Na manhã seguinte, Emilly despertou cedo, atormentada por pensamentos que se acumulavam desde a noite anterior. Precisava conversar com Lucy. Precisava entender o que Neil estava escondendo.
Ao levantar-se da cama, o mundo girou subitamente. Uma tontura súbita fez com que ela se apoiasse no armário ao lado. Respirou fundo, esperando que a vertigem passasse. Quando enfim recobrou o equilíbrio, seguiu para o banho, tentando se recompor. A água morna escorria sobre o corpo, mas não levava consigo a inquietação que a dominava.
Já vestida, desceu até a cozinha. O aroma de café fresco a recebeu com um misto de aconchego e náusea. Maria, a governanta que a criou como se fosse neta, estava arrumando a mesa.
— Bom dia, Nana! — disse Emilly, abraçando-a com um carinho genuíno.
— Bom dia, minha menina. Hoje você toma esse café direitinho, ouviu? Está sempre fugindo da mesa e com essa cara abatida.
— É a reta final da escola, provas, formatura... — respondeu, tentando justificar.
— Formatura ou não, saco vazio não para em pé.
Emilly riu, reconhecendo mais um dos provérbios de Maria.
— E papai e mamãe?
— Saíram cedo. Como sempre, enterrados naquela clínica.
Os pais de Emilly comandavam um renomado centro médico e sempre estiveram mais presentes nos prontuários dos pacientes do que na rotina da própria filha. Exigentes, idealizaram para ela um futuro impecável: medicina, casamento com um bom partido, prestígio social. E Neil... não fazia parte desse script.
Sentada à mesa, Emilly respirou fundo, mas o cheiro do café pareceu violento demais. O enjoo veio como uma onda e ela mal teve tempo de correr para o banheiro.
— O que houve, menina? — gritou Maria, aflita, ao vê-la sumir pelas escadas.
No espelho, Emilly viu seu reflexo pálido e perturbado. Lavou o rosto, tentando afastar o mal-estar. Respirou fundo. Estava decidida a ir até Lucy. Precisava de respostas.
Na casa de Lucy, foi recebida pela governanta, que indicou o caminho para os fundos. A amiga descansava na espreguiçadeira à beira da piscina, envolta por uma canga leve e um par de óculos escuros. O biquíni azul realçava o bronzeado impecável.
— Bom dia, amiga! — disse Emilly, forçando um sorriso.
— Bom dia, flor do dia! — respondeu Lucy, com o bom humor de sempre. — Você está com uma cara péssima. Aconteceu alguma coisa?
— Precisamos conversar. Sério. — O tom de Emilly era sombrio.
— Claro. Brigou com o Neil?
— Não. Mas ele está estranho. Distante. E andou dizendo umas coisas... como se tivesse feito algo importante por nós dois. Algo que vai mudar tudo.
— Hm… senta aqui. Vamos pedir algo para beber. Quer suco? Água?
— Água, por favor. Ainda estou me sentindo enjoada.
— Enjoada? Desde quando?
— Alguns dias… uma semana, talvez.
Lucy observou a amiga com atenção, sua expressão ficando cada vez mais preocupada. Pediu à empregada um suco para si e água para Emilly.
— Neil te contou que foi à capital fazer o teste para entrar numa banda?
— O quê?! — Emilly arregalou os olhos. — Não. Quando isso aconteceu?
— Semana passada. Meu irmão foi com ele. E mais: parece que estão procurando apartamento por lá.
Emilly sentiu um baque no peito, como se o ar tivesse sido arrancado de seus pulmões.
— Mas... ele e eu... tínhamos planos! Ficaríamos juntos depois da formatura, procuraríamos universidades próximas. Isso não faz sentido.
— Sinto muito, amiga. Mas talvez você precise encarar que ele está fazendo escolhas sem você. Ele é ambicioso. Você sabe disso. Sempre foi.
As palavras bateram forte. Emilly olhou para a água no copo, mas tudo parecia turvo. Quando tentou se levantar, a tontura voltou com mais força. Sentou-se rapidamente, pálida como antes.
— Você está piorando. Isso não é só cansaço. Está se alimentando direito?
— Quase nada para no estômago. Hoje mesmo, quase desmaiei depois de sentir o cheiro do café.
Lucy a encarou séria, a ficha começando a cair.
— Amiga… me responde uma coisa: você e o Neil estão se prevenindo?
— A gente... ele sempre tira antes.
Lucy levou a mão à testa, chocada.
— Emilly! Coito interrompido não é método contraceptivo. Você sabe disso. Quando foi sua última menstruação?
O silêncio de Emilly foi a resposta. Seus olhos se arregalaram, as mãos tremeram sobre o colo.
— Oh, meu Deus... eu não me lembro. Deve fazer... mais de um mês.
Lucy segurou sua mão com firmeza.
— Vamos à farmácia. Agora. Precisamos tirar essa dúvida de uma vez. E olha, o Neil é tão responsável quanto você nisso. Ele não pode te odiar por algo que também é dele. E quanto aos seus pais... você vai ter que encarar. Mas primeiro: vamos descobrir a verdade. E não importa o que acontecer, eu estarei com você.
Emilly sentiu os olhos se encherem de lágrimas. As emoções se misturavam: medo, culpa, incerteza… Mas também havia ali, naquele momento, um fio de coragem surgindo — finíssimo, quase invisível, mas real.
Abraçou Lucy com força, tentando encontrar abrigo naquele gesto.
— Obrigada, amiga... não sei o que faria sem você.
— Você não está sozinha. Agora vamos.
As duas se levantaram e, de mãos dadas, caminharam em direção à farmácia.
Personagens:
Derick Taylor (Irmão de Lucy): 20 anos
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Atualizado até capítulo 57
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