Entramos e meu irmão estava jogado no sofá, diferente das minhas irmãs pareceu não dar a mínima para o meu retorno. Eu me lembro desta minha fase, talvez eu fosse assim.
E aí mano? Como cê tá? - perguntei sentando ao lado dele
De boa.
Você voltou mesmo Fêfê? - Perguntou Duda curiosa.
Só vim passar o Natal meu amor. Preciso voltar para trabalhar no final de ano.
Eu não quero! - falou cruzando os bracinhos e fazendo a camisa curta subir e mostrar uma barriguinha saliente fofa
Nem eu. - a mais velha completou.- Você podia levar a gente pra praia Fê.
Isso não é comigo princesa eu vim de moto, não cabem as duas. - justifiquei mentindo para elas, eu não tinha como levá-las mesmo. só não era culpa da moto.
Compra um carro então. - eu gargalhei ouvindo a resposta simplista dela. Se a vida fosse fácil assim...
Meninas, deixem o seu irmão descansar um pouco. Filho, não quer tomar um banho? tá com fome?
Tô de boa mãe, talvez só um banho mesmo.
Leva suas coisa para o seu quarto.
Vou lá.
No quarto bastante coisa já tinha mudado, Bernardo estava mudando. Tudo estava jogado, os brinquedos deram lugar pra outros interesses, bandas, cavalos. um autêntico adolescente do interior de Minas Gerais, já corri muita fazenda atrás de cavalo, boi, vaca, porco. Dirigi um trator com 11 anos. Aqui parece ser outro mundo agora.
Na janta meu pai apareceu, vindo do Elias o bar da esquina onde se reune com os amigos. A barriga cresceu, ou a camisa encolheu. Infelizmente eu tenho nojo do meu pai, ele cheira a cigarro, bebida e suor. Era véspera de Natal e ele estava se esbaldando num bar ao invés de estar com a família. E minha mãe o tratando como se fosse um príncipe.
Jantamos conversando basicamente eu minha mãe e as meninas, Bernardo nos ignorou e meu pai só abriu a boca para dizer que o feijão estava salgado. Eu não o dirigi o olhar, só olhei para ela, que mais uma vez perdeu mais uma fagulha do seu brilho.
Eu errei a mão mesmo.
Está tudo delicioso mãe, estava com saudade da sua comida. Ninguém te supera. - ela me deu o sorriso triste, aquele que diz: obrigada.
ôh mãe, posso comer o pudim? - disse empolgada
Oxi, nem terminei de comer menina. Respeite seu pai, sossega seu facho!
Sempre a mesma merda, sempre aquela sensação de homem importante da casa, e subjugando todos ao redor, eu odeio ele.
Daqui a pouco amor. - ver minha mãe vivendo isso sempre me magoa muito, se tem alguém que não merece isso é ela.
Fabiana, que conversa é essa de fazer pudim hoje? Ficamos ricos e eu num tô sabendo?
Que isso Luiz, nosso filho chegou. É motivo de sobra para comemorar ele aqui com nós.
Mudou porque quis, na hora de dar alguma vantagem pra gente caiu no mundo. Filho é isso aí, você dá do bom e do melhor e eles somem assim que podem. - a raiva me dominou, eu já estava pronto para responder e ela segurou minha mão suplicando em silêncio para eu me calar.
Para mim ninguém faz pudim, meu pai tá certo. O dia de fazer essas coisas tudo é amanhã. - ouvir Bernardo falando isso me mostrou o quão contaminado ele está e como precisa sair deste ambiente.
Quando o dia amanheceu eu convenci com muito custo a minha mãe sair para comprar presentes comigo. Eu estava reservando dinheiro para isso, as últimas baladas do ano renderam muito e o réveillon daria ainda mais, eu poderia guardar uma parte e mandar mais grana para ela.
No interior de Minas, na véspera de natal as poucas opções de lojas abertas em que entramos as coisas eram bem mais baratas do que no Rio e a todo tempo ela dizia não precisar de nada. Não dei ouvidos, comprei roupas e calçados para ela, eu sabia que ela precisava.
Tudo o que ela escolhia era para os meus irmãos e por fim ainda teve a coragem de pedir uma camisa para o meu pai, porque ele estava precisando "tadinho". Se gastasse menos com cachaça sobraria mais, só que não era dia de falar sobre isso e deixei ela escolher os presentes dela.
Eu escolhi os meus, além das roupas e calçados que escolhi para ela comprei brinquedos para minhas irmãs e um tênis para o meu irmão, e isso era tudo. Minha lista tinha quatro pessoas e uma delas nem estava merecendo grandes coisas, mas... família é isso.
Quando voltamos para casa as meninas estavam brincando na rua com as filhas da vizinha, se tinha uma coisa boa no interior era isso. Aqui as crianças tem esta liberdade. A educação é precária, saneamento básico, mas as possibilidades para elas serem crianças eram maiores e vendo os cachos loiros da Dudinha colando na testa eu me sinto feliz pelo menos por isso.
Onde é que você se meteu? - Foi o que ela ouviu a entrar.
O Fê queria comprar umas coisas e me chamou para ir mais ele, mas eu deixei tudo adiantado. só esquentar.
Sabe que eu não gosto de comida requentada! - esbravejou batendo a porta
Só não comer então! - ele me olhou irado
Acha que pode chegar dentro da minha casa e achar que tá por cima da carne seca? Quem manda aqui sou eu seu moleque. - ele veio para cima de mim, eu o encarei de volta, já não sou aquela criança que ele espancava e se ele tentar a coisa não vai ficar bonita.
Acha que pode tratar a minha mãe feito lixo? Não sou mais aquele menino indefeso e se você tratar ela mal na minha frente vai aprender a conversar com um homem. - eu estava pronto para bater no meu pai, eu malhava muito, e sem dúvida teria prazer em fazer ele sofrer
Fê, pelo amor de Nossa Senhora! Não faz uma besteira, seu pai só está nervoso. Nós demoramos muito.
Mãe... - eu a olhei decepcionado e ela suplicando
Por favor... Eu tô te pedindo para manter a paz.
Eu virei as costas, subi na minha moto e fui embora eu não sou mais capaz de viver isso, não aguento!
Os tempo foi passando e cada vez eu voltava menos para aquele lugar, falava com minha mãe e irmãs, e fazia questão de nunca mencioná-lo.
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Atualizado até capítulo 98
Comments
Psycho
achei fofo ele com as irmãs
2025-02-19
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