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5 - Uma Oferta Irrecusável

A chuva castigava as janelas do solar dos Raventhorn, as gotas pesadas escorrendo pelo vidro como lágrimas silenciosas. O vento uivava entre as árvores retorcidas do jardim, e trovões distantes rugiam como bestas furiosas no céu. Dentro do escritório do duque, a atmosfera era tão tempestuosa quanto a noite lá fora.

Luca Verendale, o Duque de Raventhorn, permanecia de pé ao lado da grande lareira de mármore negro, os olhos fixos na dança das chamas. Sua mandíbula estava tensa, os dedos crispados ao redor do cálice de conhaque que ele sequer havia tocado. Seu corpo estava rígido, sua mente fervilhava. O nome que ecoava em seus pensamentos era uma afronta ao que lhe restava de dignidade.

Seraphina Valtieri.

A proposta absurda de seu pai ainda latejava dentro dele como um veneno lento. Casar-se novamente? Com uma mulher que sequer conhecia? Com aquela que a sociedade apelidava cruelmente de A Berração de Valmont? A ideia era tão ultrajante que ele quase podia sentir o gosto amargo da humilhação antes mesmo que se concretizasse.

Mas Luca não estava sozinho naquela sala. Diante dele, sentado confortavelmente em uma das poltronas de couro, estava o Barão Valtieri. Um homem corpulento de expressão calculista, com cabelos grisalhos penteados para trás e olhos astutos que observavam o duque como um caçador que já sabia que sua presa não tinha para onde fugir.

O barão girou o conhaque em seu cálice com movimentos lentos e precisos, como se estivesse apreciando a cena.

— Recusar? — ele repetiu, arqueando uma sobrancelha com uma calma provocativa. — Imagino que não tenha avaliado bem sua posição, Vossa Graça.

Luca sentiu um músculo se contrair em sua mandíbula.

— Minha posição é clara. Não desejo esse casamento.

O barão inclinou-se levemente para a frente, apoiando o braço no descanso da poltrona.

— Ah, sim. O desejo. Um luxo que poucos de nossa classe podem se dar. Mas vamos falar de algo mais concreto… necessidade.

O duque sentiu o sangue ferver. Ele odiava aquele tom condescendente, odiava a forma como aquele homem falava como se já tivesse vencido.

— Meu ducado não precisa de esmolas — retrucou, a voz baixa, mas carregada de fúria contida.

O barão sorriu, quase divertido.

— Não, claro que não. Mas precisa de ouro. Precisa de recursos. Precisa de uma herdeira para garantir que o nome Verendale não desapareça em meio a dívidas e escândalos.

Luca inspirou fundo, tentando manter a compostura. Ele sabia que o barão estava certo. Seu pai já lhe falara sobre a situação alarmante das finanças da família. O ducado, uma vez próspero, estava agora à beira do colapso. Eleanor trouxera consigo um dote considerável quando se casaram, mas, ao longo dos anos, os custos de manter uma propriedade tão vasta, a administração dos feudos e as pressões da alta sociedade haviam lentamente drenado os cofres.

E agora, a única solução apresentada era essa: um casamento arranjado.

— Há outras formas de recuperar Raventhorn — Luca disse, embora soubesse que suas palavras não tinham peso suficiente.

O barão soltou uma risada baixa, inclinando a cabeça de lado como se ouvisse uma criança ingênua falar sobre contos de fadas.

— Sim, claro. Poderia buscar empréstimos, hipotecar propriedades, vender terras. Poderia passar anos tentando restaurar sua fortuna, enquanto sua posição enfraquece e seus inimigos se aproveitam disso. Ou… poderia aceitar a solução que já está diante de você.

O silêncio que se seguiu foi denso, cortado apenas pelo estalar das brasas na lareira. Luca olhava fixamente para as chamas, como se procurasse nelas alguma resposta, alguma alternativa que não o acorrentasse a um destino que ele não escolhera.

Mas então, o barão jogou sua cartada final.

— Além disso, duque… já assinamos o contrato. O casamento está marcado.

Luca ergueu o olhar bruscamente, seu coração parando por um instante antes de voltar a bater com força.

— O quê?

O barão sorriu, satisfeito com a reação.

— Meu advogado e seu pai finalizaram os termos esta manhã. Os proclamas serão anunciados em breve. Em menos de um mês, Seraphina será sua esposa.

A respiração de Luca ficou pesada, como se o ar tivesse se tornado espesso demais para ser inalado. Ele fechou os olhos por um instante, tentando conter a raiva e a frustração que ameaçavam transbordar.

Ele fora derrotado antes mesmo de entrar na batalha.

Seu destino estava selado.

Seraphina Valtieri seria sua esposa.

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