Calombo

Escuto uma música se infiltrando em meus sonhos. Já é a quarta vez que a ouço, mas desta vez, ela me distrai de uma cena que até então era perfeita: lindos pilotos de Fórmula 1 fazendo fila para me conquistar. Olho para Charles Leclerc, em seu impecável uniforme vermelho da Ferrari.

— Amor vermelho! — digo, encarando-o com intenções claras.

Ele se aproxima. Ficamos frente a frente, e consigo sentir o seu perfume, que faz meu coração saltar de alegria. Ele continua se aproximando, enquanto outros pilotos reclamam ao fundo. Fecho os olhos, com um grande bico nos lábios, pronta e desesperada por um beijo. Mas a música, agora mais familiar, interrompe tudo.

— É meu celular despertando! — exclamo. Empurro Charles bruscamente e acordo assustada. — Não!

Levanto da cama numa velocidade tão desastrada que acabo escorregando no edredom e caio no chão com um estrondo. Minha testa atinge o piso, e a dor é imediata.

— Ai, ai, ai! — gemo, sentindo o calombo que começa a se formar na minha testa.

Saio do quarto e vou ao banheiro, percebendo que só tenho 30 minutos para me arrumar antes de sair para o trabalho. Eu deveria ter levantado às 6:00, mas a cama era irresistível. Sento-me no vaso sanitário e começo a lamentar.

— Tão perto, tão perto! — resmungo, recordando o sonho interrompido.

Levanto e, resignada, arranco as roupas. Lembro que não tomei banho ontem à noite, então a decisão é fácil: preciso de um banho. Pego a escova de dentes, coloco creme dental e, sem nem olhar para o espelho, entro no chuveiro. Sob a água quente, minha mente volta a Charles Leclerc. Que homem lindo! Rio sozinha enquanto lembro do sonho.

Renovada, saio do banheiro e entro no quarto. Pego o celular e quase grito ao ver a hora.

— Faltam 10 minutos! — exclamo. Meu olhar recai sobre a estatueta de Santo Antônio na estante. — O senhor tinha que ter me acordado! Calma, Anna, calma.

Abro o guarda-roupa com pressa e começo a jogar as roupas no chão em busca de algo que me salve. No meio do caos, encontro um macacão verde. Analiso-o rapidamente.

— Não tenho tempo para passar!

Desisto do macacão e, no final, visto a mesma calça jeans de ontem e uma blusa branca com a Lisa Simpson estampada.

— Vai servir. Afinal, sou psicóloga e não designer de moda!

Saio do quarto, abro a porta de casa e corro para o trabalho. Faltam dois minutos, mas, por sorte, o Posto de Saúde Santo Agostinho fica próximo. Trabalho como psicóloga lá, cargo conquistado no concurso do ano passado.

Passo por duas esquinas e viro à direita. Ao caminhar mais um pouco, avisto o posto, que já está lotado. Tento entrar, mas a quantidade de pessoas dificulta a passagem.

— Licença, por favor! — peço, enquanto me esgueiro pela multidão.

— Deixem a moça entrar! — escuto algumas vozes solidárias.

Finalmente consigo atravessar a recepção, ofegante, e me deparo com Shirley, que logo se aproxima com um sorriso debochado.

— Aposto que acordou atrasada! — diz ela, claramente se divertindo.

— Nem foi! Fui correr antes de vir e me atrasei — minto, desviando o olhar.

Ela ri alto, sem acreditar.

— Eu até acreditaria. Mas se me dissesse que se atrasou porque sonhou com o Charles, eu diria que é perda de tempo! — Shirley aponta para minha testa. — Isso é moda?

Levo a mão à testa, sentindo o calombo.

— Ai! — reclamo, tirando a mão rapidamente.

— Agora você tem um chifre de unicórnio! — ela debocha, rindo ainda mais.

— Vou para minha sala! — respondo, pegando o primeiro prontuário da pilha. — Bianca? — suspiro, chamando a paciente.

— Boa sorte! — Shirley diz, ainda rindo da minha situação.

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