A escola vai bem, eu consegui ser o primeiro da classe esse bimestre, tirei as maiores notas e meus pais só faltam explodir de orgulho. Me dediquei porque eu se eu vacilar, acabou futebol!
O clube me corta, mas os meus pais me cortam antes.Eles já disseram que estudo é primordial até mesmo por eu aprender a gerenciar minha carreira no futuro e depois que tudo passar, porque carreira de jogador de futebol é curta ,eu saberei ter outras formas de trabalhar e administrar os frutos que conquistar na minha carreira. Isso faz todo sentido, pretendo continuar no mundo esportivo mesmo depois de aposentado.
Por isso eu já falei para os meus pais que irei fazer faculdade de educação física e me especializarei dentro do ramo com tudo que é ligado aos esportes ,como marketing esportivo.
— Mateus ! Mateus!
— Ah... oi Carol!
— Já pensou sobre o meu convite dessa noite?
—Já, eu vou aceitar.
— Que legal ! - ela se empolga - Quero dizer...nós vamos para o shopping assistir aquele filme que está todo mundo falando. Mas os meus pais vão levar a gente, sua mãe não precisa se preocupar.
—A minha mãe já ligou para a sua ,está tudo bem. Elas já se conheciam.
—Então...nos vemos as 19:00h?
—Sim. Estarei lá na hora certa!
Ela me dá um beijinho no canto da boca porque aqui na escola não dá para beijar na boca.
Eu até que estou gostando dela,está ficando legal. Mas já me disse que o pai dela só libera namoro com quinze anos. Ainda faltam dois até lá!
Em casa me arrumo para o sair.
—Como estou? - pergunto
—Estiloso! - diz Samuca
—Um gatinho! - fala Marina
—Lindo e perfumado! - Amália aperta as minhas bochechas
—Pegador safadão!
—Pedro!!! - todos esbravejam
—O que foi?! O cara será o maior pegador dessa cidade.
—Nem vem! Gosto de ficar, mas ser igual a você era, não quero não!
—Seu passado te condena,meu marido!
—Ok! Não tenho um passado muito admirável...mas não precisam me execrar!
Meus pais batem no quarto.
—E aí? Meu jogador caro está pronto para entrar em campo?
—Tomás!
—Desculpa amor,mas dá um orgulho ver o nosso caçula em seu primeiro encontro.
—Vocês estão exagerando, até porque a Carol e eu...
—Han....- eles começam a gargalhar e me deixam sem graça.
Pedi apenas para o motorista me levar, se a minha família for junto eu pago um mico daqueles! Eu os amo muito,e eles amam demais!
Os pais da Carol nos deixam à vontade no cinema ,tinham mais três colegas nossos da escola,então não foi bem um encontro.
Mas trocamos uns beijinhos na última fileira, eu nem lembro do filme.
Depois da sessão,fomos todos comer em um restaurante no shopping, os pais dela nós deixaram em uma mesa separada e distante par a ficarmos a vontade, foi uma noite bem divertida.
Na segunda feira, éramos assunto na escola.
—Aí, está namorando a Carol!
—Namorando nada! Somos amigos, não saímos sozinhos.
—Ah conta outra!
Começamos a rir e vejo Carol ao longe me dando tchau, devolvo o gesto a ela.
—Eu não sei o que ela viu nesse cara!
João Vitor grita no meio da quadra.
—Não liga para ele,Mateus! Ele não se conforma em ter perdido a Carol para você. - dizem meus amigos - Vamos embora!
Eu me viro e ele grita novamente.
—Um cara que não sabe nem de onde veio,que teve a sorte de ser adotado por um casal rico e velho, que para passar o tempo, arrumaram um passatempo...tipo um bichinho de estimação.
Me volto cheio de ódio e tento avançar nele,o professor de educação física vê e tenta apaziguar.
—João Vitor, vai para a sala!
—Ah qual é! Até o senhor vai defender esse macaco!
Todo mundo arregala os olhos, e os meus olhos são cegos de ódio,avanço nele e ninguém me segura. Soco aquela cara cínica de tal forma, que o sangue escorria da boca e nariz dele,que aliás eu quebrei.
Com muito custo me tiram de cima dele, sou levado a direção e aí...a coisa não ficou boa.
......................
Tomás e eu saímos à toda do escritório, não contamos nada para aos rapazes, eles viriam atrás de nós com certeza.
Entramos na sala sa direção encontramos Saul Vieira colérico ao lado do filho e da nora,após do garoto
—Aí estão vocês! Os pais daquele...
—Veja bem como irá se referir ao meu filho! - ameaça Tomás
—Senhores,por favor! A situação é muito grave. - diz o diretor - Houve ofensa e agressão física.Sentem- se
Eles começam a explicar como tudo aconteceu, Tomás e eu nos revoltamos a cada parte do relato. Os pais do menino estão de passagem na cidade, apenas para vê-lo,já que moram fora do pais.
—Meu filho só se defendeu de uma perseguição que já vem acontecendo há muito tempo e vocês não fazem nada ! Não é a primeira vez que esse João Vitor causa um problema, ele encurralava o Mateus pelos cantos, deu uma bolada no rosto do meu filho que ele chegou a desmaiar e agora ele ofende atentando contra a nossa família,e usando o fato dele ter sido adotado e por causa da cor da pele dele! - diz Tomás
—Isso não altera o fato do seu filho ser um selvagem! - diz Saul
—Como assim o meu filho é um selvagem? Selvagem é o seu neto, um racista de merda, uma filhote de Hitler! Você deveria ser levado com ele para Alemanha e ficar por lá! Vocês acham que irão se passar por brancos arianos? Vocês são latinos, seus idiotas! Sofreriam racismo, xenofobia, simplesmente porque nasceram abaixo da linha do Equador! - perco a linha
—A senhora está nos ofendendo e ofendendo o nosso filho! - diz o pai
—Mas é para ofender mesmo! E quem começou foi o seu filho! Mas eu não posso nem dizer que a culpa é dele, porque as crianças repetem aquilo que elas veem e ouvem dentro de casa, e se o seu filho é um racista de merda é porque os pais são racistas de merda!
—Dona Suzana por favor não se altere! - diz o diretor
—Vocês não irão calar a minha boca, o meu filho será retirado dessa escola, porque essa instituição não está a altura dele! Isso não vai ficar assim, eu vou meter processo até no ...
—Suzana... -Tomás me segura
—... no CPF de cada um de vocês! Dos pais, dos professores que foram omissos, da direção que está passando a mão em cima dessa situação grave. Eu vou contratar quem for para me ajudar nisso, irei à mídia e irei escancarar o que aconteceu aqui dentro! O que aconteceu com meu filho servirá de exemplo para que isso nunca mais aconteça com nenhuma outra criança nesse país!
—Por favor ,dona Suzana! Vamos conversar com calma! - diz o diretor
—Eu não estou calma e nem quero ficar, vou resolver tudo de cabeça quente que é para botar fogo no mundo!
—E as agressões que meu neto sofreu?! Daremos parte na polícia! - fala Saul
—Vai em frente! Não esqueça que nesse país, racismo é crime, e eu farei valer a lei a favor do meu filho! - bato no peito enquanto grito na cara dele.
Tomás pega o Mateus na coordenação e o levamos para casa,ele não fala uma palavra ra sequer durante o trajeto.
—Filho, como se sente? Fala conosco!
—Agora não pai...
Ele olha para fora e eu sinalizo para Tomás ter paciência e deixá-lo em paz.
Em casa, ele corre pra se trancar no quarto, nisso, os nossos filhos já estavam em casa. Samuca e Amália,junto aos nossos advogados já articulavam os meios jurídicos,mas estranhamente Pedro não abria a boca.
—Vou para o quarto ,tenho muitas ligações para fazer. Amor,ligue para a Giovanna,peça para ela vir aqui conversar com ele. - Giovanna é filha da Serena Paolli, é a psicóloga que atende o Mateus desde quando o adotamos. - digo
—Eu vou ver o Mateus. - era raro ver o Pedro sério daquela forma.É fácil ler o rosto dele, pois é uma pessoa transparente, porém, sua feição estava indecifrável.
......................
O que aconteceu com meu irmão despertou em mim algo que eu nem sei dizer.
Bato na porta do seu quarto.
—Posso entrar?
Ele estava sentando na beira da cama olhando para o chão e não fala nada , sento ao seu lado.
—Quer se abrir comigo? - ele nada fala - Ou posso ficar quietinho aqui, mas sabe que é difícil para mim manter a boca calada.
Ele não ri das minhas gracinhas e isso me angustia mais.
Ficamos um longo período em silêncio.
—Pedro...
—Oi.
—Racismo dói.
Tento engolir meu choro, eu não sabia o que ele estava sentindo,era uma dor que só ele poderia sentir.
—Eu não faço ideia do que é ser menosprezado pela cor da minha pele. Eu nasci cercado de privilégios, posição social, fortuna, nome...
—Cor da pele também é privilégio na sociedade,Pedro.
—Por que diz isso?
—Olha os jornais, a história do nosso país...os negros são sempre marginalizados.Esses dias, a professora de história exibiu um documentário falando que a maioria dos moradores de comunidade são negros e tudo isso está ligado à abolição da escravatura. Os negros foram empurrados para becos,vielas,cortiços...e depois para os altos dos morros.
—Sempre à margem,sempre marginalizados,sempre tendo que lutar além para terem o que é de direito.
—Você não sente, mas entende. Todos poderiam entender,mesmo sem sentir.
O moleque é inteligente até no meio de uma situação dessas.
—Levanta essa cabeça, não se deixa intimidar! Nós vamos lutar junto com você, não se esqueça, você tem uma família que te ama muito e o seu valor não está na cor da sua pele, mas no seu caráter , no coração maravilhoso que você tem! Você é infinitamente superior a eles,não pelo o que é por fora, mais por dentro!
Ele me olha nos olhos.
— Você vai ser o fodão da bola !Vai comer mulher pra cacete e esfregar na cara desse otário invejoso!
Ele dá um meio sorrriso.
—Bola de ouro? Será sua, certeza!Cristiano Ronaldo, Messi,Vinicius Junior? Esquece! Você será melhor! Aquele merda tem inveja de você! Um cara boa pinta, pegador que eu sei...- consigo fazê-lo sorrir - ...bom de bola,popular... o cara está tremendo na base!
Ele me abraça forte.
—Valeu, irmão!
—Eu te amo! Vou estar aqui do seu lado até os meus últimos dias!
Assim que eu saio do quarto, Mateus vai tomar banho. Eu entro no meu, fecho a porta e começo a chorar copiosamente. Doeu nele ,doeu em mim...
O soluço sacudiu o meu corpo, era como se fosse na minha carne aquele espinho, pois machucou alguém que eu amo.
Vou até o quarto dos meus pais depois de me acalmar, encontro os dois arrasados, mas ao telefone com imprensa, políticos... eles não irão descansar enquanto a justiça por meu irmão não for feita, ainda mais por ter partido da família Vieira ,que vem publicamente perseguindo a nossa.
—Estava chorando Pedro? - pergunta minha mãe.
—Estava conversando com o Mateus.
—Como ele está?
—Mal...mas já começou a reagir.
—Uma das coisas mais covardes que existem é o racismo. Foram 300 anos de escravidão nesse país, que foi construído a base do sangue e suor dos escravizados.Como a nossa população ainda pode ser racista ? Como pode existir brasileiro que acha que o negro é inferior ao branco? Isso não faz sentido! - diz meu pai
—Esse homem e sua família passaram dos limites,tentamos ser diplomáticos,mas eles feriram o que tenho de mais precioso,um dos meus filhos!
Eu me levanto.
—Descansem,tomem seus remédios...eu vou ajudar o Samuca. Depois vão lá ver o Teteu,se ele precisa de alguma coisa.
—Não se preocupe,filho. - responde meu pai
—E dona Onça...resolve logo isso, antes que eu perca a cabeça e acabe fazendo alguma besteira!
—Isso não vai ficar assim, não vai passar impune, nem que mudemos as leis desse país!
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Lyllie J.
As pessoas precisam entender que existe apenas uma raça a Humana. Todos somos seres humanos independente da cor, já vi muitas amigas sofrendo racismo, é horrível, eu sentia por elas, tanto que eu brigava por elas quando elas não queriam brigar. Aqui na minha casa meus filhos todos foram educados para respeitarem as pessoas e ponto final.
2025-03-14
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Lucas G. Lima de Souza
Influência Digital
Para dar ainda mais visibilidade a essa nobre causa, o instituto poderia contar com a figura de Mateus como um influenciador digital. Utilizando suas redes sociais, ele poderia compartilhar conteúdos relevantes sobre inclusão, educação e esportes, além de promover campanhas de conscientização. Essa estratégia não apenas ampliaria o alcance das iniciativas do instituto, mas também inspiraria muitos jovens a se envolverem em causas
2025-03-14
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Lucas G. Lima de Souza
Bom dia, querida autora,
É com grande entusiasmo que venho compartilhar uma proposta que acredito que poderia fazer uma diferença significativa na sociedade: a criação do Instituto Mateus Terra Lobato. Este instituto poderia se tornar um verdadeiro farol de esperança e apoio, promovendo todas as causas sociais e oferecendo um espaço educacional inclusivo e diversificado.
2025-03-14
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