A noite em Carmelita tinha um peso próprio, como se o silêncio carregasse algo antigo, esperando para se libertar. Dante estava no corredor do segundo andar, segurando uma lanterna antiga que encontrara no depósito. A luz tremeluzente iluminava apenas alguns passos à frente, deixando o resto do corredor mergulhado na escuridão.
Ele não estava ali por acaso. Após o incidente com a estante e os passos ouvidos na noite anterior, algo em seu íntimo o impulsionava a investigar. Era uma coragem que nascia de sua timidez: mesmo com o medo o consumindo, ele não queria que os outros carregassem esse fardo sozinhos.
Ao passar pela porta do antigo quarto de hóspedes, Dante ouviu um som baixo – um sussurro quase imperceptível. Ele parou, prendendo a respiração. Por um momento, achou que fosse o vento, mas o som se repetiu, mais claro desta vez.
— ...Dante...
Seu coração saltou. Era seu nome. Ele girou a cabeça rapidamente, mas o corredor estava vazio. Sentiu um calafrio subir pela espinha, enquanto a lanterna piscava brevemente, deixando-o na escuridão por um instante que pareceu eterno.
Ele tentou se convencer de que estava imaginando coisas, mas então a porta do quarto de hóspedes se abriu lentamente, rangendo como se convidasse sua entrada.
— Que diabos... — sussurrou, apertando a lanterna com mais força.
Reunindo coragem, Dante entrou. O quarto estava coberto de poeira, como se ninguém o usasse há décadas. O ar estava pesado, com o cheiro de madeira apodrecida e algo mais – algo metálico, como ferrugem ou sangue. A lanterna iluminou os móveis cobertos por lençóis, mas foi o espelho antigo no canto da sala que chamou sua atenção.
O vidro estava embaçado, com marcas de dedos, como se alguém tivesse tentado sair de dentro dele. Dante sentiu o sangue gelar, mas, antes que pudesse se afastar, algo aconteceu.
Uma sombra apareceu no reflexo, alta e indefinida, pairando atrás dele. Ele se virou imediatamente, mas não havia ninguém ali. Quando olhou novamente para o espelho, a sombra ainda estava lá – e desta vez, começou a se mover.
Dante recuou, mas a porta do quarto se fechou com um estrondo, trancando-o lá dentro. O ar parecia mais denso, dificultando sua respiração. Ele ouviu um choro baixo, vindo de algum lugar na sala, e então a voz de uma mulher sussurrou:
— Ajudem-me... por favor.
Ele girou a lanterna, tentando encontrar a origem da voz, mas a luz vacilava, quase como se estivesse sendo engolida pela escuridão.
— Quem está aí? — perguntou, sua voz tremendo.
A resposta veio em forma de uma risada distorcida, que parecia ecoar de todos os cantos do quarto. Então, no espelho, uma figura começou a surgir – uma mulher de cabelos desgrenhados e olhos fundos, encarando-o como se pudesse vê-lo além do reflexo.
— Você não deveria estar aqui — disse ela, e o espelho estilhaçou com um estrondo ensurdecedor.
Dante se jogou no chão, protegendo o rosto enquanto cacos de vidro caíam ao seu redor. Quando ergueu a cabeça, o quarto estava novamente vazio, como se nada tivesse acontecido. Mas a porta estava aberta, e no chão, bem no centro do quarto, havia algo novo: uma fita de cetim vermelha, manchada de sangue.
Ele a pegou com cuidado, notando que estava amarrada a um pequeno bilhete. As palavras, escritas em uma caligrafia irregular, diziam:
“O que você procura está enterrado. Mas cuidado: o passado sempre cobra seu preço.”
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Gemma
Aaah, que ansiedade! Atualiza please! 😩
2025-01-25
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