A manhã nasceu envolta em uma névoa densa, espalhando um véu prateado sobre Avonlea. Laura acordou com a mente pesada, ainda assombrada pelo que vira na noite anterior. A sombra entre as árvores não era um devaneio. Não podia ser.
Ela se vestiu rapidamente, jogando um xale sobre os ombros antes de descer para o café. A casa estava silenciosa, exceto pelo leve crepitar do fogo na lareira. Sua mãe já havia saído para cuidar do jardim, e a ausência do barulho das agulhas de tricô fazia o ambiente parecer incompleto.
O aroma do chá quente confortava Laura, mas não o suficiente para afastar aquela inquietação que se agarrava a ela desde a noite anterior. Algo estava diferente, e seu coração lhe dizia que não demoraria a descobrir o quê.
Foi só ao sair para a rua que percebeu que não era a única a sentir que algo pairava sobre Avonlea. Os vizinhos cochichavam nas portas de suas casas, e as expressões carregadas de preocupação deixavam claro que algo estranho havia acontecido.
Ela ouviu trechos soltos das conversas ao passar pela praça.
— ...vi algo perto do bosque ontem à noite...
— ...uma sombra, ou talvez alguém espreitando...
— ...não pode ser coincidência...
O frio em sua espinha aumentou. Ela não tinha sido a única a ver.
O Encontro com Emily
Laura seguiu até a casa de Emily, sua melhor amiga desde a infância. Emily vivia perto do rio, em uma casa pequena e aconchegante, onde sempre havia o cheiro de pão assando e ervas secas penduradas nas janelas.
Quando Laura bateu à porta, Emily não demorou a abrir. Mas ao vê-la, seus olhos se arregalaram, como se já soubesse o motivo de sua visita.
— Precisamos conversar — Emily disse antes que Laura pudesse dizer qualquer coisa.
As duas se sentaram à mesa da cozinha, onde um bule de chá de hortelã já as esperava. Emily serviu uma xícara para Laura, mas suas mãos tremiam levemente.
— Eu tive outro sonho — ela começou, a voz baixa e hesitante.
Laura a encarou, sentindo um aperto no peito. Emily sempre teve sonhos estranhos. Desde crianças, ela falava de coisas antes que elas acontecessem, como se enxergasse algo que os outros não viam. Mas, nas últimas semanas, seus sonhos vinham se tornando cada vez mais perturbadores.
— O que você viu? — Laura perguntou, segurando firme a xícara entre as mãos.
Emily respirou fundo antes de continuar.
— Eu vi você, Laura. Você estava no bosque, cercada por sombras. Algo falava com você, mas eu não conseguia ouvir o que dizia. Então, de repente, tudo ficou escuro, e eu senti que algo... algo estava se aproximando. — Ela parou, engolindo em seco. — Quando acordei, eu soube que precisava te procurar.
Laura sentiu um arrepio percorrer seus braços.
— Eu vi algo ontem à noite — disse, sua voz quase um sussurro. — Do meu quarto, vi uma sombra no bosque. Achei que fosse imaginação, mas agora...
Emily segurou sua mão, os olhos azuis arregalados de preocupação.
— Não é imaginação. E tem mais uma coisa. — Ela hesitou, como se tivesse medo de dizer em voz alta. — Nos meus sonhos, há sempre um nome que ecoa.
— Qual nome?
Emily respirou fundo antes de responder.
— Fitzgerald.
O sangue de Laura gelou.
— Minha família?
Emily assentiu.
— Acho que tudo isso está ligado à sua linhagem, Laura. Acho que Avonlea guarda segredos sobre você.
O Começo da Investigação
A conversa com Emily perturbou Laura mais do que queria admitir. Se antes sua intuição lhe dizia que havia algo errado, agora isso parecia uma certeza.
Decididas a entender o que estava acontecendo, as duas começaram a buscar pistas. Foram até a biblioteca da cidade, um prédio antigo com estantes empoeiradas que guardavam documentos tão velhos quanto Avonlea.
Enquanto reviravam arquivos esquecidos, Laura encontrou um registro de 1803. O documento falava sobre os primeiros colonos da cidade e mencionava um nome que fez seu coração acelerar.
Elias Fitzgerald.
Seu ancestral.
O texto descrevia Elias como um dos fundadores de Avonlea, um homem respeitado e admirado. Mas uma anotação no final do registro chamou sua atenção:
"Elias Fitzgerald selou o destino da cidade com um acordo que garantirá nossa prosperidade... mas, a que custo?"
Laura trocou um olhar tenso com Emily.
— Um acordo? O que isso significa?
Emily apertou os lábios.
— Não sei, mas acho que acabamos de encontrar o primeiro fio desse mistério.
Laura fechou o livro devagar, sentindo um arrepio na nuca.
Se sua família estava envolvida com algo tão antigo, ela precisava descobrir a verdade. E, pela primeira vez, sentiu que a sombra que espreitava Avonlea podia estar muito mais perto do que imaginava.
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Atualizado até capítulo 20
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