Gula, Preguiça e o Desfile Involuntário

Tóquio estava especialmente iluminada naquela noite.

Não que o mundo soubesse o que caminhava por suas calçadas luxuosas — Lúcifer, o próprio Caído, o Incandescente, acompanhado de seu primeiro concubino recuperado. Mas, se prestassem atenção nos postes piscando sem motivo, nos celulares que travavam ao redor e no sutil cheiro de enxofre com perfume francês... talvez soubessem que o mundo estava prestes a se ajoelhar.

— “Ali.” — apontou o Orgulho com elegância venenosa.

O dedo delicado apontava para um dos restaurantes mais premiados de Tóquio. E não qualquer um — Narisawa. Um templo da alta gastronomia japonesa. Luxuoso. Reservado. Com uma fila de espera de meses para mortais comuns.

— “Ah...” — Lúcifer murmurou, quase num suspiro cansado. — “É claro.”

Gula.

Ainda entrelaçado ao braço de Lúcifer, o Orgulho desfilava como se estivesse numa passarela, erguendo o queixo como quem anuncia sua superioridade para o mundo — e, honestamente, ele estava pronto para se gabar por milênios. Porque ser o primeiro encontrado? Por Lúcifer? Ele faria questão de esfregar isso na cara de todos os outros, especialmente do Inveja.

Assim que cruzaram as portas do restaurante, Lúcifer mal teve tempo de analisar o ambiente. Luxuoso, minimalista, com luz baixa, atendentes que falavam baixo e pratos que mais pareciam obras de arte em microescala.

Mas antes mesmo de ativar seu radar infernal... sentiu o Orgulho se soltar do seu braço com um passo decidido.

Claro. Encontrara alguém.

Alguém para se gabar.

Lúcifer o seguiu... e lá estavam eles.

Gula, pequeno, redondo e deliciosamente adorável, estava afundado na cadeira, o prato número oito à sua frente.

Baixinho, algo em torno de 1,60m, corpo de pera, com quadris largos, coxas grossas, cintura delicadamente fina e braços gordinhos.

Sua pele era rosada, macia, brilhante como pêssego recém-lavado. Os cabelos curtos, cacheados e castanho-claros, pareciam açúcar queimado. Tinha covinhas nas bochechas, olhos grandes e dourados, e os lábios carnudos sempre lambuzados por alguma iguaria.

Apesar do corpo rechonchudo, sua beleza era... perfeita. Uma lindeza quase irritante, de quem parece feito sob medida para provocar o apetite dos outros.

Comia como se estivesse em êxtase. Respirava fundo. Gemeu de prazer ao morder um tempurá como se fosse um amante.

Ao seu lado?

Preguiça.

Encostado na cadeira, com o queixo pendurado sobre o ombro, dormindo profundamente.

Cabelos longos, lisos, negros, caindo sobre os olhos como cortinas de apatia. Rosto esculpido como de um príncipe gótico, com cílios absurdamente longos, pele pálida e olheiras crônicas que só o deixavam mais encantador.

Ele era lindo. Lindo de um jeito desleixado, negligente, quase ofensivo.

Roupas amassadas, camisa aberta revelando parte do peito liso, calça jogada no quadril. Cheiro de perfume caro e cigarro velho.

O tipo de beleza que parece não tentar... mas que sempre vence.

Sua boca estava entreaberta. Um fiozinho de baba escorria do canto, repousando sobre o braço que segurava o prato... intocado.

Lúcifer sequer teve tempo de anunciar sua presença.

O Orgulho já tinha se aproximado de Gula e, com o sorriso mais irritantemente triunfante que já existiu, arrancou o prato da mão dele.

— “Adivinha quem foi o PRIMEIRO a ser encontrado?” — cantarolou.

Gula engasgou, piscou os olhos dourados e se virou.

— “LU-LÚCIFER!” — exclamou, abrindo um sorriso doce e caloroso — “Ahhh... já acabou o trabalho? Está bem? Eu senti sua falta!”

O Orgulho bufou.

— “Claro que sentiu. Ele não respondeu NENHUM dos meus sonhos eróticos.”

E então... tap.

Um tapa seco na cabeça do Preguiça.

— “Acorda, seu cadáver ambulante. Olha quem veio.”

— “Hnh... que porra foi essa...” — o Preguiça reclamou, ainda meio grogue, coçando os olhos devagar.

— “Você me acordou pra quê? Vai pagar com a alma.”

— “LÚCIFER ESTÁ AQUI.” — disse o Orgulho, pomposo, com o dedo indicador erguido como se revelasse uma profecia.

O Preguiça piscou. Espreguiçou-se. Olhou em direção ao Rei e...

— “Ah... que bom. Você voltou.”

Sorrisinho preguiçoso. Palmas lentas. Três no máximo.

— “Bom trabalho, chefe. Tá um gato como sempre.”

E então... abriu os braços.

— “Colo, vai... tô mole.”

Lúcifer bufou, o rosto impassível.

Estava exausto. E irritado. E ainda assim...

— “Eu tô sem paciência pros caprichos de vocês...” — começou ele, pegando o Preguiça no colo sem esforço.

Enquanto o carregava como um príncipe com sua noiva narcoléptica, puxou um guardanapo e limpou os lábios do Gula, que ainda lambia os dedos com um biquinho triste.

— “Você já comeu o suficiente.” — disse ele, seco.

— “Mas... eu queria mais...” — respondeu o Gula, fazendo um beicinho adorável.

Lúcifer revirou os olhos.

— “Você tem comida de sobra no Inferno, sabia?”

Pausa.

— “...mas talvez...” — suspirou — “talvez, quando encontrarmos todos, possamos voltar aqui. Só uma última vez. Só pra comer.”

Gula sorriu tanto que até os garçons estremeceram.

Enquanto o trio se organizava, o Orgulho já havia se emaranhado novamente no braço do Lúcifer, seu nariz empinado como um estandarte de arrogância.

O Preguiça ronronava no colo do Rei, a cabeça encostada no ombro alheio, quase dormindo de novo.

E o Gula andava logo atrás, segurando a pontinha da blusa de Lúcifer como uma criança gordinha que não queria se perder da mãe no shopping.

E assim, caminharam pelas ruas noturnas de Tóquio, como uma banda bizarra de modelos, mascotes e um CEO demoníaco sem tempo pra nada.

Lúcifer soltou um longo suspiro.

— “Ainda vai ser uma longa noite...”

E pensou:

— Mas seria bom se eu começasse a achar alguns juntos...

Porque, francamente, encontrar um de cada vez?

Um porre.

(Continua...)

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!