— O que uma criança de 8 anos saberia sobre a sua própria vida?
Meus olhos se encheram de lágrimas quando Brendo me encarou com uma expressão feroz.
— Ela está chorando! — disse Marcos em tom de zombaria, rindo da minha situação.
— Está com medinho! — Brendo fechou o punho e veio na minha direção. Fechei os olhos com força.
— Brendo! Solte-a agora! — gritou a Freira Gabriela.
Abri os olhos de susto e, sem pensar, saí correndo dali com toda a minha força. Não olhei para trás, apenas corri, como um gato assustado. Ouvi a freira me chamar, mas não me importei. Eu era pequena, uma garota de 8 anos que sabia muito bem o que enfrentaria dentro de um orfanato. Então, eu entendia o suficiente sobre a vida para saber quando fugir.
Corri até chegar à velha figueira. Aquela árvore sempre me intrigava: seus galhos grossos, quase como braços estendidos, pareciam me convidar para um esconderijo. Olhei para o alto e vi o céu azul e nuvens enormes, que pareciam algodão-doce. Os raios dourados do sol atravessavam as folhas da figueira, criando desenhos de luz e sombra no chão. Fiquei contemplando a árvore por um tempo e, depois de suspirar profundamente, tomei uma decisão.
— Anna! — falei para mim mesma, batendo levemente nas minhas bochechas, que com certeza estavam vermelhas. — Vou subir! Quero explorar o mundo lá de cima!
Olhei para os lados e, depois de me certificar de que ninguém estava por perto para me impedir, decidi aceitar o desafio. Comecei devagar, testando a firmeza do tronco. Com minhas mãos pequenas, agarrei as rugas da casca como se fossem degraus mágicos. Meu coração batia rápido, não de medo, mas de pura excitação. Subir era mais difícil do que eu imaginava, mas cada galho conquistado me fazia sorrir mais. A cada passo, sentia o vento ficando mais fresco e o mundo lá embaixo se afastando, como se eu estivesse entrando em um universo secreto só meu.
Quando finalmente alcancei um galho alto o suficiente para me sentar, ofegante, olhei ao redor e senti algo que nunca havia experimentado antes: liberdade. Lá do alto, eu podia ver o jardim inteiro e até as montanhas ao longe. As flores do quintal pareciam pintinhas coloridas no chão, e os telhados das casas vizinhas, que antes me pareciam tão grandes, agora eram minúsculos. Eu me senti poderosa, como se fosse dona daquele pedaço do céu.
A brisa balançava suavemente os galhos ao meu redor, e eu fechei os olhos por um instante, ouvindo o som das folhas sussurrando segredos que só eu podia entender. Quando abri os olhos novamente, senti uma curiosidade avassaladora. “O que mais existe para ver?”, pensei. De lá, conseguia imaginar o mundo inteiro para além daquelas árvores, além das ruas, talvez até mesmo além do horizonte. Subir naquela árvore não era apenas uma aventura — era como descobrir uma nova forma de ver a vida.
Fiquei ali por um bom tempo, sentindo-me leve como um pássaro. Eu sabia que teria que descer e enfrentar Brendo, aquele garoto estúpido, mas, por enquanto, nada disso importava. Lá em cima, eu era apenas eu mesma — uma menina com sonhos grandes, uma exploradora em seu próprio reino secreto.
— Miau!
Olhei para trás e vi um gato assustado. Notei o medo nos seus pequenos olhos e senti que devia protegê-lo. Aproximei-me com cuidado, mas, quando cheguei perto, ele cravou suas garras na minha mão. A dor foi aguda e imediata.
— Eu odeio gatos! — gritei, segurando minha mão dolorida.
E foi assim que comecei a odiar os gatos.
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Atualizado até capítulo 23
Comments
jane
amo seus livros autora li quase todos /Smirk/
2025-02-24
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