Voltar para casa não era uma coisa que me dava prazer, por mais que eu ame demais a minha mãe e os meus irmãos, eu odeio o meu pai e tudo o que ele faz eu sentir. Mas, como dizer não para sua mãe no Natal? Que tipo de filho e irmão eu seria? Ela sente minha falta, afinal a maior parte da vida dela viveu comigo, foram 18 anos de parceria intensa. Foram muitos abraços e lágrimas compartilhados.
Quem me vê rindo e brincando na JOY ou na faculdade não faz ideia de quem eu sou realmente. Me veem como um cara bonito e superficial, o cara tatuado, o que vive nas festas, um pegador sem coração nem conteúdo, o amigo da galera. O motoqueiro com pinta de Bad boy. Só que eu sou uma pessoa totalmente diferente de tudo isso que pode ser visto na superfície. Sinto que todos me veem, mas fora minha a mãe ninguém me conhece ou enxerga de verdade.
Eu sou um cara que estuda mais que a maioria, que trabalha em 2 empregos porque precisa da grana. Que comprou uma moto só para poder conseguir dormir pelo menos 5 horas por dia. Sou o cara que várias vezes vai virado para aula porque precisou trabalhar até o dia amanhecer, mas não deixa de ir. Um cara leal ao meus, que se importa com as pessoas e tenta ser correto todos os dias e fazer o melhor que eu puder pela minha rainha e meus irmãos.
Ainda assim, é um esforço terrível voltar para a casa onde cresci. Eu parei minha moto na porta e olhei para a fachada atrás das grades. Está encardida. Mais do que eu me lembrava, mas as roseiras da minha mãe estão lindas. O quintal limpo e bem cuidado, porque o que depende da minha mãe sempre é bem feito e feito com amor.
Natal não é a época mais procurada para baladas, todos querem a reunião familiar, a mesa cheia de gente, os presentes os risos. Só que para mim eu lembro de choro, de tristeza, da sensação de impotência. Ver quem você ama sofrendo é de cortar na alma e eu vejo a tristeza nos olhos da minha mãe desde sempre, desde bem jovem, assim que eu soube o significado de tristeza eu vi isso nela dia após dia.
Não quis ir entrando, não sinto que devia fazer isso, não moro aqui. Não sou dono da casa, ouvi isso tantas vezes. Já pensei até em atear fogo nessa merda velha que foi herdada dos meus avós por parte de pai, não sinto que é minha casa porque sempre me foi dito que eu estava na casa dele. Depois dos 13 eu fiz de tudo para ficar o mínimo possível neste lugar. Só voltava toda tarde por causa dela.
Toquei a campainha e esperei com minha mochila nas costas e meu capacete no antebraço. Ansioso, inquieto, preocupado com o que eu iria achar atrás deste portão. Quando a porta se abriu o meu sorriso foi instantâneo. Minhas irmãs saíram disparadas para a entrada onde eu estava. Felizes por me ver.
Mamãããe é o Fêfê! - Gritou Dudinha descabelada vindo desesperada e descalça
Meu irmão chegou! - gritou Laís para ninguém em particular. As duas só gritavam e sorriam, a inocência é uma benção.
Oi meus amores! - Eu abaixei agarrando as duas, uma em cada braço. Que saudade que eu estava de vocês.
A minha mãe fez pudim!!! - a menor fofocou no meu ouvido - surpresinha
Minha mãe veio logo atrás das meninas com um pano de prato secando as mãos e um sorriso que foi até os olhos, olhos iguais aos meus. Estes momentos são tão raros, fico imensamente feliz por ser o responsável por trazer alegria para ela.
Meu parceirinho voltou. - eu posso ser um homem feito, mas ela ainda me vê como aquele menininho. - até que enfim você chegou meu amor, não aguentava mais de saudade.
Soltei minhas irmãs e me agarrei à minha mãe, esta mulher é o amor da minha vida. Eu a levantei do chão com a cabeça deitada no ombro dela, ela sim é minha família, ela é o amor da minha vida. A minha rainha a pessoa mais importante da minha vida.
Ôh mãe... - Dentro do meu abraço eu a senti chorar - não chora minha rainha, eu também morro de saudades de você.
Feliz Natal! - Ela disse me olhando nos olhos e encostou o nariz dela no meu como fazíamos desde que eu era criança.
Feliz Natal!
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Atualizado até capítulo 98
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