Segredos e Dividas

CAPÍTULO: SEGREDOS E DÍVIDAS

Naquela noite, enquanto Josefina dormia profundamente após o cansaço de um dia longo na cidade, Elena permaneceu acordada, olhando para o envelope envelhecido que encontrou no porão. Algo dentro dela dizia que aquele pedaço de papel era importante, como uma chave para entender tudo o que estava acontecendo.

Segurando uma lamparina fraca, abriu a carta novamente, agora com mais calma. As palavras de sua mãe, Vitória, pareciam ganhar vida na luz tremulante.

“Minha querida mamãe, se você está lendo isso, algo aconteceu comigo. Por favor, cuide da Elena. Ela é tudo para mim e Victor. Há algo que nunca te contei, mas é importante que saiba. Antes mesmo da Elena ser uma realidade dentro do meu ventri,fiz uma promessa à minha amiga Mariana. Prometi que, se fosse uma menina, como sempre senti em meu coração ,quando ela crescesse, se casaria com o filho de Mariana, Miguel. Era uma forma de unir nossas famílias e garantir um futuro para Elena. Mariana e sua família eram influentes e ricas, e eu achei que seria o melhor para ela. Mas... tenho medo de que essa promessa traga problemas. Me perdoe, mamãe. Eu não sabia que a vida tomaria esse rumo...”

Elena sentiu um frio na espinha ao ler aquilo. Sua mãe havia prometido sua mão em casamento? Ela mal conseguia imaginar o que isso significava, mas sentia um nó no estômago. Quem era esse Miguel? E por que sua mãe achou que isso seria uma boa ideia?

Seu coração começou a bater mais rápido. Será que a promessa ainda era válida? Será que essa família rica sabia de sua existência? Ela guardou a carta novamente no envelope, sentindo-se mais confusa do que nunca.

Enquanto isso, a história de Raul pairava como uma sombra sobre o sítio. Tio Raul não era sempre assim. Antigamente, quando Elena era pequena, ele era um homem trabalhador, mas tudo mudou depois que começou a se envolver com jogos de azar e bebidas. O vício destruiu sua vida aos poucos.

Raul começou com pequenas apostas, mas logo estava endividado até o pescoço. Para piorar, contraiu dívidas com pessoas perigosas – incluindo membros de uma pequena máfia local que controlava o jogo ilegal na região. Quando não conseguia pagar, Raul recorria a empréstimos ainda mais arriscados, mergulhando em um ciclo de desespero e autodestruição.

Com o tempo, a máfia começou a pressioná-lo. Primeiro, vieram as ameaças verbais. Depois, começaram a aparecer mensagens escritas na porta do sítio e visitas de homens sinistros que aterrorizavam a casa. Raul tentou esconder a gravidade da situação, mas Josefina sabia que ele estava em apuros.

Certa vez, ele perdeu um grande valor em uma aposta e, para se livrar das consequências imediatas, entregou uma parte da herança de Elena – o pouco que Vitória havia deixado para a filha após sua morte. Josefina ficou arrasada quando soube, mas não conseguiu recuperar nada. Desde então, Raul se tornou ainda mais sombrio, com o peso da culpa e a perseguição de seus credores.

A situação piorou quando ele começou a usar drogas. As substâncias o deixavam agressivo e imprevisível, especialmente quando combinadas com a bebida. Para Josefina, era um desafio manter Elena segura enquanto Raul estava por perto.

Na manhã seguinte, Josefina percebeu que Elena estava ainda mais calada do que o normal. Mesmo quando fazia o mingau de fubá que a neta tanto gostava, ela notou que a menina estava distraída, como se carregasse um segredo.

— Minha menina, está tudo bem? Está tão quietinha... — perguntou Josefina enquanto mexia o mingau na panela.

— Estou bem, vó. Só tive um sonho esquisito, — mentiu Elena, desviando o olhar.

Josefina a observou por um momento, mas decidiu não insistir.

Mais tarde, enquanto Josefina estava cuidando da horta, Elena voltou ao porão onde encontrou a carta. Precisava entender mais sobre essa promessa. Vasculhou a escrivaninha antiga, procurando por algo que pudesse dar mais pistas. Foi quando encontrou uma pequena caixa de madeira trancada.

Elena levou a caixa para o quarto e tentou abri-la, mas estava bem fechada. Com a ajuda de uma faca, conseguiu forçar a tampa. Dentro, havia algumas fotos antigas e mais papéis. Entre eles, um contrato assinado com o nome de sua mãe e Mariana, mencionando o acordo sobre o casamento.

Além disso, encontrou uma foto de um menino que parecia ser Miguel. Ele era alguns anos mais velho que ela, com olhos intensos e uma expressão séria e sombria. Elena encarou a foto, sentindo um misto de curiosidade e inquietação. Quem era ele agora? Será que sabia desse acordo?

De repente, ouviu passos no corredor. Apavorada, escondeu a caixa e os papéis debaixo do colchão. Era Raul, que parecia mais sóbrio do que na noite anterior, mas ainda trazia um olhar desconfiado.

— O que está fazendo aqui, menina? — perguntou ele, olhando ao redor.

— Nada, tio. Só arrumando umas coisas, — respondeu, tentando parecer tranquila.

Raul estreitou os olhos, mas não disse nada. Ele parecia estar pensando em algo. Elena segurou o fôlego até que ele saiu do quarto.

Assim que ficou sozinha novamente, Elena pegou a foto de Miguel e encarou-a mais uma vez. Algo dizia que aquele acordo de sua mãe não ficaria enterrado por muito tempo. E, com Raul envolvido em tantas dívidas e problemas, ela temia que o passado logo viesse à tona, trazendo consequências que ela não poderia evitar.

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