Destino

Voltamos para o Rio imediatamente, chegamos no início da manhã na capital. Deixamos a Carol em casa, e seguimos para Levy Gasparian, Samuca e Pedro já haviam seguido para lá. Aninha deixa a Tati com os meus sobrinhos menores na mansão junto com as babás e segue conosco.

Meu pai está calado, com olhos vermelhos, cabeça encostada na janela de avião e de mãos dadas à minha mãe o tempo todo.

Ninguém fala nada,não sabemos como agir nessa hora.Assim que chegamos na fazenda, minha mãe nos deixa junto com a Penha e segue para a casa do tio Zeca.

—Como aconteceu,tia Penha ?

—Ah Teteu...- ela seca as lágrimas - Ele estava aqui ontem com todo mundo, me pediu pra fazer galinhada,brincou, contou as histórias do passado,de quando pegava seu Tomás pela fazenda sem roupa, estava feliz que os irmãos estavam aqui...parecia uma despedida.Ele fez o filho, o Jorginho, ligar para o seu Tomás só para rir da cara dele.

Escutamos cheios de lágrimas nos olhos.

—Foi pra casa feliz com a dona Bina,ela disse que ele a abraçou,beijou e dormiu.De madrugada ela o chamou para tomar o remédio e ele não acordou.

Tio Zeca era o tio favorito do meu pai,que o tinha como pai. Os dois viviam implicando um com o outro,mas se adoravam.

Ele não estava bem de saúde, vinha lutando contra as sequelas de um AVC. Mas nunca esperamos perder alguém quem amamos.

No dia seguinte, vamos para o enterro no cemitério municipal. Quando o meu pai era o prefeito, mandou reformar o lugar e construiu um mausoléu para a família Leal. Tio Zeca foi sepultado ao lado dos meus bisavós,da primeira esposa e de dois irmãos mais velhos.

—Vó, vamos para o Rio.

—Não Marina,já me acostumei com a vida no campo.

— Mamãe por favor , a senhora vai ficar melhor lá e poderei lhe dar mais atenção. Aqui eu ficarei preocupada, não tem porque você ficar preocupada,Adriana. Eu estou muito bem aqui, a Cora voltou a morar na fazenda e eu tenho Penha,o Dirceu,tem gente aqui para fazer companhia.

— Deixa ela aqui, dona Adriana. - que é a mãe da Marina - Eu vou cuidar dela,agora que não tenho mais o meu pai - Jorginho fica emocionado - Eu eu vou ter um pouquinho dele através da dona Bina.

—Oh Jorginho, você é um filho para mim, obrigada! Nós vamos superar tudo isso juntos.

Ficamos aquela semana na fazenda para o meu pai dar apoio ao primo Jorginho e a vovó Cora também, que estava muito sentida com a morte do irmão.

—Vamos dar uma cavalgada com o pai, Teteu?

Vamos ao haras,selamos os cavalos e saímos pela fazenda, em silêncio ,passamos pelo rio, cafezal, pomares, fomos até a cachoeira e na volta passamos na antiga casa da bisa.

Amarramos os cavalos e sento com ele no alpendre.

—Tenho boas lembranças aqui, a primeira vez que eu vi a sua bisavó ela estava sentada numa cadeira de balanço debaixo daquela árvore.

—A famosa árvore, não é?

— É a minha árvore e a da sua mãe ,mas que o Pedro roubou!

—A Bia também roubou.

— Como assim a Bia ? - meu pai chega a ficar pálido

—O Daniel e ela ficam se beijando debaixo dessa árvore também, até colocaram um coração com a inicial deles.

Meu pai vai até a árvore e vê o desenho feito por eles, mas dá um sorriso.

— Ela vai ficando aí... geração por geração... foi minha, foi do meu filho e agora da minha neta. Quando ela morrer ,Mateus, fala para seus irmãos que eu quero que tire o tronco daqui e coloque lá na sede.

— Ai pai ,que história estranha, para com isso!

— É a lei da vida, ninguém fica para semente,nem as árvores, nem os homens...

Voltamos a olhar para a paisagem.

—Nós somos eternos nas memórias das pessoas que nos amam, nas boas atitudes que nós tomamos, no legado que deixamos, na história que escrevemos...como o tio Zeca.

Eu me viro pata ele.

—Foi aqui onde ele me pegou pe .la..do pela primeira vez com a b..u .n.. da de fora, quase que me largou o tiro para cima achando que eu era algum invasor nas terras.

Começo a rir

— Depois, foi lá no rio, ele chegou aqui reclamando com a minha mãe que eu vivia sem roupas. Depois eu comprei a fazenda, e em cada canto dessas terras, sua mãe e eu...

— Tá pai , não precisa o senhor contar detalhes.

— No cafezal, no pomar, nos estábulos ,nos celeiros...

— Pai ,eu disse que não precisava contar detalhes! Eu já sei de tudo isso. - fico sem graça só de pensar dos dois em intimidade.

— Deixa eu te contar, porque o tio Zeca não vai mais poder fazer isso...

Meu pai começou, a chorar como eu nunca tinha visto antes ele soluçava tentando secar de lágrimas mas outras surgiam. Eu o abraço forte, e ele encosta a cabeça em mim, naquele momento eu me senti o pai e ele era meu filho. Não falei mais nada, deixei ele desabafar, meu pai não tinha chorado muito ainda.

Depois que ele se recompõe e sorri para mim.

—Vamos, sua mãe deve estar nos esperando para jantar.

Pegamos os cavalos e voltamos para sede. Entendi que aquele choro todo era cura, o meu pai mudou, já estava mais animado e sorria melhor. Ele ainda não tinha sentido de verdade a dor dele, e agora que ele colocou para fora, estava pronto para continuar a vida.Tudo tem um tempo para ser vivido, até mesmo o luto.

Voltamos para a capital e continuamos as nossas vidas, duas semanas depois ,foi a festa de 15 anos da Carol . Foi simplesmente incrível ! Dançamos juntos depois dela dançar com o pai, todos nos aplaudem, abrimos a pista de dança, eu olhava para ela tão bonita e sorridente.

— Está todo mundo dizendo que um dia nós vamos nos casar e teremos uma festa de casamento tão linda quanto essa.

— É o que eu espero, Mateus.Mas nós somos tão novos,tenho medo de não chegarmos até lá. Será que o nosso amor resistirá até lá?

— Faremos de tudo para que isso aconteça ,mas está nas mãos de Deus, não podemos controlar o destino. Então vamos apenas viver o agora!

Trocamos um beijo apaixonado enquanto todos os nossos amigos começavam a zoar. Pedro chega perto e me dá um tapa no pescoço.

— Perdeu a vergonha na cara né? Beijando a menina na frente de todo mundo !

—Ué, mas ele é minha namorada mesmo ,não é nada escondido!

—Atrás de toda menina tem um pai, e nenhum pai merece ver filha beijando na boca, Mateus! Isso dói!

A Carol começa a rir e me abraça, olho para o lado e vejo o Lipe dançando com a Bia.

—O que foi? - ela pergunta

—O Lipe gosta da Bia.

—Hum...a Bia só tem olhos para o Daniel e ela vê o Lipe apenas como primo.

—Eu sei...não queria que ele sofresse.

—Tem coisas que são inevitáveis.Nunca sabemos o que nos aguarda.

—Tem razão, só espero que o nosso destino não nos pregue peças. - digo acariciando seu rosto lindamente maquiado, seus cabelos estavam ornados com uma coroa brilhante. Beijo sua mão e continuamos e dançar.

É...tem coisas que são inevitáveis, o destino é imprevisível!

...❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️...

Em mais dois capítulos o tempo passará...e o destino mudará as peças de lugar.

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Comments

Lu Fernandes

Lu Fernandes

e a Cidinha cadê ela ,sumiu,aparece essa Carol do nada

2025-03-17

5

Kely Cardoso

Kely Cardoso

capítulo triste e emocionante ao mesmo tempo. Eu , assim como Teteu, fiquei tensa com as palavras de Tomás.

2025-03-17

2

Simone Silva

Simone Silva

parabéns autora pelo seu livro ❤️ por favor colocar mais capítulos quando você puder ❤️ ❤️ ❤️

2025-03-17

2

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