Saphira não conseguia deixar de pensar nas palavras do homem da cafeteria enquanto esperava Amara. Ela havia mandado uma mensagem para sua amiga assim que conseguiu ligar o computador e, após uma breve conversa, acertaram que ela chegaria à sua casa em cerca de uma hora. A agonia do dia ainda estava fresca em sua mente, mas, por algum motivo, havia algo reconfortante na ideia de ter Amara ali para ajudá-la a colocar tudo em perspectiva.
A sensação de solidão, que a acompanhava desde que deixara a igreja, era quase palpável. Mas agora, com a promessa de um abraço acolhedor de sua amiga, algo dentro dela começou a mudar. Ela se levantou, caminhando até a cozinha. O cheiro de chocolate quente sempre a fazia se sentir mais em casa, mais segura. Talvez fosse algo sobre a suavidade do aroma ou o calor da bebida reconfortante, mas, naquele momento, era exatamente o que ela precisava.
Colocou o leite na panela e adicionou o cacau em pó com cuidado, mexendo devagar enquanto pensava no que tinha acontecido. Como eu cheguei até aqui? Como ele pôde fazer isso comigo? A mente de Saphira ainda estava tumultuada, mas ela tentou focar na tarefa simples de fazer o chocolate. Era um esforço consciente para se distrair, para não permitir que a tristeza tomasse conta dela antes que sua amiga chegasse.
Após um tempo, o cheiro doce do chocolate invadiu a casa, e Saphira já havia preparado duas grandes xícaras, com o vapor subindo lentamente. Ela se sentou no sofá, ansiosa, mas ao mesmo tempo grata pela presença de Amara. Só de pensar no abraço acolhedor de sua amiga, já sentia um alívio se instalando dentro de si.
Foi então que a porta foi aberta, e, antes mesmo de ver o rosto de Amara, ela a ouviu. A voz doce da amiga ecoou pelo corredor, e Saphira não pôde conter um sorriso pequeno.
— Saphira! — Amara exclamou, correndo para a amiga e a envolvendo em um abraço apertado. — Eu estava tão preocupada, mas agora estou aqui, e vamos passar por isso juntas, ok?
Saphira se entregou ao abraço, sentindo o conforto da amiga envolvendo-a. Amara sempre soubera como fazer com que tudo parecesse mais fácil, mesmo quando o mundo ao redor parecia desabar.
— Obrigada por vir. Eu… não sei o que fazer, Amara — Saphira murmurou, sua voz embargada pela emoção. — Não esperava nada disso.
Amara a olhou com carinho, sentando-se ao lado dela no sofá. Pegou uma das xícaras de chocolate quente e a passou para Saphira.
— Eu sei, querida. Não tem como esperar algo assim, ninguém se prepara para ser deixada no altar. Mas você não está sozinha. Vamos conversar, e você vai ver, vai conseguir superar tudo isso. O tempo vai te ajudar, você vai ver.
Saphira assentiu, pegando a xícara e sentindo o calor do chocolate quente percorrendo sua garganta. Ela se sentia um pouco mais leve agora, o calor da bebida confortando-a de uma maneira simples, mas eficaz.
— Eu me senti… tão humilhada — Saphira começou a falar, com a voz ainda cheia de dor. — Eu realmente pensei que ele era o homem da minha vida. E, de repente, ele diz que não pode, que não pode fazer isso. Como isso aconteceu?
Amara suspirou profundamente, colocando a xícara de volta sobre a mesa de centro e olhando nos olhos da amiga com intensidade.
— Saphira, você tem que entender que a culpa não é sua. Ele tomou uma decisão que não tem nada a ver com o que você é ou o que você fez. As pessoas são imprevisíveis, e não podemos controlar as escolhas delas. Mas o que você pode fazer é aprender com isso e seguir em frente. Você é mais forte do que pensa. E quem sabe o que está reservado para o futuro? Só o tempo vai te mostrar.
Saphira deu um gole em sua bebida e deixou as palavras de Amara se infiltrarem em sua mente. O alívio não foi instantâneo, mas algo dentro dela se moveu. A ideia de seguir em frente ainda parecia distante, mas as palavras de sua amiga começaram a acender uma pequena chama de esperança.
— Eu sei, Amara… mas me sinto tão perdida. Eu não sei por onde começar.
Amara pegou a mão de Saphira e a apertou, com um sorriso suave.
— Você começa por aqui. Começa ouvindo seu coração, sem pressa. O mundo não vai acabar por causa disso. Você é uma mulher incrível, e o que aconteceu não muda quem você é. Às vezes, as coisas não acontecem como planejamos, mas isso não quer dizer que o melhor não esteja por vir.
Saphira olhou para Amara e sentiu uma onda de gratidão. Mas, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ela sentiu a necessidade de compartilhar algo. Algo que não conseguia tirar da cabeça desde a cafeteria.
— Tem mais uma coisa… Eu não contei pra você sobre o homem que me ajudou na cafeteria — começou a falar, hesitante.
Amara a olhou curiosa, interessada.
— O que aconteceu?
Saphira sorriu de leve, lembrando-se da conversa.
— Eu estava ali, sozinha, quando um homem se aproximou. Ele notou que eu estava desolada, vestida de noiva, e me trouxe um chocolate quente. Ele se sentou comigo e, antes que eu percebesse, começou a me dar conselhos. Ele disse que eu precisava lembrar que o valor de quem eu sou não depende de quem me abandonou. Algo assim… Foi como uma luz em meio à escuridão, sabe?
Amara sorriu, seu olhar cheio de compreensão.
— Parece que esse homem te deu algo mais do que um chocolate quente, né? Talvez ele tenha sido uma pequena intervenção do destino. Às vezes, as pessoas cruzam o nosso caminho na hora certa, apenas para nos lembrar que a vida tem outras surpresas reservadas.
Saphira assentiu, um leve sorriso formando-se em seus lábios. Ela não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas sentia que, talvez, esse encontro fosse um sinal de que ela estava começando a dar os primeiros passos em direção a uma nova vida.
— Eu não sei o que vai acontecer, Amara, mas acho que estou começando a entender o que ele quis dizer.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
thiago fernandes
história muito boa , parabéns autora
2025-05-04
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