Capítulo 4

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...Aviso de Conteúdo Sensível:...

Este capítulo aborda temas que podem ser gatilhos emocionais para algumas pessoas. Caso se sinta desconfortável ou vulnerável, considere seguir para o próximo capítulo. Cuide de si mesmo e priorize seu bem-estar.

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Fechei os olhos, não porque estivesse cansado, mas porque não queria mais ver o mundo. Eu queria, mais uma vez, que a dor física fosse a única coisa que eu sentisse. E, de certa forma, eu sabia que enquanto eu tivesse essa dor, era como se ela fosse uma confirmação de que eu ainda estava ali — que ainda havia algo de humano em mim.

Mas, mesmo assim, quando o sono chegou, ele não me trouxe descanso. Ele apenas me envolveu em um torpor, onde eu não sonhava, não sentia e não pensava. Eu apenas estava ali, como se o meu corpo fosse a única coisa que me restava.

Eu só queria que o meu sono fosse eterno para escapar de tudo, para que, talvez, na escuridão do sono eterno, eu não tivesse que sentir mais nada.

Mas ele não era eterno, e no dia seguinte tudo se repetia. Os afazeres, minha mãe e meu padrasto brigando comigo por algo tão insignificante como uma colher caída no chão; a caminhada até a escola, sempre arrastada e solitária; o bullying diário, implacável, como uma sombra que nunca se dissipa…

Nada mudava, como se o tempo estivesse preso em um ciclo sem fim. Eu tentava encontrar algum alívio, algum refúgio, mas a sensação de estar preso naquela rotina era esmagadora. Cada olhar, cada palavra áspera, cada risada zombando de mim se transformava em um peso ainda mais difícil de carregar. A esperança de que as coisas mudassem parecia cada vez mais distante, como se eu estivesse afundando em um mar de desespero, tentando desesperadamente alcançar a superfície, mas sem sucesso.

A sexta-feira passou com a mesma pressão monótona dos dias anteriores, por fim chegou o final de semana que para mim era sinônimo de dois dias em casa sendo xingado, humilhado e espancado, mas ao menos não teria que passar pelo bullying.

Eu não esperava que as coisas pudessem piorar, mas de alguma forma, sempre conseguem. O fim de semana, que em teoria seria uma pausa da escola e do sofrimento diário, se tornou apenas uma continuidade do pesadelo. Não havia descanso. Cada dia que passava, parecia um ciclo interminável de dor, humilhação e vazio. Minha mãe e meu padrasto estavam mais tensos do que o normal, sempre discutindo, sempre criando uma atmosfera de raiva e desprezo dentro de casa. Eles eram como um monstro de duas cabeças, sempre em sintonia para me esmagar.

Naquela manhã de sábado, o cheiro de álcool no ar era ainda mais forte do que o normal. Eu sabia que o dia ia ser complicado, mas não tinha escolha a não ser suportar. Levantei mais cedo, arrumei a casa de acordo com a rotina, mas o simples ato de respirar parecia ser uma luta contra a dor que constantemente me invadia. Eu sabia que as horas que se seguiam iriam ser mais do mesmo: ordens, gritos, insultos e talvez, se eu tivesse sorte, alguma surra.

Como sempre, as tarefas não acabavam. Havia sempre algo para fazer, sempre algo que não estava bom o suficiente. Não era o suficiente para agradar a minha mãe ou meu padrasto, nunca era. Quando pensei que as tarefas tinham terminado, ela me mandou sair para comprar algo para ela. Fui sem reclamar, porque sabia o que aconteceria se não o fizesse.

Ao voltar para casa, senti algo de diferente no ar. Os dois se olharam e então meu padrasto se levantou do sofá e subiu para o quarto. Minha mãe após pegar a sacola das minhas mãos me mandou subir e fazer o que o meu padrasto mandasse. Depois daquele dia, tive certeza de que ela não tinha nenhum pingo de sentimento por mim. Para ela, tudo o que importava era agradar ao seu macho.

À noite, quando finalmente me joguei na cama, o peso sobre meus ombros parecia maior. O sofrimento estava tão profundo dentro de mim que até o sono parecia ser uma prisão. Eu fechava os olhos e o mundo ao meu redor se desvanecia, mas o que eu sentia no fundo não desaparecia.

E no domingo o que aconteceu no sábado se repetiu e eu percebi que eu tinha uma nova função para além de tudo o que eu já era incumbido de fazer. Porém, todas as outras coisas não eram nada comparadas a isso. Eu me sentia um lixo, imundo e a minha vontade de continuar nesse tormento estava cada dia mais escassa. Eu já tinha passado do fundo do poço.

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