Capítulo 1

"Foi ali que tudo começou a desmoronar, o início da sua pior fase."

O sol brilhava intensamente no céu de Londres, mas o coração de Saphira estava envolto em sombras. Vestida com um deslumbrante vestido de noiva, ela aguardava ansiosamente no altar, cercada por amigos e familiares que sorriam e sussurravam palavras de encorajamento. Mas, à medida que os minutos se arrastavam, a ansiedade se transformou em um frio gélido na espinha, e ela começou a pensar que talvez não devesse ter tido a ideia de esperar Valentim no altar.

Quando finalmente ele surgiu, os olhos de Saphira brilharam de esperança. Sentiu que finalmente seu casamento iria começar, que realmente o que ela pensava sobre seu relacionamento estar na melhor fase era verdade. Contudo, o que deveria ser um momento de alegria se transformou em pesadelo.

— Não posso, eu não posso fazer isso — disse ele, a voz firme, mas cheia de dor. As palavras ecoaram na igreja como um trovão, quebrando o encanto e deixando Saphira paralisada.

O murmúrio da multidão se tornou um zumbido distante enquanto a realidade despedaçava suas expectativas. Ela sentiu o mundo desmoronar ao seu redor, cada olhar penetrante como facadas em seu coração. Ficou ali, imóvel, enquanto a tristeza a envolvia como um manto pesado. Aquele dia, que deveria ser o mais feliz da sua vida, se tornara um abismo profundo.

Segurando-se para não deixar nenhuma lágrima rolar por seu rosto, inclinou-se um pouco e agarrou a saia do vestido de noiva com ambas as mãos, levantando o tecido delicado para não tropeçar. Então começou a correr para fora da igreja, escutando apenas a voz de sua melhor amiga atrás dela, pedindo que parasse.

Continuou a correr por um bom tempo pela cidade e, agora, estava andando sem rumo. Já tinha despistado sua amiga algumas quadras atrás. Caminhando e pensando em todo o tempo que viveu nesse relacionamento para simplesmente acabar de uma hora para outra, começou a se perguntar onde tinha errado para chegar a esse dia. O dia que deveria ser o mais feliz de sua vida agora era um pesadelo. Será que algum dia conseguiria se recuperar desse acontecimento? Não, nunca vai se recuperar. E também nunca mais irá acreditar em alguém.

— Nunca mais serei feita de boba — disse, com o ódio tomando conta de si.

Cansada de andar sem rumo, mas também não querendo ir para casa e já sentindo o vento frio chicotear seu rosto, Saphira caminhava com a dor parecendo escorrer pelo peito a cada passo. As lágrimas que segurava ainda estavam presas, apenas desejando desaparecer.

Ao virar uma esquina, avistou uma pequena cafeteria. O cheiro de café e chocolate quente invadiu suas narinas, oferecendo um conforto inesperado. Olhou para o vestido, agora sujo nas bordas, enroscado em gravetos e folhas.

Inclinou-se para frente, deu algumas palmadas na saia, torcendo para que pelo menos a maior parte das folhas e gravetos desgrudasse do tecido. Assim que terminou, sem pensar muito, foi até a cafeteria. Porém, ao chegar à porta, lembrou-se de que estava sem dinheiro ou cartão. Decepcionada por não poder comprar nada, dirigiu-se a uma das mesas do lado de fora. Recostou-se na cadeira, tentando relaxar os músculos tensos. Seus olhos ainda estavam secos, mas ela sentia o peso das lágrimas prestes a cair.

Perdida em pensamentos, foi trazida de volta à realidade ao perceber que um rapaz, com um sorriso simpático, se aproximou, colocando uma xícara de chocolate quente na mesa. Ele arrastou a xícara em sua direção com um gesto gentil.

— Eu não pedi isso, moço — disse, com a voz baixa, quase inaudível.

— Eu sei, eu pedi para você — ele sorriu e, sem esperar permissão, sentou-se na cadeira em frente a ela.

— Obrigada — disse, pensando seriamente se deveria aceitar.

— De nada! Dia difícil?

— Dia péssimo. Aquele dia em que tudo de ruim acontece. Quando você é traída ou abandonada no altar — disse, dando um gole no chocolate quente, que lhe causou um conforto tão grande que não percebeu as lágrimas começando a rolar por seu rosto.

— Ele ou ela deve ser um babaca. — Com um olhar meigo, sincero, e um sorriso gentil, ele colocou sua mão sobre a dela, que estava na mesa. — Permita-se sentir a dor, mas lembre-se de que o valor de quem você é não depende de quem te abandonou. O tempo curará as feridas, e você encontrará sua força novamente.

As palavras dele flutuaram no ar como uma brisa suave em um dia abafado. Algo na voz daquele homem transparecia uma sabedoria tranquila. Saphira respirou fundo, permitindo que aquelas palavras penetrassem em sua mente.

A tristeza que antes a envolvia começou a se dissipar lentamente, como névoa sendo afastada pelo sol.

— Às vezes, a vida nos empurra para novos caminhos quando menos esperamos — ele disse, com uma calma que parecia vinda de alguém que já havia vivido muito.

— Obrigada — disse Saphira, sentindo que algo dentro dela começava a se transformar. O peso em seu coração aliviava-se gradualmente, dando espaço para um novo começo.

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Comments

thiago fernandes

thiago fernandes

uau um bom começo, parabéns autora

2025-04-28

2

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