MAYA
Os dedos de Maya deslizavam sobre as minúsculas pedras incrustradas na pulseira, sentindo a textura suave. Sempre adorou observar o brilho do objeto cintilante sob a luz do dia invadindo as janelas do seu quarto. Sua amiga Grace, habilidosa e sutil, puxava levemente seus cabelos loiros, criando uma trança que caía como uma cascata de ouro sobre seu ombro. A pulseira encaixou em seu braço feito uma peça perfeita.
— Estou empolga hoje, Grace. — Maya pegou uma caixinha de madeira cheia de anéis e a colocou no colo.
— Você realmente gosta de festas, princesa.
Pelos olhos de qualquer um, empregados devem servir a nobreza como se estivessem ajoelhando-se a seres divinos. Porém, longe de toda aquela baboseira repetitiva, ambas eram simples amigas conversando sobre garotos.
— É tão difícil assim me chamar pelo nome? — Maya cruzou os braços e inflou as bochechas.
— Perdoe-me, vossa grandeza. — Grace sorriu ao fazer uma reverência. Ela sentou-se ao seu lado na espaçosa cama forrada com um tecido mais macio que algodão.
— A senhorita pode imaginar o motivo de tanta alegria.
— Lorde Chuck de Alucard? — Grace tinha o cabelo preso em um coque, usava o fardamento de todas as empregadas, que era um vestido cinzento apertado. A beleza de Grace era única, mas, por um motivo que Maya desconhecia, ela nunca permitiu que a mesma fosse exposta.
— Ele é lindo, mas nem tanto. Tente novamente. — A princesa revirou os olhos só de pensar em tocar nos lábios de um narcisista sem nada na cabeça.
— Então, creio que seja uma criatura secreta digna desta dama. — Grace pegou o espelho com as bordas decoradas em cima da pequena estante.
— Você é ótima nisso! — Maya suspirou quando viu o trabalho da amiga. Sua trança loira e brilhante caía por cima do ombro.
— Poderia ficar aqui lhe mostrando meus diversos talentos, mas o café da manhã a aguarda.
Maya deu um pulo da cama quando Grace a lembrou. Plantou um beijo na testa da amiga e deixou seus aposentos. Sua sapatilha reproduzia um barulho chato a cada passo dado por ela contra o mármore, o longo corredor costumava ser escuro mesmo de dia, as paredes brancas eram lisas e havia quadros retratando belas pinturas de pessoas importantes que Maya nunca ouviu falar. Ela chamava de "estátuas humanas" os guardas silenciosos e petrificados nos cantos, com seus uniformes cinzentos e expressões congeladas, que às vezes sequer respiravam.
A princesa atravessou o corredor, chegando no salão pessoal da rainha, um lugar engolido pelo silêncio, nem os cochichos dos serviçais eram notados. Havia uma mesa imensa no centro do salão, que comportava praticamente umas trinta e poucas pessoas. Mas naquela manhã apenas três se alimentavam tranquilamente uma ao lado da outra.
Maya segurou os ombros de Pietro, um dos conselheiros e seu melhor amigo, desejando um bom dia a todos, ele beijou sua mão. Nelson, o outro membro do conselho, maneou a cabeça e sorriu de leve para ela, um gesto de respeito e afeto.
— Dormiu bem, querida? — A rainha, sua mãe, perguntou, tomando um gole do café em uma xícara de porcelana delicada, enquanto o aroma do café pairava no ar.
— Apenas ótimos sonhos, mamãe. — Maya respondeu, escolhendo a cadeira ao lado de sua mãe, e encarando a mesa quase vazia, um cenário incomum no palácio.
Pietro admirou Maya com um olhar carinhoso.
— Cada dia mais linda. — Seu queixo repousava entre as mãos, e suas madeixas castanhas partidas ao meio tocavam seus ombros, enquadrando seu nariz pontudo e olhos azuis, que pareciam duas bolas de vidro.
Maya sorriu, um pouco sinicamente. Uma empregada, como um fantasma imperceptível, colocou uma fatia da mesma torta sem graça em um prato e pôs em sua frente. Ela ficou um pouco hesitante enquanto cutucava a massa duvidosa da torta, os doces de Grace eram mil vezes melhores do que o de qualquer cozinheira do palácio, ela humilharia com facilidade a autora daquela torta de chocolate.
— Estou dando o meu melhor, Pietro. — Uma mentira inocente, pois detestava resolver os problemas das equações e artes, embora fosse um pouco melhor, ainda era entediante.
— Deixando todas as formalidades de lado, quando irá nos apresentar seu escolhido, princesa? — Nelson mordiscava a fatia da torta sem graça em seu prato. Maya já deu boas gargalhadas na infância por causa de suas bochechas inchadas como se estivesse guardando todo ar dentro da boca. — A fila de pretendentes é imensa.
Maya riu, um som musical..
— O que tem a dizer para eles, querida? — a rainha, até então em silêncio, finalmente deixou sua voz escapar. Ela poderia ser sua mãe, mas sua aparência era tão jovem e exuberante que parecia ser sua irmã mais velha com aqueles cabelos tão negros quanto o ébano, que chegavam até sua esbelta cintura naquele vestido verde-escuro, a pele tão clara e delicada quanto a porcelana da xícara e olhos esverdeados como uma floresta profunda e inexplorada.
Maya desviou o olhar, um pouco hesitante.
— Não há nenhum escolhido por enquanto. — Uma resposta sincera, mas um pouco difícil de admitir.
— Essa liberdade, eu amo esse reino. — Nelson coçou o queixo.
Na verdade, a maioria da população zeldiana amava o jeito que o âmbito administrava a liberdade ali. Diamond, o império das neves, por exemplo, era comandado por um homem infinitamente rígido.
— O que vocês irão comemorar hoje?
— Eu criei esse evento para comemorarmos a juventude, mamãe. — Sim! Comemorar o fato de ainda não terem nenhuma responsabilidade e aproveitar bastante o gosto da adolescência.
— "Enquanto formos jovens e belos, poderemos atravessar qualquer deserto", seu livro preferido, não é?
Maya assentiu, um pouco surpresa por Pietro apreciar obras literárias que falavam sobre coisas que adultos não achariam, nem de longe, interessantes.
— Infelizmente, minhas meninas adoram essas aglomerações barulhentas. — Nelson bocejou, suas filhas eram completamente o oposto dele.
— Com licença, princesa Maya — a voz grossa e monótona a fez virar para trás, era Castro, o cavaleiro dos nobres em seu fardamento negro feito da pele de serpentes, onde havia o brasão do reino no peito esquerdo: o sol dourado se escondendo atrás da lua negra. — A Condessa Chloe Sabina a aguarda no jardim, Princesa.
Maya assentiu, pediu licença e se retirou da mesa com uma rapidez que deixou Pietro e Nelson boquiabertos, mas sem palavras. Era um fato conhecido que a princesa tinha gostos diferenciados, preferindo armas ao invés de crochês e aulas de etiqueta. Atravessou longos corredores de mármore, pilastras brilhosas, paredes decoradas com a arte da antiguidade e estátuas humanas espalhadas por todos os cantos. O jardim era seu destino, um lugar de encontro com a Condessa Chloe Sabina, e um pouco de liberdade.
Sabina a aguardava entre as rosas vermelhas, segurando dois arcos. Seu vestido lilás sem alças realçava sua beleza além de seus seios fartos, e seu coque duplo no topo da cabeça a tornava ainda mais elegante. Seus olhos de âmbar, porém, revelavam um calor e uma intensidade que apenas Maya conhecia.
— Atrasada — Sabina disse, afofando seu coque.
Maya se atirou sobre os arcos, ansiosa para começar o treino, mas Sabina a interrompeu, inclinando-se sobre ela com um olhar intimidador.
— Vamos falar sobre Marcel.
Maya se surpreendeu. Como Sabina sabia sobre Marcel?
— Como descobriu? — perguntou, tentando manter a calma.
Sabina sorriu, um sorriso enigmático.
— Não me chamam de "Olho de Águia" à toa, princesinha. — Ela entregou um dos arcos para a princesa.
Maya sabia que Sabina era mais do que apenas uma condessa. Era uma mulher perigosa e inteligente, com segredos e habilidades que poucos conheciam. O que aquela mulher pervertida estava pensando?
— Marcel foi nomeado cavaleiro recentemente — Maya disse, tentando mudar de assunto.
Sabina riu, um som baixo e sensual.
— Cavaleiros são tão brutos e mal-humorados. Péssima escolha.
Maya sorriu, sentindo-se um pouco mais à vontade.
— Podemos esquecer o Marcel e irmos logo para o treino?
Sabina assentiu, as duas começaram a treinar, com Maya demonstrando suas habilidades com o arco e a flecha. A condessa observou, um olhar de aprovação em seus olhos.
— Tenho um exército de atiradores, mas nenhum deles tem tanto interesse em arco e flecha quanto você — Sabina disse, uma risadinha leve em sua voz.
Maya sorriu, sentindo-se vitoriosa.
— Irei mantê-la curiosa por enquanto, Condessa.
As duas trocaram os arcos por espadas de madeira, e o treino continuou, com Maya demonstrando as suas habilidades em campo. Sabina observou seus movimentos fluídos, Maya passou semanas praticando apenas para ser elogiada por sua professora.
— Como dizem nesse lugar, esse reino anda do avesso — Sabina disse, um sorriso tranquilo em seus lábios. — Por isso costuma ser tão encantador.
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Atualizado até capítulo 31
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