Capítulo 02

Leonardo Narrando

Me chamo Leonardo Barcelos, tenho 30 anos e Nasci no coração do Pantanal, no Mato Grosso, numa fazenda que parece ter sido esculpida pela própria natureza. Desde pequeno, eu via o mundo ao meu redor como uma mistura de contrastes. Meu pai sempre foi um homem admirável. Ele construiu uma vida digna para todos que viviam e trabalhavam na fazenda. Cada funcionário têm uma casa de alvenaria com água potável encanada, energia elétrica, e tudo que era necessário para uma vida confortável. Ele sempre dizia que "uma fazenda só prospera quando todos prosperam juntos." Eu o admirava profundamente por isso, mas confesso que, enquanto ele via aquele lugar como o paraíso, eu o enxergava como o fim do mundo.

Minha mãe era uma mulher doce, mas muito doente. Quase não tenho lembranças dela saudável. Quando eu tinha apenas dez anos, ela faleceu. Foi um golpe duro, mas não estávamos sozinhos. Rosa, a cozinheira da casa, assumiu um papel quase maternal na minha vida. Além de cuidar de mim, ela cuidava do meu pai, e fazia isso com tanto carinho que a casa parecia menos vazia. Rosa é uma mulher incrível, mas quem realmente iluminava os meus dias era sua filha, Ana, ou Aninha, como eu gostava de chamá-la.

Aninha era minha companheira de brincadeiras, a única criança na fazenda com quem eu me dava bem. Enquanto as outras crianças eram, para mim, "apenas filhos de peões e empregados", Aninha era diferente. Inteligente, doce e engraçada, ela fazia o tempo passar mais rápido. Me lembro das tardes que passávamos assistindo TV na sala enquanto Rosa preparava lanches deliciosos para nós. Era a única parte da vida na fazenda que eu realmente amava.

Mas, ao mesmo tempo que eu tinha essas lembranças boas, eu não via a hora de sair daquele lugar. Durante as férias, meu pai me mandava para São Paulo, para ficar com minha tia. Aquela cidade me fascinava. Os prédios altos, as luzes que brilhavam à noite, a energia das ruas, tudo era tão diferente do silêncio do Pantanal. Minha tia sempre fazia questão de me levar para viajar. Fomos para o Rio de Janeiro, Salvador, e até para o exterior. Conheci a Flórida, Londres e Portugal antes dos 16 anos. A cada viagem, eu me encantava mais com o mundo e voltava com um aperto no peito, sabendo que teria de retornar à fazenda.

Quando completei 16 anos, terminei o ensino médio. Meu pai queria que eu fizesse faculdade e seguisse seus passos, trabalhando com gado de corte e vacas leiteiras. Ele sonhava que eu me tornasse veterinário, mas essa nunca foi minha paixão. Eu tinha outros planos. Então, um dia, criei coragem e disse:

— Pai, eu só vou fazer faculdade se for no Canadá.

Ele ficou em silêncio por um tempo, mas acabou concordando. Ele sabia que estudar fora era um sonho para mim. Depois de pesquisar muito, junto com a minha tia, encontramos a Universidade de Guelph, uma das melhores em Engenharia Agronômica. Lá, eu poderia estudar o que gostava e, quem sabe, um dia aplicar esse conhecimento na fazenda, mas é claro que a gente viu para veterinária, mas eu já tinha todo plano em mente.

Quando completei 18 anos, Minha tia, me inscreveu na faculdade para cursar Medicina Veterinária. Meu pai ficou radiante. Era o futuro que ele sempre sonhou para mim, uma forma de honrar nossas raízes e cuidar do que ele mais prezava: os animais e a terra. No entanto, algo dentro de mim dizia que meu destino seria diferente.

No dia seguinte ao meu aniversário, me despedi de meu pai e de Ana. Foi uma despedida silenciosa, mas dolorosa. Eu sabia que aquela partida era definitiva, pelo menos por um bom tempo. Não queria voltar tão cedo para aquele lugar. Embarquei para São Paulo, onde passei pela casa da minha tia apenas para me despedir, antes de seguir rumo ao Canadá.

Quando cheguei ao Canadá, algo mudou dentro de mim. A sensação de liberdade, o novo ambiente, as possibilidades infinitas. Decidi, então, mudar o meu curso para Engenharia Agrônoma. Comecei a estudar e, aos poucos, fui me adaptando. Conheci pessoas incríveis, fiz amizades, e a ajuda financeira do meu pai garantiu que eu nunca passasse por dificuldades.

Todo mês, ele enviava dinheiro e, em troca, eu ligava para ele uma vez por mês para contar como estava. Era uma rotina tranquila, mas que me mantinha conectado às minhas raízes. O tempo passou, e foi então que conheci Marisa.

Marisa era uma mulher extraordinária. Estudava em um curso relacionado à Engenharia Agrônoma, e foi assim que nos conhecemos. Aos poucos, fomos nos aproximando, e logo eu descobri que a família dela também era brasileira, mas já vivia no Canadá há muitos anos. A família de Marisa era rica, dona de uma grande fortuna e de uma fazenda que parecia ter saído de um sonho. Quando ela me levou para conhecer o lugar, fiquei deslumbrado. Era um paraíso, com paisagens que pareciam pintadas à mão.

Nosso relacionamento se tornou cada vez mais sério, e, em pouco tempo, Marisa engravidou. Foi um choque para nós dois, mas o verdadeiro impacto veio quando o pai dela me chamou para uma conversa. Ele era um homem tradicional e não queria que a filha fosse alvo de comentários maldosos. Deixou claro que, para proteger a reputação de Marisa, eu teria três meses para me casar com ela antes que a gravidez começasse a ficar evidente. Não tive escolha. Me Casei com Marisa em menos de um mês.

Pouco depois do casamento, porém, Marisa perdeu o bebê. Foi um golpe duro para nós dois, mas a essa altura eu já estava preso ao casamento, à família dela, à fazenda. Não tive coragem de contar ao meu pai ou à minha tia sobre o que estava acontecendo. Aos poucos, cortei os laços com o Brasil. Parei de ligar, de escrever. Era como se eu tivesse decidido apagar minha antiga vida.

Terminei a faculdade e comecei a trabalhar na fazenda do tio de Marisa. Ele era um homem duro, mas justo. Me ensinou tudo o que sabia sobre a administração daquele império agrícola. Trabalhei arduamente e, de certa forma, encontrei um propósito ali. Hoje, essa é a minha vida. Trabalho na fazenda. Hoje fico pensando, eu poderia está fazendo isso na minha fazenda.

Às vezes, nas noites silenciosas, penso no Brasil. No meu pai, na Ana, na minha tia. Penso em como a vida poderia ter sido diferente se eu tivesse feito outras escolhas. Mas, ao mesmo tempo, sei que o caminho que percorri me tornou quem sou hoje. Só ainda não encontrei a paz nisso.

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Comments

Fatima Lopes

Fatima Lopes

bao quiz trabalhar na fazenda dele e foi trabalhar de empregado do tio da esposa acho que dla nao estava gravida so queria casar com ele babaca

2025-04-10

1

Lorrainecristinioliveira Oliveira

Lorrainecristinioliveira Oliveira

pelo q vi Leonardo vc tomou a decisão errada as consequências das suas atitudes ainda viram

2025-01-21

1

Maria Elineuza

Maria Elineuza

vc não encontrou sua paz porque sua paz é ao lado de Ana.

2025-01-21

2

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