A SOMBRA DO MEDO
— Elenaaa, vem tomar banho para jantar! — a voz de Dona Josefina ecoava pelo quintal, firme e cheia de carinho.
Quando não obteve resposta, ela insistiu:
— Elenaaaaa! Cadê essa menina?
De repente, uma risada inocente veio do alto da grande mangueira.
— Estou aqui, vó!
Josefina olhou para cima e viu Elena descendo habilmente do galho mais baixo, segurando dois abacates grandes e maduros.
— Menina, quer me matar de susto? Quantas vezes já falei para não subir em árvores? — ralhou Josefina, cruzando os braços, mas o olhar denunciava o rompimento de ver a rede inteira.
— Tá bom, vozinha, desculpa! Vem cá, deixa eu te dar um beijinho. Te amo, vozinha! — Elena respondeu com um sorriso maroto, plantando um beijo estalado na bochecha da avó.
Josefina suspirou e, derrotada pelo carinho da neta, não pôde deixar de sorrir.
— Ah, Elena... Vamos para casa. Vou preparar esse abacate com açúcar para você comer.
— Ebaaaa! Vamos logo, vó!
Quando chegou à casinha simples, Josefina pegou o último restinho de açúcar que tinha. Amassou o abacate com cuidado e entregou à neta, que comeu com entusiasmo.
Enquanto Elena saboreava a fruta, Josefina aproveitou para falar:
— Helena, amanhã eu vou à cidade tentar vender os tapetes e artesanatos. Você vai ficar com o seu tio Raul, viu? E trate de se comportar! Nada de sumir ou subir em árvores, entendeu?
Elena apenas balançou a cabeça, concordando, mas por dentro sentiu um aperto.
Ficar com o tio Raul é estranho... Ele não gosta de mim. A menina lembrou enquanto terminava de comer. Vive dizendo que sou um peso, que devia ter morrido com meus pais naquele acidente. Já sofri muito com as palavras dele...
Josefina, que desconhecia a extensão das palavras cruéis de Raul, sempre dizia:
— Ele só fala essas coisas porque está bêbado. Não liga, minha menina.
Depois de terminar o abacate, Elena tomou banho, escovou o cabelo e foi deitar. Já sabia que provavelmente não teria janta naquela noite, pois toda a comida estava acabando.
De madrugada, Elena acordou sentindo os lábios da avó em sua testa.
— Volto à noite, minha menina. Irei vender os artesanatos e trazer comida pra nós.
Elena deu um beijo na avó e voltou a dormir, sem saber que o dia seria muito mais difícil do que poderia imaginar.
Quando o sol mal começou a iluminar o quarto pelas frestas da parede de madeira, Elena foi despertada por uma sensação estranha. Estavam com os olhos ainda embaçados, mas sentiam que havia alguém na porta.
Abrindo os olhos devagar, viu a silhueta de Raul encostada no batente. Ele estava sorrindo e coçando o nariz compulsivamente, com o olhar fixo nela.
— Tio, precisa de alguma coisa? — Disse, a voz ainda sonolenta e hesitante.
Ele não respondeu. Em vez disso começou, a caminhar devagar em sua direção. Cada passo parecia um aviso sombrio.
O cheiro de bebida e suor ficou mais forte conforme ele se aproximasse. Raul parecia completamente fora de si, os olhos vidrados e escuros, quase irreconhecíveis.
Elena sentiu o coração disparar. Suas mãos começaram a tremer, e o prazer tomou conta do seu estômago. Tentou gritar, mas sua voz não saiu. Era como se o medo tivesse roubado sua força.
Raul parou na ponta da cama, observando-a. O sorriso sinistro que ele abriu fez com que Elena soubesse, naquele momento, que estava em perigo.
A claridade tímida do amanhecer entrava pelas frestas da madeira, iluminando parcialmente o quarto. Ela olhou ao redor, procurando desesperadamente uma saída, algo que pudesse fazer para escapar.
— Você é igualzinha à sua mãe... — Raul murmurou, a voz arrastada e rouca, inclinando-se levemente para frente.
Elena tentou se afastar, mas suas costas já estavam encostadas na cabeceira da cama. Não havia mais para onde ir.
Raul se aproximou mais um pouco, e Elena, agora tremendo dos pés à cabeça, sentiu que precisava agir rápido. Seus olhos se fixaram na janela ao lado da cama. Era sua única chance.
Raul estendeu a mão, e naquele momento, Elena se reuniu com toda a força que conseguiu:
— Sai daqui! Deixa eu em paz!
Sua voz ecoou pelo pequeno quarto, e por um instante, Raul pareceu hesitar. Elena aproveitou a oportunidade, empurrou o cobertor na direção dele e pulou da cama, correndo em direção à janela.
Sem pensar duas vezes, abriu uma janela com dificuldade e saltou para o lado de fora, aterrissando no chão de terra com um baque surdo.
Sentiu os joelhos ralarem e uma dor insuportável
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Débora
Tomara que ela consiga fugir desse nojento
2025-03-05
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