O encontro que mudou as nossas vidas

—É agora que vocês irão saber como tudo aconteceu!

Marcos saiu de perto há muito tempo, não aguenta ouvir como perdeu a Nena dele pra mim.

—Acho melhor eu contar...você é sem noção!

—Que nada minha feiticeira! Eles não são crianças!

—Rafa...

—Tá bom...você começa, mas eu termino...

......................

Me dedico com mais afinco às minhas pesquisas, discretamente me aproximo de Enzo Paolli, percebi que ele se abre muito comigo, me escuta mais, sou sempre eu quem o acalmo e tento contornar os problemas que ele causa.

Entro na sala dos professores e o encontro retido.

—Enzo...na retenção de novo?

—Fazer o quê, eles me amam professora!

Pego um café pra mim e o entrego um a ele.

—E posso?

—Fica por minha conta!

Ele bebe e percebo o quanto esse menino é bonito ,não parece ter apenas dezesseis anos. Alto e forte, tem um porte atlético,deve ser sua origem italiana,eu nunca vi uma foto do seu pai,deve ser parecido com ele.Rafael Paolli é cuidadoso com sua imagem.

—Quando você vai crescer?

—Já sou bem alto,professora!

—Não debocha de mim, menino - nós rimos - Digo aqui! - coloco o dedo na sua testa.

—Se a senhora soubesse como a minha vida é complicada...

—Quer me contar? -apoio os cotovelos na mesa

—Quero...mas não posso. Desculpa! Não quero envolver a senhora nisso,para o seu bem.

—Eu entendo.

Acabamos nosso café.

—Promete que vai tentar ficar fora de encrencas essa semana? Dá um pouco de paz para nós, vai?

—Só porque a senhora pediu!

—Então está liberado da retenção.

—Mas a diretora disse...

—Eu me entendo com ela depois,pode ir pra casa.

—Valeu professora - ele beija a minha mão de forma demorada - A senhora é muito especial pra mim.

Ele me olha de um jeito,como um homem olha uma mulher,me apresso em puxar a minha mão e fecho meu semblante. Ele nota que não gostei.

—Desculpe...eu já vou indo.

O ignoro e ele sai ,mas depois volta.

—Professora Serena?

—Pois não? - respondo séria

—Me perdoe? Por favor, só não me trate assim...a senhora é a única quem me escuta de verdade,a única quem sabe quem eu sou por dentro.

—Tudo bem,Enzo...mas que não se repita.

—Pode deixar.

Sinto tanta pena desse menino...

Marcos vem chegando mais cedo essa semana, está tentando de todas as formas me reconquistar,mas eu não estou mais disposta. Lutei sozinha por nós dois durante dois anos.

Mas hoje ele não estava, tomei banho e fui para a cozinha,fiz sanduíche de frango e deixei um pronto para ele. Sentei na sala e comecei a corrigir as provas, de tão exausta ,durmo em cima dos papéis,acordo com Marcos me sacudindo.

—Vamos ,Serena! Vai ficar com dor nas costas.

—Antigamente você me pegaria no colo...

—Vamos,estou cansado também,você tem pernas...

O efeito da viagem passou faz tempo e o ogro voltou.

Dormimos cada um virado para um lado,acordamos ao mesmo tempo para seguir nossa massante rotina.

Tomamos café juntos, ele fala das suas investigações contra Rafael Paolli.

—Eu vou pegar esse cara, e quando isso acontecer...o cargo de delegado será meu,independente da nota da prova.

—O filho dele é meu aluno.

—Sério?!Por que nunca me disse isso?!

—Você conversa comigo? Pergunta sobre mim, meu dia, meu trabalho?

Ele respira fundo.

—As suas pesquisas como estão?

—Bem.

—Estou perguntando e você não responde. Sabe o que eu acho? Você quer que eu te trate como no começo do nosso namoro.

—E estou errada?

—Quer sempre atenção...

—Se nós tivéssemos um filho...

Ele se transtorna e berra comigo.

—Para com essa porra de história de filho! Não teremos um filho,merda!

Meus olhos marejam e vou fazer minha higiene antes de sair.Quando volto ele me puxa.

—Desculpa...não queria falar assim. Acho que realmente precisamos de um tempo para nós dois.

—Não existe mais nós dois,Marcos...só coabitamos a mesma casa.

— Não fala assim! - Ele me abraça - Me dá mais uma chance?Olha, vou te levar para jantar hoje em nosso restaurante favorito.

—Tanto faz...- me solto e vou trabalhar.

Como se não bastasse tudo o que estou passando ,o Enzo Paolli apronta na minha aula, e sai quebrando a escola toda,ele me confessa que cansou de ser visto como lixo e que não deseja substituir o pai e o avô na máfia.Tomo a decisão de chamar sua família, é arriscado, mas não tenho outra alternativa.

Marcos conseguiu reservas para jantarmos,me arrumo, ponho um vestido que ele me deu e saio de casa sem nenhuma vontade,dependendo rumo dessa conversa é hoje que coloco um ponto final em nosso casamento.E para minha zero surpresa sou deixada plantada no restaurante.

📲Nena,eu preciso ficar, essa investigação vai ser o meu divisor de águas!

📲Tudo bem ,Marcos!

📲Não me espere para dormir.

📲Eu nunca espero..

📲Serena,deixa de ser infantil !

📲Eu não sou infantil, já fui compreensiva demais,cansei e meu limite chegou!

📲Não fala isso! Vamos conversar quando eu chegar

Desligo o telefone na cara dele,não tem mais conversa, acabou!

Peço a conta da taça de vinho que bebi, vou até meu carro saio dirigindo pela avenida Atlântica,passo em frente ao lugar do nosso primeiro encontro. Saio do carro e vou caminhando, fazendo percurso que fizemos aquela noite. As lágrimas teimavam em rolar pelo meu rosto, meu casamento acabou faz tempo,ele não me ama faz tempo...

Vejo uma movimentação em um PUB,resolvo entrar ,não quero ficar sozinha hoje em casa. Tomar essa decisão de separar não foi fácil e se eu voltar agora, vou acabar desistindo.

Eu não posso mais desistir,eu estou muito infeliz e o Marcos não muda! No bar eu peço uma piña colada, depois mais outra...

De repente um homem alto e lindo vem até mim, o sorriso dele era enigmático e sem vergonha. Os cabelos negros lhe caíam à testa, o olhar cerrado e moldado por grossas sobrancelhas negras lhe conferiam um ar sedutor. A barba bem feita e cerrada, a roupa muito alinhada e elegante,um perfume de nicho aonde a madeira se mistura ao aroma do vinho.As joias douradas, transmitiam poder. Parece que o conheço de algum lugar...

......................

—Como assim, não quer nos substituir na máfia?!

—Eu sou desprezado na escola, as pessoas tem medo de mim!

—Isso é bom,Enzo! É o respeito da nossa família que só cresce.

—Que respeito babbo? Ninguém nos respeita e eles nos odeiam e fingem!

Eu olho para o ragazzo,tinha dor em seu olhar,pela primeira vez em consigo compreendê-lo, mas me mantenho firme.

—Não toque mais nesse assunto, seu futuro está selado. Vá para a escola.

Ele sai furioso e eu vou ter com meu pai, talvez ele escute o que o meu tio Don Leonardo diz e libere o Enzo.

—Minha vontade é de virar a mão na sua cara, Rafael! Como liberar o Enzo?

—Tem o Pietro,ele é melhor preparado.

—Eu sei ,mas mio bambino pode ,ele também é inteligente só precisa de mais atenção e treino!

—Não insista babbo por favor! Isso não vai dar certo!

—Rafael,vai fazer algo que preste e some da minha frente!

Após discutir com o meu pai, vou para a rua,perdemos três containers no porto, cinco soldados meus foram pegos em operação policial e pra completar,o Teco tomou um tiro no ombro nessa mesma operação.

—É para foder com o sujeito... que dia de cão! Eu não deveria ter levantado da cama,papo reto!

Vou até o meu bar na zona sul um dos muitos empreendimentos que tenho para lavagem de dinheiro,converso com o barmam ,quando noto um beldade do outro lado. Uma morena linda,muito bem vestida até para o lugar, não sei se está esperando alguém.

Dou um tempo e observo,ela não parece aguardar ninguém, então vou à caça!

—Pode deixar as bebidas da moça por minha conta.

Ela é séria e olha de cara feia

—Eu posso pagar por minhas bebidas - responde sem me olhar e pega a comanda.

—Ah..já sei..faz o tipo mulher empoderada.

—Eu não faço...eu sou.

Ela me dá as costas para ir e delicadamente pego em eus braço a fazendo voltar.Nos olhamos dentro dos olhos pela primeira vez.

Ela é linda, tem um rosto de menina, um olhar duro e entristecido, a pele morena clara dourada pelo sol, a boca com um batom vermelho suave era um convite para um beijo. Seu perfume era doce e delicado,me dava água boca,seus cabelos cacheados ,volumosos e bem tratados,lhe conferiam um ar selvagem que contrastavam com seu porte mignon delicado,eu pareço ter o dobro do tamanho dela. Era como se eu fosse um lobo com uma presa nas garras.

—Perdoe meus modos, comecei errado. Aceite uma bebida, como forma de reparação por essa grosseria.

Ela reluta, olha para fora, pensa e por fim aceita.

—Tudo bem.

Eu dou um sorriso discreto, ela senta no banco e continua a beber sua piña colada e eu vou de whisky.

—Prazer,Rafael!

Estendo a mão e ela devolve o gesto com as pequenas e macias mãos, que eu beijo.

—Prazer,Serena.

Noto que ela tem uma aliança na mão esquerda, casada com certeza! Algum marido andou vacilando por aí...só tenho algo a dizer...perdeu!

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