Capítulo 2

Tinha se passado algumas horas desde que ela chegou em casa. Já estava anoitecendo, e o céu carregava o tom melancólico de um azul profundo. Ainda vestida de noiva, com o vestido pesado e levemente amarrotado, ela cruzou a sala sem dizer uma palavra, sentindo a exaustão emocional a consumindo.

A maquiagem estava borrada, resultado das lágrimas que insistiram em cair durante o caminho de volta. Cada passo que dava até o quarto parecia mais difícil, como se o peso das palavras que ouvira no altar ainda estivesse cravado em seus ombros.

No banheiro, ela parou em frente ao espelho. A imagem refletida era um misto de fragilidade e desolação. Seus olhos estavam vermelhos, e o penteado cuidadosamente elaborado para o grande dia começava a se desfazer em fios soltos. Com movimentos lentos, desabotoou o vestido, deixando-o deslizar até o chão. Ficou ali por um momento, apenas encarando o vazio, antes de abrir o chuveiro.

A água muito quente escorria por sua pele, trazendo uma sensação de conforto que contrastava com o caos dentro de sua mente. Ela fechou os olhos, deixando o calor envolvê-la, enquanto tentava, sem sucesso, apagar as palavras dele de sua memória.

Já deitada na cama, o quarto estava completamente escuro, graças à cortina blackout. Naquela penumbra absoluta, ela desejava que o sono a envolvesse rapidamente, levando embora a dor e o turbilhão de pensamentos. A solidão parecia quase insuportável, mas ao mesmo tempo, era o único espaço onde ela podia se sentir segura.

O silêncio era como um bálsamo, permitindo que sua mente descansasse. Finalmente, ela conseguiu relaxar, sentindo-se, por um breve momento, como se um peso estivesse sendo retirado de seus ombros. Mas, mesmo na escuridão, algo persistia. Uma inquietação que crescia, uma sensação de que aquilo era apenas o começo de algo muito maior.

Deitada ali, Saphira sentiu sua mente vagar novamente. As cenas do dia se repetiam como um filme que ela não conseguia desligar. As palavras dele no altar, frias e definitivas, ecoavam em sua mente: "Eu não posso fazer isso." Como aquilo havia acontecido? Ela revisitou cada momento, procurando um sinal que pudesse ter previsto, algo que explicasse a reviravolta que partiu seu coração e despedaçou seus sonhos.

Enquanto mergulhava nessas lembranças dolorosas, percebeu que havia esquecido completamente de seu celular. Onde ele estaria? Depois de tanto tempo, se deu conta de que, na confusão após sair da igreja, havia entregado o aparelho para Amara, sua melhor amiga. Amara, sempre tão atenta, sabia o que fazer quando Saphira não conseguia pensar em nada.

Com um suspiro profundo, Saphira se levantou da cama. Seus pés tocaram o chão frio, e um arrepio percorreu seu corpo. O quarto estava abafado, e ela sentiu a necessidade de quebrar o ar pesado ao seu redor. Caminhou até o ventilador que ficava no canto do quarto, ligando-o no modo mais alto. O som suave e rítmico das hélices se espalhou pelo ambiente, trazendo um alívio imediato.

De volta à tarefa, ela cruzou o quarto até a escrivaninha, onde o computador repousava. Ligou-o e esperou enquanto a máquina despertava lentamente. O som do ventilador e o leve ruído do computador preenchiam o silêncio que antes parecia opressor.

Enquanto aguardava, sua mente foi puxada para um momento peculiar que havia acontecido algumas horas antes. Após sair da igreja, ainda vestida de noiva, Saphira se refugiou em uma cafeteria. Precisava de um momento sozinha, longe de todos os olhares de pena e das palavras de consolo que apenas tornavam a dor mais real.

Ela se sentou em uma mesa afastada, abraçada pela melancolia, enquanto o aroma de café fresco e chocolate quente preenchia o ar. Não tinha intenção de falar com ninguém, mas um homem, que aparentemente notou seu estado, interrompeu sua solidão.

Ele apareceu com uma xícara de chocolate quente nas mãos. Colocou-a suavemente na mesa, sem pedir permissão, e sentou-se de frente para ela. Seu gesto foi tão inesperado que Saphira sequer teve forças para protestar.

“Às vezes, a vida nos empurra para novos caminhos quando menos esperamos”, disse ele, com um sorriso tranquilo e olhos que transmitiam empatia.

Ela não soube explicar por que, mas aquelas palavras, vindas de um estranho, pareceram mais genuínas e reconfortantes do que tudo o que ouvira durante o dia. Ele não tentou minimizá-la, não a julgou e não fez perguntas incômodas. Apenas ofereceu presença, algo de que ela precisava mais do que podia admitir.

Agora, sentada diante do computador, o rosto dele voltou à sua mente. Não sabia seu nome ou de onde ele vinha, mas aquele momento ficou gravado em sua memória. Ela balançou a cabeça, afastando o pensamento, enquanto o computador finalmente carregava.

Saphira abriu o aplicativo para enviar uma mensagem a Amara. Precisava saber onde estava seu celular – e, mais do que isso, precisava ouvir a voz de sua melhor amiga, aquela que sempre tinha as palavras certas para trazer conforto e clareza.

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Comments

thiago fernandes

thiago fernandes

que história incrível,parabéns autora vc e linda

2025-05-02

1

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