Peso em meus ombros

FINN

A água quente escoava pela pia, levando consigo a espuma e a sujeira do dia. Finn esfregava o prato com cuidado, sentindo a textura da porcelana sob seus dedos. Era um gesto simples, mas que requeria atenção e dedicação. Seus olhos se desviaram para o teto, onde a figura esculpida de uma mulher parecia olhar para baixo, com um olhar duro e enigmático. Eva, a rainha daquele reino, era uma figura lendária, idolatrada por todos. Mas Finn não compartilhava da mesma admiração.

— Finn! — a voz grave de Edgar o chamou, interrompendo seus pensamentos.

Finn se virou, tentando esconder a distração.

— Sim, chefe?

Edgar se aproximou, olhando para cima, para a figura de Eva.

— Admirando a mulher mais linda do mundo de novo? — ele perguntou, com um sorriso.

Finn levantou uma sobrancelha.

— O senhor acha que ela é tão especial?

Edgar assentiu.

— O homem que se deitar com ela será o mais feliz, o mais sortudo, o mais realizado.

Finn não compartilhava da mesma opinião. Ele sabia que Eva era uma figura complexa, com um passado sombrio e um presente incerto. A conversa foi interrompida pela chegada de Stephan, o crítico. Ele era um homem exigente e cruel, que não hesitava em destruir a reputação de um restaurante com suas críticas mordazes. Finn se dirigiu à mesa cinco, onde Stephan o esperava. O crítico olhou para o prato, fez uma careta e começou a esbravejar.

— Quem preparou esta porcaria? — ele perguntou, jogando a bandeja no chão.

Finn sentiu a raiva subir à tona. Ele cerrou os punhos, sentindo as unhas penetrar em sua pele.

— Por favor, senhor... não faça isso — ele pediu, tentando manter a calma.

Mas Stephan não ouvia. Ele continuou a esbravejar, a saliva voando de sua boca. Finn sentiu a pulsação em seu ouvido, as batidas bagunçadas de seu coração. E então, sem pensar, ele socou Stephan com toda a força. O crítico voou sobre a mesa, nocauteado.

A clientela se espantou, alguns gritando de terror. Finn recuperou o controle, sentindo um gosto amargo na boca. Ele sabia que havia ido longe demais. Edgar gritou seu nome, mas Finn saiu correndo, deixando para trás o caos e a destruição. Ele estava decepcionado, mais uma vez, consigo mesmo.

Finn subiu a ladeira, deixando para trás o barulho da cidade. O chão de concreto dava lugar à terra batida, e as lojas cediam espaço ao matagal. O ar estava carregado de um silêncio estranho, como se a própria natureza estivesse observando-o.

Ele sempre imaginava como uma garota se sentiria ao passar por aquele local duvidoso. O mato era denso, e as árvores curvadas pareciam sussurrar segredos uns aos outros.

De repente, um caroço caiu bem na frente dele. Finn levantou devagar a cabeça, conhecendo aquela voz fina. Dom e Leo, os dois garotos que sempre pareciam encontrar maneiras de complicar sua vida.

— Eu já não disse que isso aqui é perigoso? — Finn perguntou, cruzando os braços.

Dom, o gordinho, sempre com algo rolando em sua boca, respondeu com um sorriso malicioso.

— Para de ser chato!

Leo, o magrinho, tímido e sempre otimista, desceu da árvore com um sorriso.

— Desculpe, irmão, mas não resistimos.

Finn suspirou, sentindo a irritação crescer.

— Não se desculpe, Leo. Os outros podem fazer qualquer coisa, por que vocês não?

Os meninos desceram com rapidez, e Finn os seguiu, sentindo o peso da responsabilidade. Ele sabia que não podia deixá-los sozinhos, especialmente naquele lugar.

— Só vou descer porque a fome me alcançou, não ache que é meu pai. — Dom disse, saindo na frente.

Leo, por outro lado, parecia preocupado.

— Ele vai ficar bem — disse, olhando para Finn.

Finn sabia que algo estava errado.

— O que aconteceu? — perguntou, segurando o ombro de Leo.

Leo enterrou as mãos no bolso e abaixou a cabeça.

 — O Isaac não estava nos seus melhores dias e disse umas coisas.

Finn sentiu um arrepio. Isaac era capaz de dizer coisas que podiam destruir uma pessoa.

— O que ele disse?

Leo hesitou antes de responder.

— Que nós não somos úteis para nada e se não tivéssemos nascido, a tia Helena seria feliz.

Finn sentiu a raiva crescer. Como Isaac podia dizer algo tão cruel? Ele sabia que tinha que conversar com Isaac, antes que as coisas piorassem.

— Eu vou conversar com ele — disse, tentando manter a calma.

Leo olhou para cima, com olhos cheios de preocupação.

— Por que ele é assim?

Finn suspirou, sentindo o peso da responsabilidade.

— Vai ficar tudo bem. É que o Isaac fala algumas baboseiras de vez em quando.

Mas Finn sabia que não era tão simples assim. O rapaz só conseguia pensar que aquele era um dia ruim, pois eles sempre brigavam em dias ruins.

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Comments

Heri Purnomo

Heri Purnomo

Nunca tinha lido algo assim, estou surpreendida.

2025-02-25

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