A reunião havia terminado. Finalmente.
Lúcifer, nosso queridíssimo CEO do Inferno, espreguiçou-se como uma fera preguiçosa em seu trono de ossos administrativos. Olhou pela enorme janela feita de lágrimas cristalizadas — uma vista panorâmica da perdição, diga-se de passagem — e suspirou.
— “Hmmm... faz quanto tempo que não saio dessa maldita sala?” — perguntou para ninguém em especial, os olhos semicerrados, o corpo relaxado com aquele charme violento de quem sempre parece a um segundo de explodir ou transar. Ou ambos. Ao mesmo tempo.
Dias. Muitos dias. Talvez semanas. Mas tempo no Inferno é uma piada mal contada — você nunca sabe se está cedo demais ou tarde demais para sua própria condenação.
Lúcifer, como já dito, só dormia para recarregar o corpo que habitava — uma casca humana estilizada com proporções ofensivamente perfeitas. Sua verdadeira forma? Ah... aquela era um pesadelo cósmico, algo tão absurdo que nem mesmo os pecadores mais depravados ousavam encarar sem implorar por misericórdia. Mas ele não gostava de usá-la o tempo todo. Era... cansativo. Molhava muito o chão. Sujava as paredes. Fazia os móveis gritarem.
Ele preferia essa forma. O homem-diabólico. Dois metros de pura desgraça sensual.
Pele translúcida, músculos que desafiavam a anatomia humana, cabelos negros como feitiços antigos. E os olhos... ah, aqueles olhos: quentes, castanhos avermelhados, brilhando como carvão aceso.
Chifres que pareciam obras de arte esculpidas com sangue e ossos de anjos derrotados. Rabo afiado como pecado não confessado. E aquelas asas... invisíveis, sim. Mas sabíamos. Estavam ali. Como uma ameaça. Como uma promessa.
Pensou, por um segundo, no quanto fazia tempo que não se divertia. Não em um sentido burocrático, mas... divertir-se mesmo. Gritinhos, carne humana grelhada, um joguinho de tortura mental com pecadores novatos. Coisas simples.
Ah... Ira teria adorado.
E Luxúria, então? Teria implorado.
Aliás... fazia tempo que ele não via nenhum deles.
Foi nesse instante, como um reflexo sarcástico de seus pensamentos, que a porta se abriu com firmeza.
Lilith entrou.
Sim, ela. A irmã. A general. A mulher que caminhava como se a guerra tivesse pernas.
Lilith era a versão feminina de Lúcifer, só que com um toque a mais de veneno e menos paciência.
Dois metros de curvas esculpidas pela luxúria e pela fúria. Os mesmos cabelos negros ondulados até a cintura, olhos escarlates como poços de lava em fúria, pele tão pálida que parecia absorver luz.
Seus chifres eram longos, esguios, e tão afiados quanto sua língua. E o rabo, claro, balançava com o tédio controlado de quem podia matar alguém só com um suspiro entediado.
Vestia um uniforme de combate: couro negro com detalhes carmesim, símbolo do trono infernal bordado no busto. Ombreiras pontiagudas. Botas que ecoavam comando a cada passo.
Ela se curvou — um gesto raro.
— “Perdão pela entrada repentina, meu Rei. O assunto é... urgente.”
Lúcifer girou lentamente na cadeira, o queixo apoiado na mão, olhos semicerrados, um sorriso preguiçoso mas perigosíssimo se formando nos lábios.
— “Ora, ora... minha irmã me pedindo desculpas? Que dia estranho. Mas tudo bem. Só... não venha me trazer problemas. Não hoje. Hoje eu estou com preguiça de explodir alguém.”
Lilith ergueu uma sobrancelha. Sorriu de lado. E mandou entrarem.
Sete figuras tímidas adentraram o recinto: as sete empregadas pessoais dos concubinos.
Diabinhas de escalão baixo, nascidas do próprio Inferno. Uniformes simples, rostos delicados, olhos assustados. Algumas tremiam. Outras tentavam disfarçar. Mas todas sabiam... que aquele era o pior lugar para se estar.
— “Elas têm algo a dizer,” — disse Lilith, com os braços cruzados e um olhar fulminante — “e você não vai gostar.”
Lúcifer endireitou-se.
— “Comecem a cantar, ou eu começo a cortar.”
Uma das diabinhas deu um passo hesitante.
— “S-Senhor... os concubinos... já tem alguns dias... eles... eles sumiram.”
O silêncio foi ensurdecedor.
A mesa rangeu. As paredes vibraram. O ar ficou pesado.
E Lúcifer... riu. Riu seco. Curto. Letal.
— “Sumiram?” — sua voz agora era pura lâmina — “Sumiram... há DIAS... e só agora me contam?”
As diabinhas se ajoelharam. Todas. Instintivamente. Tremendo.
Lilith completou:
— “Elas encobriram. Disseram que estavam cuidando das tarefas normais. Mas os castelos estavam vazios. E eu achei... estranho. Nenhuma birra, nenhum barraco, nenhum deles gritando no salão imperial. Estranho demais.”
Ela andou até uma das empregadas e a empurrou com o pé.
— “Fala, antes que ele te descasque.”
Mas era tarde.
Lúcifer já tinha se levantado.
Andou até uma delas. Com calma. Com prazer. E com um único movimento... agarrou-a pelo pescoço com uma das mãos.
A diabinha mal conseguia respirar. Seus olhos se arregalaram.
Lúcifer a ergueu no ar com facilidade, como se ela fosse uma boneca de pano.
— “ONDE. ELES. ESTÃO?” — sua voz agora era o próprio inferno falando.
As outras gritaram. Uma delas — a mais novinha, a mais covarde — soltou a informação:
— “Na... na Terra! Estão na Terra!”
— “E-e-e-especificamente em... em Tóquio!” — completou outra, de olhos esbugalhados, a cabeça baixa em reverência.
Lúcifer soltou a que segurava, que caiu tossindo e chorando.
Ele inspirou profundamente. Encostou os dedos nos lábios. Depois estalou o pescoço.
— “Tóquio...” — murmurou — “Claro. Tóquio. Por que não? Sempre tem sushi, drama e luzes o suficiente pra manter sete pecados entretidos.”
Virou-se para as empregadas, com um meio sorriso cruel e cínico.
— “Dessa vez, vou deixar passar. Vocês são boas no que fazem. Foram ameaçadas, eu entendo. Mas da próxima vez, quero que saibam...” — os olhos se tornaram completamente vermelhos — “no inferno, até segundas chances doem. E aqui... não há paz. Nem piedade.”
As chamas lamberam os pés dele. As sombras envolveram seu corpo. As asas negras se abriram com um estalo que fez o chão tremer.
A sala inteira escureceu como se o próprio espaço tivesse medo.
Lúcifer olhou para Lilith e rosnou:
— “Mantenha o trono quente. Eu vou buscar os meus.”
E então... ele sumiu.
Deixando para trás o cheiro de enxofre e um silêncio esmagador.
Lilith estalou os dedos, fazendo as empregadas se levantarem trêmulas.
— “Vocês ouviram o que ele disse. Trabalhem. E rezem... se ainda souberem como.”
Eva entrou na sala, ainda organizando papéis com elegância, sua figura etérea cruzando os destroços do momento com frieza angelical.
Eva, esposa de Lilith. Alta, de pele dourada, cabelos platinados até os quadris, olhos que lembravam céu nublado e tempestuoso. Corpo esguio, vestido justo de seda negra e branca. Asas brancas... mas manchadas nas pontas.
Ela olhou o rastro deixado por Lúcifer, suspirou e comentou:
— “Pelo visto... o Rei de Tóquio está a caminho.
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Atualizado até capítulo 9
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