Capítulo 03

Marisa Narrando

Meu nome é Marisa Avelar, tenho 30 anos, sou formada em Ciência Ambiental e, embora seja brasileira, nasci em São Paulo, morei no Brasil até os três anos. Desde então, minha vida tem sido no Canadá, o país que considero minha verdadeira casa. Minha família é daquelas tradicionais, com valores enraizados e inquestionáveis, especialmente do lado do meu pai. Para ele, caráter é tudo. Ele sempre diz que caráter é o que mantém a pessoa firme, mas eu sempre pensei: será que caráter resolve tudo? Será que ele mantém alguém realmente feliz ou apenas preso a um padrão inatingível?

Meu pai é o caçula de três irmãos. Antes dele, vieram meus tios, Mauro e Ricardo. Cada um com sua personalidade e trajetória, mas todos mantendo uma ligação profunda com o campo e os negócios da família. Meu tio Mauro, o mais velho, é o dono de uma fazenda enorme, um verdadeiro pedaço do paraíso. A propriedade dele é tão deslumbrante que qualquer pessoa que a visite se apaixona de imediato. É daquele tipo de lugar que parece tirado de um filme, com colinas perfeitas, plantações impecáveis e um ar tão puro que parece renovar sua alma a cada respiração. Já meu pai, mesmo sendo o mais novo, seguiu a tradição familiar, mas com uma abordagem diferente. Ele não se contentou apenas com a produção rural; decidiu investir no ramo de laticínios. Hoje, ele compra a matéria-prima da fazenda do tio Mauro e transforma em produtos de altíssima qualidade.

Nossa própria fazenda, embora muito menor, é uma peça fundamental no negócio. Sempre cresci cercada por esse mundo de fazendas, vacas e o cheiro inconfundível de terra molhada depois da chuva. Mas, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, eu nunca me senti atraída por seguir os passos da família. Meu interesse sempre foi mais amplo: eu queria entender o meio ambiente como um todo, estudar seus sistemas, descobrir como poderíamos cuidar melhor dele. Essa vontade me levou a escolher Ciência Ambiental como minha profissão.

Quando fiz 18 anos, meu pai tentou me convencer a estudar no Texas. Ele estava convencido de que uma faculdade lá seria melhor para mim, além de ser mais próximo dos valores que ele tanto preza. Pesquisou universidades, cursos e até fez questão de me mostrar como o estado era promissor para quem pretendia trabalhar com questões ambientais, especialmente ligadas à agropecuária. Mas eu não queria ir. Senti que era mais importante construir minha carreira aqui, no Canadá, o lugar que me acolheu desde tão cedo e que, de certa forma, moldou quem eu sou. Ele relutou, insistiu, tentou me convencer de várias formas, mas no final respeitou minha decisão.

Sobre o Brasil, as memórias são um misto de sentimentos. É o país dos meus pais, dos meus avós, mas não é o meu. Nunca voltei, nem mesmo para visitar. Minhas raízes estão aqui, no Canadá. Meus pais, por outro lado, ainda têm essa conexão profunda com o Brasil. Sempre visitam meus avós, já que eles, apesar dos anos, nunca tiveram coragem de embarcar em um avião para nos visitar aqui. Mesmo assim, nunca fizeram questão de insistir para que eu fosse. Talvez entendam que meu mundo é outro.

Quando chegam as férias, prefiro explorar outros países, outros lugares que considero mais evoluídos ou alinhados com minha visão de mundo. Não é que eu despreze o Brasil, mas é como se aquele lugar fosse um capítulo encerrado na minha vida. Um pedaço da história que, embora importante, não sinto necessidade de revisitar, nem me lembro na verdade.

Na faculdade, conheci Leonardo, e foi como se o mundo parasse por um instante. Ele era lindo, forte, com aquele jeito brasileiro que exalava segurança e ao mesmo tempo uma simplicidade encantadora. Me apaixonei perdidamente por ele, algo que nunca tinha sentido antes. Naquela época, eu namorava Arturo, o filho de um amigo do meu pai. Nossa relação já estava desgastada; não havia mais aquela chama, aquela paixão que me fazia querer estar ao lado dele. Decidi terminar com Arturo. Eu queria viver algo novo, algo que me tirasse o ar, e sabia que Leonardo era essa pessoa.

Depois de terminar, fui atrás de Leonardo. Começamos a conversar, e nossa amizade foi crescendo. Eu sempre investia na sedução, deixando claro, sem palavras, o quanto eu o queria. Até que, finalmente, ficamos pela primeira vez. Eu sabia que não podia deixar aquela oportunidade escapar e decidi levar Leonardo para a fazenda do meu tio Mauro. Ele cursava Engenharia Agronômica, e aquilo parecia o cenário perfeito. A fazenda, com os campos verdes e uma cachoeira escondida entre as árvores, era o lugar ideal para dar minha cartada final.

Aquele dia foi perfeito. Passeamos pelos campos, conversamos sobre os sonhos dele e, por fim, fomos até a cachoeira. Tomamos banho juntos, a água cristalina caindo sobre nossos corpos. E ali, naquele lugar paradisíaco, nos entregamos um ao outro. Transamos dentro da água, um momento tão íntimo e intenso que me fez ter certeza de que ele era o homem da minha vida. Depois disso, nossa relação se aprofundou ainda mais, e eu não via limites para o que sentia por ele.

Mas como a vida nunca é um conto de fadas, eu tive uma recaída. Em uma festa, Leonardo não quis me acompanhar. Fiquei chateada, me senti sozinha e magoada. Arturo, meu ex, estava nessa festa. Bebemos um pouco demais, e as memórias do que já tínhamos vivido juntos se misturaram com a carência daquele momento. Acabamos passando a noite juntos. Foi um erro. Um erro que eu tentei ignorar, mas que não demorou muito para cobrar o seu preço.

Cerca de um mês depois, descobri que estava grávida. Meu mundo desabou. Dentro de mim, havia uma dúvida terrível: o filho era de Leonardo ou de Arturo? Mas eu não podia arriscar perder Leonardo, então sustentei que a criança era dele. Falei com ele, enfrentei meus pais, e meu pai, furioso, disse que o único caminho era o casamento. Não houve festa, nem vestido de noiva, nem igreja. Apenas um casamento civil e um jantar simples para a família. Fomos morar em um dos apartamentos do meu pai.

Dentro de mim, a dúvida sobre a paternidade da criança não me deixava em paz. Decidi que não queria continuar com a gravidez. Fiz todo o procedimento para interrompê-la e, abortei, depois, disse a Leonardo que tinha perdido o bebê. Ele acreditou, e seguimos em frente. Tomei uma decisão naquele momento: nunca mais correria o risco de engravidar. Passei a me prevenir de todas as formas possíveis. Não quero filhos. Nunca quis. Quero apenas viver minha vida ao lado de Leonardo, o homem que se tornou minha obsessão.

Hoje, tudo que faço é por ele. Cada gesto, cada decisão. Leonardo é meu mundo, e eu não admito que nada nem ninguém ameace isso. Mesmo que às vezes eu precise tomar decisões difíceis ou carregar segredos, tudo vale a pena, desde que ele continue ao meu lado. Porque, no final, o que mais importa é tê-lo, apenas para mim.

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Comments

MINKAH🛐

MINKAH🛐

Mas olha que rapariga, deu para o outro, engravidou e ainda mentiu para o Leo dizendo que o filho é dele.

2025-04-01

2

Dama

Dama

aaaaaaaa eu sabia que algo de errado não estava certo

2025-01-21

3

Thais Yasmim

Thais Yasmim

estou surtandoooooooo para ele descobrir quem é realmente o esposa troféu dele

2025-01-21

2

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