O trovão ecoava distante, mas o silêncio dentro da mansão era quase ensurdecedor. Dante estava sentado na escrivaninha, encarando o diário que acabara de encontrar. A capa de couro tinha um cheiro levemente adocicado, misturado ao mofo da estante onde havia passado anos escondido. As palavras escritas ali pareciam um veneno que ele não conseguia ignorar. Se algo me acontecer, este diário será a única prova de que a verdade existiu.
O peso daquelas palavras ainda pressionava seu peito quando ele ouviu um rangido. Ele congelou, com a mão ainda sobre o diário. O som vinha do corredor.
Dante hesitou antes de se levantar. A velha mansão sempre fora conhecida por seus ruídos, mas havia algo diferente naquela noite. O ar parecia mais frio, e o cheiro de terra molhada invadia os corredores como um aviso. Ele abriu a porta do quarto devagar, tentando não fazer barulho, e olhou para o corredor vazio.
— Tem alguém aí? — perguntou, sabendo que provavelmente não obteria resposta.
O silêncio foi sua única resposta.
Ainda assim, ele desceu as escadas, cada degrau rangendo sob seu peso. Ao chegar à sala principal, encontrou Cecília arrumando as cortinas, com o rosto cansado e uma expressão fechada.
— Está tudo bem, senhor Dante? — perguntou ela, sem desviar os olhos do trabalho.
Ele demorou a responder.
— Você ouviu algum barulho? Algo no corredor?
Ela parou por um instante, apertando o pano em suas mãos, mas logo voltou ao trabalho.
— Essa casa sempre fez barulhos, senhor. O vento, o peso dos anos... nada com que se preocupar.
Apesar da resposta calma, Dante notou como suas mãos tremiam levemente. Algo na forma como ela evitava olhar diretamente para ele o deixou inquieto.
Mais tarde naquela noite, ele tentou se distrair explorando os velhos cômodos da casa. Havia anos que ele não entrava em alguns deles, e o cheiro de madeira apodrecendo parecia mais forte do que nunca. Em um dos quartos, encontrou um quadro antigo de sua mãe, Aurora. Ela o encarava com um sorriso leve, mas seus olhos pareciam esconder algo – algo que ele nunca percebeu quando criança.
Ao tocar a moldura, ele sentiu uma onda de nostalgia e dor. O que você sabia, mãe? Por que não contou nada para mim?
Enquanto olhava o quadro, ouviu novamente o som de passos. Dessa vez, mais claros, como se alguém estivesse andando pelo segundo andar. Ele correu para o corredor, mas novamente encontrou apenas o vazio.
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Na manhã seguinte, a chuva havia cessado, mas o céu continuava cinzento, como se o sol não tivesse coragem de aparecer. Dante decidiu sair para caminhar pela propriedade, mas não esperava encontrar Rafael no portão principal, encostado em seu velho carro.
— Você por aqui de novo? — perguntou Dante, franzindo o cenho.
Rafael ergueu uma das xícaras de café que segurava.
— Achei que você pudesse usar isso. Parece que não dormiu bem.
Dante aceitou a xícara, mas manteve a expressão desconfiada.
— Desde quando você tem o hábito de aparecer sem avisar?
— Desde que você voltou. — Rafael deu um gole no café e suspirou. — Escuta, Dante... eu preciso te falar uma coisa sobre o seu pai.
Dante estreitou os olhos, cruzando os braços.
— Estou ouvindo.
Rafael hesitou, olhando para a casa como se ela pudesse ouvir.
— Seu pai... ele não era só um recluso excêntrico. Rodolfo sabia demais sobre as pessoas dessa cidade. Pessoas importantes. Isso o tornou perigoso.
Dante arqueou uma sobrancelha, mais irritado do que curioso.
— Se isso for mais uma das fofocas da cidade, eu não tenho tempo para...
— Não é fofoca! — interrompeu Rafael, seu tom mais firme. — Há uma razão para ele ter se isolado. Ele guardava segredos que poderiam destruir muita gente, Dante. E agora que ele se foi, essas pessoas podem vir atrás de você.
Antes que Dante pudesse responder, um grito cortou o ar. Ele e Rafael se entreolharam, e Dante foi o primeiro a correr na direção do som.
O grito os levou ao antigo celeiro, um lugar que Dante não visitava desde a infância. O portão estava entreaberto, rangendo levemente com o vento. Lá dentro, eles encontraram Evelyn, ajoelhada no chão, com as mãos sujas de terra e uma expressão de puro choque.
— O que diabos você está fazendo aqui? — perguntou Dante, tentando recuperar o fôlego.
Evelyn levantou a cabeça devagar, o rosto pálido.
— Eu... eu estava investigando. Algo aqui não está certo.
Ela apontou para uma pequena caixa de madeira que estava parcialmente enterrada no chão. Dante se aproximou e abriu a caixa com cuidado, revelando uma foto antiga de um grupo de pessoas. No centro da imagem, estava seu pai, cercado por figuras que ele não reconhecia.
— Isso é alguma brincadeira? — perguntou ele, com o coração acelerado.
Evelyn balançou a cabeça.
— Eu não sei o que é isso... mas há algo escrito no verso.
Dante virou a foto, revelando a mensagem: "Eles sabem. Sempre souberam."
Rafael olhou por cima do ombro de Dante, seu rosto agora tão pálido quanto o de Evelyn.
— Isso... isso só pode ser um aviso.
Dante engoliu em seco, mas antes que pudesse dizer algo, ouviu passos vindos do lado de fora do celeiro. Eles se viraram ao mesmo tempo, mas não havia ninguém lá. Apenas o som do vento e o eco do grito que ainda parecia pairar no ar..
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Atualizado até capítulo 27
Comments
MiseryInducing
Adorei a história, mas preciso do próximo capítulo urgentemente!
2025-01-25
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