

25 anos

Um dos filhos de Bea, decidiu se afastar da alcatéia e viver sua vida livremente após alguns desentendimentos com as pessoas de lá.

Alfa puro sangue. ( O que toma a força física e aparência de um lycantropo, um lobo gigante que anda sobre duas patas ou quatro. Quase como a forma de um lobisomen, mas muito mais animalesco e primal.) o único dos seus irmãos com essa aparência.

SABRINA

Vivo e sobrevivo da minha forma, tentando não morrer de fome, mas tudo que consigo fazer é respirar, pois já estou morta por dentro. Mamãe passou meus oito anos de vida falando quão horríveis era os meus olhos, quão horrível era a marca contagiosa que possuo em meu braço, que me foi passada por ela em meu nascimento.

Fui maltratada a vida que estive com ela, mas eu a amava como a criança boba que eu era, mesmo enquanto ela gritava que eu era apenas o fruto de um estupro, e que o homem que ela queria de verdade não foi o que a usou. E que pela desgraça de sorte que ela possuía eu puxei todos os traços do homem que a tocou contra a vontade.

Ela deixou escrito com seu próprio sangue que se eu ficasse próxima de outra pessoa eu passaria aquela marca para ela também, que meu castigo era ficar presa naquela cabana pra sempre, sozinha e amaldiçoada.

— Essa coisa arde as vezes... — falo, olhando pra marca preta que está ficando inchada graças há mais um surto de dor que tive esses dias, minha pele ainda está se recuperando.

Bom, a cada dois dias preciso sair de casa para procurar por ervas, vegetais e frutas, e para minha tristeza esse é mais um dia. Infelizmente, o solo perto da cabana não é tão fértil, então preciso andar um pouco até chegar onde já estão plantadas e prontas para me dar colheita, apesar que uso alguns feitiços básicos para acelerar o processo de produção.

Enquanto acompanho o riacho vejo do outro lado algo incomum. Um homem, muito bonito, aparentemente. Ele quebra alguns troncos com um machado, está sem camisa e seu cabelo longo está preso para trás, apenas para não atrapalhar os movimentos que ele precisa executar.

Por longos minutos eu o observo com admiração, afinal, é a primeira vez que vejo alguém do sexo oposto. Eu gostaria de ver como seu corpo é diferente do meu, desseca-lo e verificar parte por parte do seu corpo até me ver por satisfeita, mas também tenho medo do desconhecido.

— Droga... — resmungo baixinho, quando o vento frio do norte bate em minhas costas, bagunçando meu cabelo e me fazendo quase espirrar.

Falei baixo, mas sua atenção foi atraída, ele me encarou nos olhos, olhos tão amarelos quanto ouro, preenchidos por uma cor da cor do sol. Me escondo atrás da árvore com o coração quase saindo pela boca, minhas bochechas queimando e minhas pernas tremendo enquanto coloco minha cabeça para fora detrás da árvore e sou preenchida pela decepção quando ele não está mais lá.

Eu nunca atravessei pro outro lado do riacho, e a curiosidade quando vejo coisas novas só me faz ficar ainda mais ansiosa, mas essa marca em meu braço não me permite, possivelmente eu estou condenada o suficiente para colocar meus pés do outro lado e morrer de vez.

Prefiro sobreviver por mais um pouco de tempo do que adiantar minha morte.

Me afasto daquele local calmamente, olhando para trás algumas vezes, tentando achá-lo, mas ele realmente se foi há um tempo.

Ajeito a capa em minha cabeça enquanto olho para cima, para uma pequena montanha de pedra qual tenho que escalar antes de chegar ao meu lindo jardim cheio de frutinhas, ervas e coisinhas do tipo.

" Sabrina "

Uma pequena criatura com asas e brilhosa aparece, ela me chama e sorri, fazendo barulhinhos fofos algumas vezes, como um pequeno sininho.

— Olá, Mel. — agarro na primeira pedra que vejo me empurrando para cima pra agarrar a próxima e tirar meus pés do chão.

Odeio escalar essas pedras dos infernos!

— Está tudo bem? Você parece meio desanimada.

" Mamãe está brava comigo... Ela disse que não posso namorar com Diaval "

— Poxa, por que ? Eu não entendo nada de relacionamentos, mas ele parece ser um cara legal.

" Ela disse que ele não é o cara certo pra mim. Que preciso de um homem forte, com boas condições, mas não quero boas condições, isso eu já tenho! Eu quero o homem que amo poxa. "

— Não sei nem o que falar, eu nunca... Nunca cheguei tão perto de outra pessoa como eu além da minha mãe. Tudo que sei é que nenhum lugar me pertence e que preciso morrer nessa floresta, escondida do mundo e de todas as coisas diferentes que tem aqui.

" Isso é triste Sabrina, não deveria ouvi-la, não depois de tudo que ela fez para você."

— Eu sei, mas... Sinto que no fundo ela está realmente certa, preciso ficar aqui, sobreviver e viver da melhor maneira que puder. Meu sangue parece ferver em minhas veias quando penso em ir para fora, quando desejo ver o que tem alem daquele rio. Acho que é um mal sinal.

" Bom, eu acho que você só está nervosa por nunca ter ido lá fora. " Ela ri baixinho enquanto me ver finalmente escalar e ir direto na pequena plantação de legumes e verduras próximo daquele lugar.

As nuvens começam a se fechar assim que começo a coletar as coisas, uma ventania assustadora passando por nós, suspirei, um suspiro frio, e meu corpo tremendo junto.

" Preciso ir, Sabrina! " a fada diz desesperada olhando para cima, gotas grossas começando a cair. Se molhassem sua asa ela estaria perdida.

— Tudo bem, vá antes que chova. — falei pegando tudo rapidamente e voltando para casa.

***

A tempestade parecia querer arrancar o telhado da cabana. A cada trovão, eu me encolhia mais no canto da cama, com as mãos apertando a manta grossa que já não aquecia tanto. As velas tremeluziam, lançando sombras dançantes pelas paredes de madeira, e o som incessante da chuva batendo no telhado se misturava ao ranger das árvores lá fora, como se a floresta inteira estivesse viva, assistindo minha solidão.

Me forcei a ignorar o frio e a ansiedade que crescia no peito. Tempestades sempre me deixaram nervosa, mas naquela noite havia algo diferente no ar. Um peso. Um cheiro metálico que o vento trouxe com força quando abri a janela para espiar a noite.

Mas foi aí que eu o vi.

Um vulto escuro, enorme, caído bem diante da minha porta. Meus olhos demoraram alguns segundos para entender a imagem que se formava na chuva: um lobo. Mas não qualquer lobo.

A criatura era colossal, maior do que qualquer besta que já havia ousado se aproximar daquela parte da floresta. Seu pelo era negro como breu, reluzindo molhado sob os poucos relâmpagos que iluminavam o céu. E mesmo ferido, caído ali, eu podia sentir a imponência que emanava dele. Um alfa. Eu não tinha dúvidas.

Meu coração disparou, e por um breve momento, achei que pararia. Não sabia se era medo... ou fascínio.

— Droga... — sussurrei para mim mesma, observando o sangue que se misturava à lama ao redor dele.

Um rasgo largo atravessava a lateral de sua garganta, mas não era profundo o suficiente para matá-lo de imediato. Sua pata dianteira estava virada de um jeito estranho, como se tivesse sido quebrada ou dilacerada. Era fácil imaginar o cenário: emboscada. Outros lobos, provavelmente... rivais... ou pior, membros da própria alcatéia que haviam se voltado contra ele.

Olhei para minha marca, sentindo a ardência familiar subir pelo braço, como se tentasse me avisar do perigo que estava diante da porta.

— Eu não posso... — murmurei, recuando dois passos.

A última coisa que eu precisava era contato com outro ser vivo. A maldição poderia passar para ele. E pior... se alguém descobrisse que eu o toquei, poderia ser minha sentença final.

Mas... ele ia morrer ali, não ia?

Fechei os olhos, respirei fundo e deixei a lógica tentar me convencer a não agir. Eu devia apenas apagar as velas, me cobrir e deixar que a tempestade fizesse o que quisesse lá fora. Mas havia algo nele... alguma coisa que fez meu sangue borbulhar nas veias, como se fosse proibido deixá-lo ali.

Eu não sabia se era curiosidade... ou solidão.

Peguei a manta mais grossa que tinha, joguei por cima dos ombros e me aproximei devagar da porta, sentindo o coração socar minhas costelas.

Abri só um pouco, deixando a chuva chicotear meu rosto e embaraçar meu cabelo.

— Ei... — chamei, com a voz baixa, sem saber se ele poderia me ouvir em meio ao barulho ensurdecedor da tempestade.

Os olhos dourados dele se abriram devagar, duas fendas brilhantes no escuro, fixando-se em mim com uma intensidade que me fez dar um passo para trás.

Eu deveria fechar a porta.

Eu deveria deixá-lo morrer.

Mas ao invés disso, me ajoelhei na entrada, deixando a água gelada encharcar meu vestido, e estendi a mão, hesitante.

— Eu... eu posso ajudar... — falei, mais para mim mesma do que para ele, porque parte de mim queria acreditar que ainda havia alguma utilidade em mim. Que talvez, só talvez, eu não fosse feita apenas para morrer sozinha naquela cabana.

Ele não rosnou.

Não atacou.

Não recuou.

Apenas me olhou, como se pudesse ver através de tudo o que eu era e, ainda assim, permitisse minha aproximação.

E foi nesse instante que percebi.

O lobo diante da minha porta era o mesmo homem que vi do outro lado do riacho.

Sem camisa.

Quebrando troncos com facilidade absurda.

E eu estava prestes a tocar nele.

A maldição queima em meu braço, pulsando junto com minha decisão, mas eu ignorei a dor, puxando o corpo pesado dele para dentro da cabana, sem me importar mais com as consequências.

Se fosse para morrer... pelo menos não morreria sozinha.

Não sei como consegui arrastá-lo para dentro. Minhas pernas tremiam, meus braços ardiam, e a marca no meu braço pulsava como se estivesse prestes a explodir. Cada toque no pelo encharcado dele fazia meu estômago revirar, não de nojo, mas de medo. Medo de que a maldição saltasse da minha pele para ele.

Fechei a porta com o pé e prendi a respiração. O lobo ocupava quase metade do espaço da cabana. Sua forma era tão descomunal que o colchão estreito no canto jamais comportaria aquele corpo colossal, e por isso só me restou forrar o chão com mantas velhas e peles gastas que guardava para o inverno.

— Isso... vai ter que servir... — murmurei, empurrando um dos cobertores por cima dele, embora a ideia de um alfa desses sentir frio fosse quase engraçada.

Joguei mais lenha na fogueira até ela crepitar forte, tentando afastar a umidade que a tempestade empurrava pelas frestas da madeira.

Ajoelhei ao lado dele com o kit de primeiros socorros que eu mesma montei ao longo dos anos — ervas secas, algumas pastas, bandagens feitas à mão. A garganta dele tinha um rasgo feio, não profundo o suficiente para matá-lo de imediato, mas largo demais para cicatrizar sozinho, ainda mais em plena tempestade e no meio de um exílio.

— Bom... — sussurrei, limpando o sangue ao redor do ferimento com um pano úmido e quente.

Os olhos dourados dele me acompanhavam em cada movimento. Ele não rosnava, não tentava me afastar, mas a desconfiança estava ali. Firme. Brilhando como brasas no escuro.

"Bom, eu também teria... faria de tudo por um casaco de pelos desse", pensei, com ironia, mordendo o canto da boca para não soltar uma risada nervosa.

Passei a pasta cicatrizante com cuidado, sentindo a pele quente sob meus dedos. Havia algo estranho na energia dele... algo que fazia minha própria maldição estremecer, como se reconhecesse que aquilo ali, aquele lobo, não era qualquer criatura. Era puro sangue.

Ele respirou fundo, o focinho tremendo. Por um segundo achei que ele fosse se transformar, talvez revidar meu toque, mas ele apenas fechou os olhos e deixou que eu terminasse.

— Não vou te machucar... — falei baixo, quase como se falasse para mim mesma.

Limpei a pata dianteira, onde o osso parecia desalinhado. Fiz o melhor que pude para imobilizar com tiras e ervas, mas não sou curandeira. Eu só... sobrevivo. E ajudo quando não consigo ignorar.

Depois de mais alguns minutos cuidando dos ferimentos, puxei outro cobertor e cobri o resto do corpo dele, mesmo que fosse inútil. Acho que, no fundo, era só uma desculpa para não parar de olhar.

Ele era lindo até mesmo naquela forma animalesca. Forte, selvagem, com pelos tão negros quanto a noite sem lua, e cicatrizes antigas que cruzavam a lateral do corpo, provas de batalhas que eu jamais entenderia.

Sentei perto da fogueira, abraçando as pernas e encostando o queixo nos joelhos, observando o fogo estalar e o vapor subir da pelagem dele conforme a água evaporava devagar.

Eu devia estar apavorada. E, em partes, estava.

Mas também havia uma paz estranha em ter outro ser vivo ali.

Em não ser só eu e os ecos dos gritos da minha mãe dentro da cabeça.

— Só por hoje... — sussurrei, fechando os olhos. — Amanhã você vai embora.

A marca no meu braço ardeu como se risse de mim.

Porque, no fundo, eu já sabia.

Nada na minha vida acontecia "só por hoje".

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