O Preço do Véu

O templo dos anciões estava mergulhado em um silêncio denso, como se até o tempo tivesse parado. O pergaminho ainda flutuava sobre o altar, irradiando uma energia antiga e pulsante. Lyra sentia a vibração do poder atravessar sua pele, arrepiando cada centímetro de seu corpo. Seu nome gravado na profecia queimava em sua mente como uma marca impossível de apagar.

Ela tentou processar o que aquilo significava, mas tudo parecia um turbilhão confuso e assustador. O Véu a escolhera. Mas para quê? E a que custo?

Os anciões trocavam olhares graves entre si, seus semblantes ocultos sob os capuzes pesados. O Ancião Edros finalmente deu um passo à frente, sua voz ecoando pelo salão sagrado.

— O Véu escolheu.

Havia uma solenidade em seu tom, algo quase ritualístico. Mas Lyra só conseguia sentir o peso daquelas palavras.

Ela engoliu em seco e se forçou a levantar. As pernas ainda estavam trêmulas, como se uma energia estranha as percorresse, mas ela não queria parecer fraca diante deles.

— O que isso significa exatamente? — sua voz saiu firme, apesar da confusão em sua mente.

A Anciã Nymeron avançou alguns passos, seu olhar severo pousando sobre ela. Os cabelos prateados brilhavam sob a luz bruxuleante das tochas, e havia algo em sua postura que fazia Lyra sentir que estava sendo avaliada.

— Significa que seu destino agora está entrelaçado ao Véu — respondeu Nymeron, sem rodeios. — Ele a escolheu como sua portadora.

Lyra sentiu o estômago revirar.

— Mas por quê? — Sua voz elevou-se, carregada de incredulidade. — O que há de tão especial em mim?

A resposta veio de Edros, e não era nada reconfortante.

— O Véu não escolhe ao acaso. Há algo em você, Lyra. Algo que nem mesmo nós compreendemos ainda.

Ela sentiu um calafrio. Essa não era a resposta que queria ouvir.

O templo parecia menor de repente, como se as paredes estivessem se fechando ao seu redor. O ar carregado de incenso e magia a sufocava.

— E se eu não quiser isso? — perguntou, a voz ligeiramente vacilante.

Nymeron arqueou uma sobrancelha.

— O Véu não aceita recusas.

Aquelas palavras caíram sobre Lyra como uma sentença. Seu destino já estava selado.

Ela respirou fundo, tentando manter o controle.

— E qual é o preço? — perguntou, cruzando os braços em uma tentativa de esconder o tremor nas mãos.

Edros hesitou antes de responder.

— Ainda não sabemos.

Essa incerteza era pior do que qualquer resposta concreta. O desconhecido sempre fora um de seus maiores temores, e agora ela estava mergulhada nele.

As tochas nas paredes vacilaram, lançando sombras dançantes pelo salão. Lyra observou os anciões se afastarem, murmurando entre si sobre o que deveria ser feito a seguir.

Mas uma coisa era certa: sua vida nunca mais seria a mesma.

O caminho de volta para casa foi longo e silencioso.

A vila de Valderis estava envolta em um manto de neblina, tornando cada rua um labIrinto fantasmagórico. As casas de pedra e madeira dormiam sob a luz fraca da lua, e o único som além de seus passos era o sopro do vento frio que cortava a noite.

Lyra sentia-se estranha, como se uma energia invisível ainda pulsasse dentro dela desde o momento em que viu seu nome na profecia.

Quando finalmente alcançou a casa onde morava com sua avó, hesitou antes de entrar.

O pequeno chalé de pedra era acolhedor, com sua porta de madeira entalhada e a trepadeira que se espalhava pelas paredes. A luz bruxuleante de uma lamparina acesa filtrava-se pela janela, indicando que sua avó ainda estava acordada.

Ela respirou fundo antes de empurrar a porta.

O cheiro familiar de ervas secas e chá recém-preparado a envolveu de imediato. O fogo na lareira lançava um brilho alaranjado pelo cômodo, tornando o ambiente aquecido e confortável.

Sua avó, uma mulher de feições fortes e olhos sábios, estava sentada à mesa, misturando ingredientes em um almofariz de pedra. Quando ergueu o olhar para Lyra, não precisou perguntar nada.

— O Véu te encontrou.

Lyra sentiu um arrepio.

— Você sabia que isso ia acontecer?

A velha bruxa soltou um suspiro, deixando o pilão de lado.

— Sabia que era uma possibilidade — admitiu. — Mas esperava que o destino te desse mais tempo.

Lyra puxou uma cadeira e sentou-se, sentindo o cansaço pesar sobre seus ombros.

— Eles disseram que há um preço. Mas não sabem qual é.

A avó a observou por um longo momento antes de dizer:

— O Véu nunca escolhe alguém sem cobrar algo em troca. E nunca escolhe por acaso.

Lyra fechou os olhos por um instante.

— Eu não queria isso.

A avó pousou uma mão sobre a dela.

— Nenhum escolhido quer, no início. Mas agora você precisa decidir: vai lutar contra o destino ou aceitá-lo?

A pergunta ecoou em sua mente.

Ela não tinha resposta.

Lyra passou a noite inquieta, virando-se na cama enquanto a profecia continuava a ecoar em sua mente.

"Você será a ruína ou a salvação."

As palavras sussurravam em seus pensamentos, como se o próprio Véu falasse com ela.

Quando finalmente adormeceu, seus sonhos foram tomados por visões de fogo e sombras, de vozes distantes chamando seu nome.

E então, viu algo que a fez despertar com um sobressalto.

Uma silhueta encapuzada segurando o pergaminho.

E um sorriso cruel iluminado pela luz do fogo.

Seu destino havia sido selado.

Mas não era a única que sabia disso.

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