A noite caiu sobre Carmelita como um manto pesado, envolvendo a mansão Montenegro em um silêncio quase palpável. Dante estava no escritório, analisando a foto que encontraram no celeiro. As pessoas ao redor de seu pai pareciam familiares de uma forma que ele não conseguia explicar, como se fizessem parte de um sonho antigo e esquecido.
Eles sabem. Sempre souberam.
As palavras ecoavam em sua mente enquanto ele traçava os rostos da fotografia com o dedo. O que diabos Rodolfo sabia que precisava ser mantido tão escondido?
Uma batida suave na porta tirou Dante de seus pensamentos. Ele se virou e viu Lívia parada na entrada, segurando uma xícara de chá. Seu rosto parecia cansado, mas havia algo em sua presença que iluminava o ambiente.
— Achei que você pudesse precisar disso — disse ela, entrando no cômodo.
— Lívia... não precisava se incomodar. — Ele tentou soar casual, mas o tom grave de sua voz o traiu.
Ela colocou a xícara sobre a mesa, mas seus olhos logo caíram na foto.
— Essa foto... onde você a encontrou?
Dante hesitou antes de responder.
— No celeiro. Evelyn estava... investigando algo e acabou encontrando isso. Parece que meu pai andava em círculos que eu nem imaginava.
Lívia pegou a foto com cuidado, examinando-a sob a luz fraca da lâmpada.
— Eu conheço essa mulher — disse ela, apontando para uma figura no canto da imagem.
Dante ergueu as sobrancelhas.
— Como assim? Quem é ela?
— Laura, uma amiga da minha mãe. Ela desapareceu há muitos anos, sem deixar rastro. Minha mãe falava dela com pesar, mas ninguém nunca soube o que aconteceu. — Lívia colocou a foto de volta na mesa, mordendo o lábio. — Por que seu pai estaria com ela?
Dante abriu a boca para responder, mas parou ao notar o tremor na voz dela. Ele não sabia dizer se era medo, surpresa ou algo mais profundo. Por instinto, ele se levantou e colocou a mão em seu ombro.
— Lívia, está tudo bem?
Ela deu um passo para trás, como se não soubesse como reagir.
— É que... essa cidade tem um jeito de nos prender, de nos sugar. E agora, com tudo isso... — Sua voz falhou, e ela desviou o olhar.
Por um momento, o silêncio tomou conta do ambiente. Dante queria dizer algo, mas não sabia como confortá-la. Ele mesmo estava afogado em dúvidas e arrependimentos.
— Eu também me sinto assim — disse ele finalmente. — Como se a cada dia aqui eu estivesse sendo puxado para algo que não consigo entender.
Lívia o encarou, e pela primeira vez naquela noite, um sorriso tímido cruzou seu rosto.
— Pelo menos você não está sozinho nisso.
Eles ficaram assim por um instante, até que o som de um vidro quebrando os tirou do momento. Dante reagiu imediatamente, puxando Lívia para trás enquanto olhava ao redor.
— Fique aqui — disse ele, pegando uma lanterna antes de sair para investigar.
Ele seguiu o som até o corredor principal, onde encontrou um dos vasos antigos despedaçado no chão. Não havia ninguém por perto, mas a janela estava aberta, deixando entrar o vento frio da noite.
— Tem alguém aí? — chamou Dante, sua voz ecoando pelo corredor.
Sem resposta, ele fechou a janela e voltou ao escritório. Lívia ainda estava lá, agora segurando a fotografia com mais força.
— O que aconteceu? — perguntou ela, preocupada.
— Um dos vasos caiu. Deve ter sido o vento. — Ele tentou parecer despreocupado, mas o peso da noite estava claramente presente em seus olhos.
Lívia colocou a foto sobre a mesa e cruzou os braços.
— Dante... não sei se você percebeu, mas coisas estranhas estão acontecendo desde que você voltou. Talvez seja só coincidência, mas...
— Não acredito em coincidências — interrompeu ele, olhando fixamente para ela.
Lívia desviou o olhar, mas antes de sair, colocou a mão sobre a dele por um breve instante.
— Só... tome cuidado, está bem? — Sua voz era baixa, quase um sussurro.
Quando ela saiu, Dante ficou parado por alguns minutos, com a sensação de que aquele breve toque havia deixado uma marca.
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Atualizado até capítulo 27
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