A escuridão era total, como se a própria noite tivesse engolido o salão. As lamparinas, destruídas pelo sopro violento da natureza, jaziam no chão, inúteis. Os gritos pavorosos ecoavam pelas paredes, um coro de desespero que parecia não ter fim.
A mulher abraçava seus joelhos, perdida em seu próprio desespero, enquanto se afogava em lágrimas. Da sua perspectiva, todos os corpos dançavam no grande salão escuro, uma dança macabra da morte, pois eles pediam por socorro e imploravam por suas vidas.
A tempestade lá fora gritou e um clarão invadiu as aberturas do teto que desabava aos poucos, clareando o cenário. A mulher arregalou os olhos quando viu o vermelho escuro engolir o salão, seu coração parou quando viu uma figura silenciosa coberta de preto balançando suas armas e ceifando qualquer coisa que respirasse... como um demônio.
"Helena... Helena..." Mãos familiares rastejaram até seu ombro e pararam em seu rosto, a mulher sentiu o sangue quente colar em suas bochechas, se misturando com o suor e as lágrimas. Sua visão demorou um pouco para captar a imagem de uma jovem deitada e toda ensanguentada com duas crianças em seu colo.
Helena entrou em desespero ao notar que a mulher estava sem pernas. A voz dela foi ficando baixa, a respiração dela foi falhando, e sua cabeça descansou lentamente em seu colo... mas mesmo assim, continuava sussurrando: "Querida Helena... Salve meus bebês."
A mente de Helena despertou enquanto seu corpo suava frio. Ela se sentou aos pés da cama e abraçou os joelhos, balançando para frente e para trás, como ela sempre fazia quando seus pesadelos a atormentavam. Aquele looping era aterrador, reviver seus piores momentos era praticamente uma tortura.
Após alguns minutos encolhida, ela levantou e foi até o móvel ao lado da cama pegar um laço cor-de-rosa. Ela prendeu seus longos cabelos em um rabo de cavalo, tentando se recompor.
Helena escutou a porta principal ranger e a voz desaprovadora do mais velho sacudir a casa.
— Você não pode simplesmente sair falando o que não deve!
— Você está parecendo um daqueles adultos entediados com o trabalho. Foi demitido de novo? — Isaac respondeu com seu tom de voz despreocupado.
Helena suspirou e passou as mãos por seu vestido escuro amassado. Ela foi em direção à porta, seu quarto dava diretamente para a sala. Ela parou na soleira da porta e se encostou em um canto, observando os irmãos briguentos, que sequer perceberam sua presença.
A mesa velha rangeu sob o tapa de Finn, como se ecoasse a frustração que fervilhava dentro dele. Seus cabelos negros como a noite caíam sobre seus olhos castanho-escuros, que brilhavam com um fogo interior. Ele costumava usar vestes negras, como se quisesse absorver a escuridão que o rodeava. Isaac, por outro lado, parecia um espectro, com sua pele tão branca quanto papel. Ele se sentou, cruzando as pernas com um ar de desdém.
— Isaac... — Finn sussurrou, andando para lá e para cá, como um animal enjaulado. Helena via claramente as expressões de alguém que estava tentando se controlar em seu rosto.
— Que tipo de sermão vai me dar hoje, irmão? — Isaac perguntou, com um sorriso irônico.
— Nenhum, senhor "assassino das favelas" — Finn fez o sinal de aspas com os dedos. — Só para de descontar suas frustrações nas crianças.
O mais velho parou de andar, seu rosto contorcido de raiva.
— É que meu trabalho é meio estressante. —Isaac passou a mão por seus cabelos pretos, como se estivesse acariciando uma cachoeira de petróleo. Seus olhos sempre estavam cobertos, como se estivesse escondendo segredos.
— Então é estressante tirar vidas alheias para você? Sério? — Finn perguntou, sua voz cheia de veneno.
— Eu sustento esta casa! — Isaac respondeu com firmeza.
— Nós sustentamos! E eu não preciso sujar minhas mãos para isso. — Finn disse, com um sorriso amargo.
Isaac levantou e foi até a porta, como se estivesse fugindo de uma realidade que não queria enfrentar. Sobre a mesa, havia um papel dobrado que Finn pegou imediatamente. Helena viu o rapaz franzir a testa quando se deparou com algo que parecia um mapa cheio de números e nomes.
— Desde quando planeja isso? — Finn perguntou, balançando o papel entre os dedos.
Isaac parou na entrada, depois retornou e ficou cara a cara com Finn. Eram como crianças briguentas, disputando brinquedos quebrados.
— Eu não sou tão sortudo quanto vocês. Não consigo viver minha vidinha de merda enquanto uma vagabunda burguesa está livre e feliz! — Isaac disse, sua voz cheia de raiva e ressentimento.
Isaac tomou o papel e o enfiou no bolso se encolhendo com seu segredo. Ele bateu a porta com força ao sair, aquela não era a primeira vez que ele estava cego de ódio.
Os garotos se reaproximaram após a discussão, como se estivessem tentando reconstruir uma ponte quebrada. Helena não sabia o motivo daquela algazarra, principalmente por Isaac ter tocado em um assunto proibido por Finn. Mas era o cotidiano dos irmãos brigarem como cão e gato.
— Desculpe, Finn. Se eu não tivesse contado... — Leo disse, com um olhar de arrependimento.
— Por que ele é assim? — Dom perguntou, com um pouco de sujeira no canto da boca.
— Ele simplesmente é. — Finn suspirou e se sentou com os garotos à mesa, tentando encontrar um pouco de paz em um mundo em guerra.
Quantos anos haviam se passado? O tempo parecia ter voado desde que Helena assumiu a responsabilidade de criar os garotos. Uma tarefa que se revelou bastante inconveniente em sua vida. E era tudo culpa da rainha, aquela mulher de beleza fria e coração de pedra, que massacrou brutalmente o clã Saints, acusado de conspiração. Se aquele monstro não tivesse cometido tal ato, Helena teria tido uma vida mais tranquila, longe das responsabilidades e dos problemas que vinham com a criação de crianças problemáticas como Finn e Isaac.
∆MAPA∆
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Aiko
Estou amando o livro, mas por favor, me dê a próxima atualização em breve!
2025-02-27
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