A porta do consultório abriu com um rangido dramático, como se até ela quisesse contribuir para o clima de novela mexicana que parecia acompanhar a jovem que entrou. Cabelos longos, bolsa apertada contra o peito, e um olhar que alternava entre tristeza profunda e raiva contida. Assim que ela sentou, suspirou de forma tão exagerada que eu quase perguntei se ela precisava de um inalador.
–– Bianca! –– Falo chamando sua atenção. –– Senta-se por favor!
–– Assim, licença!
O que aconteceu? — perguntei, com um sorriso acolhedor, enquanto segurava minha vontade de rir do drama todo.
— É o Lucas! — ela praticamente gritou, como se o nome dele fosse uma ofensa pessoal. — Ele não me ama o suficiente!
"Ai, meu Santo António, prepara aí que hoje o babado é forte", pensei, mas apenas assenti com a cabeça para incentivá-la a continuar.
— Ele não faz nada por mim! Nunca manda mensagem fofa, nunca compra flores, nunca… — fez uma pausa teatral para respirar — … me leva para jantar em um lugar decente! Semana passada, sabe o que ele disse? Que pizza no sofá é mais romântico! Como pizza no sofá pode ser romântico?
Confesso que tive que me segurar para não rir. A revolta dela era genuína, mas a imagem mental do Lucas achando que pizza no sofá era o ápice do romance quase me fez perder a compostura.
— Entendo que você esteja frustrada — comecei tentando soar séria. — Você sente que está se esforçando mais do que ele na relação?
— Isso! Exatamente isso! Eu fiz um jantar romântico semana passada. Acendi velas, coloquei uma música suave. E sabe o que ele fez? Sentou no sofá e perguntou se podia assistir ao jogo enquanto jantávamos. O JOGO, ANNA!
— Isso deve ter sido… decepcionante — disse, enquanto mentalmente pensava: "Além de tudo, ainda torce pro time errado."
Ela continuou:
— E sabe o pior? Quando eu tento conversar sobre isso, ele diz que eu sou "exigente demais". Exigente demais! Só porque quero um namorado que me dê flores e faça uma declaração de amor de vez em quando. Isso é pedir muito?
Eu abri a boca para responder, mas ela me cortou:
— E antes que você pergunte, sim, eu acendi velas. Sim, eu fiz uma novena. E, sim, Santo Antônio continua me ignorando.
Essa foi a gota d'água. Não consegui segurar o riso. Ela me olhou, surpresa, mas logo também riu.
— Sabe, você não precisa de Santo Antônio — eu disse. — Você precisa de um manual de treinamento para o Lucas. Ou melhor, de um controle remoto para dar um pause nele e ensiná-lo algumas coisas básicas sobre romance.
Ela riu mais alto dessa vez, e percebi que o clima estava mais leve.
— Mas, falando sério agora — continuei. — Você conversou com ele sobre como se sente?
— Conversei, mas ele sempre responde com algo tipo "Ah, você sabe que eu não sou bom com essas coisas."
— Ok, mas já tentou algo mais direto? Tipo: "Lucas, eu gosto de flores. Quero flores. Me dê flores." Homens, às vezes, precisam de instruções simples e claras.
Ela arregalou os olhos, como se eu tivesse acabado de revelar o segredo da vida.
— Eu nunca pensei nisso!
— Pois é. Você acha que ele vai adivinhar? Lucas não é um vidente. Ele é um homem, e, como todo homem, provavelmente acha que você está satisfeita com a pizza no sofá. Agora, se depois disso ele continuar sem fazer nada, aí você tem duas opções: aceita ou entrega o cara. Porque, sejamos sinceras, ninguém merece viver sem flores.
Ela deu uma risada alta, jogando os cabelos para trás.
— Anna, eu adorei você! Você devia ser terapeuta e comediante ao mesmo tempo.
— Eu tento, mas Santo Antônio não aprova minha agenda dupla.
Quando ela saiu, ainda rindo, pensei comigo mesma: "Missão cumprida." Olhei para a estatueta do Santo Antônio na estante e murmurei:
— Mais uma salva… E você? Quando vai trabalhar na minha vez, hein?
Apenas o silêncio respondeu, mas juro que o Santo parecia estar segurando um sorriso.
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Atualizado até capítulo 23
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