FUGA E ESPERANÇA

CAPÍTULO: FUGA E ESPERANÇA

Ao amanhecer, Josefina saiu de casa determinada a vender seus artesanatos na cidade. Sem transporte próprio, ela caminhou até a estrada de terra para tentar conseguir uma carona. O sol nascente iluminava o caminho, e ela carregava no olhar o peso da responsabilidade por sua neta, Elena.

Josefina aguardou por alguns minutos até que o ronco de um motor antigo cortou o silêncio. Era a velha caminhonete de Seu Augusto, um vizinho generoso que sempre ajudava quando podia.

— Bom dia, dona Josefina! Indo para a cidade? — perguntou ele, com um sorriso amigável.

— Bom dia, Seu Augusto. Sim, vou tentar vender meus tapetes e trazer um pouco de comida pra casa, — respondeu, subindo com dificuldade no banco do passageiro.

— Pode entrar, mas me desculpe pela bagunça. Essa velha aqui já viu dias melhores, — brincou ele, apontando para a caminhonete cheia de caixas e sacos de mantimentos.

Josefina sorriu, tentando aliviar a tensão no peito.

— E como vai a menina? — perguntou Seu Augusto, curioso.

— Ah, Elena é um anjo. Ela traz alegria para meus dias, mas criar uma criança sozinha... não é fácil.

— Imagino, dona Josefina. Mas a senhora é forte. Essa menina é especial, tenho certeza de que vai longe.

As palavras de Seu Augusto eram reconfortantes, mas Josefina não conseguia ignorar o pressentimento inquietante que carregava desde cedo.

Enquanto isso, no sítio, Elena estava em apuros. Depois de escapar pela janela do quarto, ela caiu de joelhos no chão, sentindo a dor dos arranhões, mas não tinha tempo para lamentar. O som da respiração pesada de Raul e seus passos trôpegos ecoavam atrás dela.

— Volta aqui, menina! Você não vai fugir de mim! — gritou Raul, furioso, tentando passar pela mesma janela.

Elena correu o mais rápido que pôde, ignorando o chão coberto de pedras e galhos que machucavam seus pés descalços. Ela sabia exatamente para onde ir: o pequeno galpão ao lado da horta. Lá, havia um buraco estreito onde costumava se esconder quando as coisas ficavam feias.

Chegando ao galpão, se encolheu no esconderijo, respirando com dificuldade. Lá fora, os passos pesados de Raul se aproximavam, e sua voz ecoava sinistra.

— Elenaaa... eu sei que você está aqui! Não adianta se esconder!

Elena mordeu o lábio para conter o choro. Seu coração batia tão rápido que parecia prestes a explodir. Raul andou ao redor do galpão, chutando a porta e os caixotes empilhados, mas não a encontrou.

— Você não pode se esconder para sempre, menina! Uma hora vai sair!

Após longos minutos, o silêncio tomou conta do lugar. Raul parecia ter desistido momentaneamente, mas Elena permaneceu imóvel no esconderijo. A dor nos joelhos e o desconforto da posição eram intensos, mas nada comparado ao pavor que sentia ao lembrar do olhar sombrio de Raul.

Horas depois, Josefina voltou para casa com um pacote de fubá, meio quilo de carne e meia dúzia de ovos. Não era muito, mas era o que conseguiu com o dinheiro dos tapetes.

— Elena? — chamou Josefina, entrando pela porta.

Elena saiu do quarto com um sorriso forçado, tentando disfarçar o medo que ainda sentia.

— Oi, vó! Como foi na cidade? Conseguiu vender os tapetes?

— Consegui, minha menina. Trouxe fubá, um pouco de carne e ovos. Hoje vamos fazer um mingau bem gostoso pra gente jantar.

Elena assentiu e ajudou a avó a guardar as coisas, mantendo-se em silêncio. Ela não contou nada sobre o que havia acontecido. Tinha medo de que Raul brigasse com a avó e complicasse ainda mais as coisas.

Durante o jantar simples, Josefina percebeu que Elena estava mais calada do que o normal, mas acreditou que fosse apenas cansaço.

— Você está bem, minha menina? Está quietinha hoje.

— Estou, vó. Só um pouco cansada. — respondeu Elena, tentando parecer tranquila.

Josefina acariciou o rosto da neta e sorriu, aliviada por estarem juntas naquela noite.

Depois do jantar, enquanto Josefina arrumava a cozinha, Elena subiu para o quarto. Antes de dormir, pegou o envelope envelhecido que havia encontrado no porão mais cedo. Ela ainda não havia mostrado à avó. Dentro, havia uma carta escrita pela mãe, Vitória.

Ao abrir o envelope, Elena leu as primeiras palavras:

— “Minha querida mamãe, se você está lendo isso, algo aconteceu comigo. Por favor, cuide da Elena. Ela é tudo para mim e Victor. Há algo que nunca te contei...”

Elena fechou a carta rapidamente ao ouvir o som de passos na casa. Guardou o envelope debaixo do travesseiro, prometendo a si mesma que leria o resto quando estivesse sozinha. O segredo de sua mãe parecia estar mais perto de ser revelado, mas ela não sabia que aquele mistério mudaria tudo.

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