Capítulo 4 – Coragem no Silêncio

A manhã nasceu cinzenta, com nuvens tão baixas que parecia que o céu estava caindo sobre Carmelita. A mansão Montenegro permanecia envolta em um véu de névoa, com o vento assoviando entre as árvores como uma melodia inquietante. Dante estava no antigo jardim, as ferramentas pesadas nas mãos e o cheiro de terra úmida enchendo seus pulmões. Ele havia decidido cuidar dos arbustos que haviam tomado conta da entrada principal. Talvez fosse sua maneira de tentar dar um pouco de ordem ao caos que parecia cercá-lo.

Enquanto cortava os galhos retorcidos, sentia como se os olhos invisíveis da mansão o observassem. A cada movimento, uma sombra parecia se alongar nos cantos de sua visão periférica. Ele balançava a cabeça, tentando afastar a sensação. É só a minha mente pregando peças, pensou, mas o incômodo persistia.

Foi então que ouviu passos leves atrás de si. Ele parou e se virou, encontrando Cecília carregando um balde com roupas para lavar. Sua expressão parecia cansada, mas havia algo mais em seu rosto – algo que ele não conseguia identificar.

— Senhor Dante, cuidando do jardim? — perguntou ela, com um sorriso forçado.

Dante deu de ombros, envergonhado.

— Achei que estava na hora de fazer algo útil por aqui.

Cecília olhou para os arbustos podados, mas sua atenção logo voltou para ele.

— Você não precisa se preocupar com isso. É trabalho para os empregados.

Ele balançou a cabeça.

— Não há muitos empregados por aqui, e você já faz muito. É o mínimo que eu posso fazer.

Cecília hesitou antes de responder, segurando o balde com força. Era como se algo a estivesse incomodando, mas ela não queria dizer. Quando começou a se afastar, Dante percebeu que ela mancava. O movimento era discreto, mas evidente.

— Cecília, você está machucada? — perguntou ele, largando as ferramentas e indo até ela.

Ela tentou desviar o assunto, balançando a cabeça.

— Não é nada, senhor. Apenas uma torção. Estou bem.

— Não parece estar bem. Deixe-me ajudá-la. — Antes que ela pudesse recusar, Dante pegou o balde de suas mãos.

— Senhor, não é necessário... — começou ela, mas sua voz falhou.

Dante percebeu a hesitação em sua postura. Algo em Cecília parecia diferente, como se ela carregasse um peso invisível. Ele não pressionou, mas seus olhos ficaram atentos.

Enquanto caminhavam juntos até a área de serviço, o som do vento parecia mais alto, quase como um sussurro. Por um momento, Dante achou ter ouvido seu nome ser chamado, mas quando olhou ao redor, não havia ninguém. Apenas o vazio da propriedade e o ranger das árvores.

— Você tem dormido bem, Cecília? — perguntou ele, tentando quebrar o silêncio.

Ela olhou para ele de relance, mas evitou seus olhos.

— Tenho tentado, senhor. Esta casa... ela é mais barulhenta à noite.

— Barulhenta? — Dante franziu o cenho.

Cecília parou diante da porta do depósito, segurando a maçaneta com força.

— Sons... passos... às vezes vozes. Coisas que não fazem sentido.

Dante sentiu um calafrio subir pela espinha, mas manteve a expressão calma. Ele sabia que a mansão tinha seus segredos, mas ouvir Cecília admitir isso tornou tudo mais real.

— Se você ouvir algo estranho, venha me chamar, ok? — disse ele, com uma firmeza que escondia sua própria apreensão.

Ela assentiu, mas antes de entrar, colocou a mão no braço de Dante.

— Seu pai costumava dizer que esta casa guardava memórias. Memórias que não queriam ser esquecidas. Tome cuidado, senhor. Às vezes, o passado é mais perigoso do que imaginamos.

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Mais tarde, naquela tarde, Dante estava no salão principal, organizando alguns livros antigos. Ele folheou um deles distraidamente, até que um envelope caiu de dentro das páginas. Era um papel envelhecido, com uma escrita apressada.

“Se você está lendo isto, significa que não estou mais aqui. Não confie em ninguém. Nem mesmo em quem parecer amigo.”

O coração de Dante disparou. A caligrafia era de seu pai, e as palavras pareciam um aviso direto. Ele releu o bilhete várias vezes, tentando entender o que significava. Por que seu pai desconfiaria de todos?

Antes que pudesse pensar mais, ouviu o som de algo pesado caindo no andar de cima. Ele largou o bilhete e correu para as escadas. Subiu os degraus de dois em dois, com o coração na garganta.

Quando chegou ao corredor, encontrou Lívia ajoelhada perto de uma estante tombada. Livros estavam espalhados por toda parte, e ela parecia assustada.

— Lívia! Você está bem? O que aconteceu?

Ela olhou para ele com os olhos arregalados, como se ainda estivesse tentando processar o que havia ocorrido.

— Eu... eu estava procurando um livro. Quando toquei na estante, ela simplesmente caiu.

Dante ajudou-a a se levantar, notando como suas mãos tremiam.

— Você se machucou?

Ela balançou a cabeça, mas não parecia convencida.

— Dante, eu juro... não havia ninguém aqui, mas parecia que algo empurrou a estante.

Ele sentiu o peso das palavras dela e apertou levemente sua mão, tentando acalmá-la.

— Não se preocupe. Estou aqui.

Eles se encararam por um instante, e Dante sentiu algo que não conseguia explicar – uma conexão, um desejo de protegê-la a qualquer custo.

Mas antes que pudessem dizer algo mais, o som de passos ecoou pelo corredor vazio.

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