POV: Alifer
Quando li Harry Potter pela primeira vez, logo no início me identifiquei com ele. Não com a parte mágica e bonita da história. Porém, com toda a tragédia e dor da narrativa. Embora eu tivesse meu próprio quarto e não dormisse sob as escadas, eu ainda me sentia em um confinamento. Diferentemente do Harry eu não tinha um Rony ou uma Hermione, nem um Hagrid, Dumbledore ou menos um Snape. Tudo o que eu tinha era um Malfoy como irmão, minha mãe era uma mistura do Voldemort com comensais da morte e os tios do Harry.
Enfim, minha vida é um inferno: agressões mais diversas em casa, por parte da mamãe e do marido dela, meu padrasto. Bullying e mais violência na escola por parte do meu irmão e dos amigos dele. Ao menos ele não deixava que os outros alunos me enchessem o saco, afinal esse era o papel dele e daqueles babacas dos amigos.
Em alguns momentos, para não dizer em todos, me pego pensando: por quê algumas pessoas precisam sofrer tanto? Ok, tem pessoas que sofrem de outras coisas, violência, enfermidades, porém não dá para ficar medindo sofrimento, certo? O fato é que desde que me entendo por gente minha vida é sofrimento atrás de sofrimento, como eu disse anteriormente, é a própria personificação do que dizem ser o inferno.
Não lembro ao certo como as coisas chegaram a esse ponto, o que fiz de tão errado contra o universo, só sei que estou no meu limite. Parece drástico falar isso, considerando a minha idade, mas é exatamente isso. Eu tenho me imaginado na beira de um abismo e basta eu mover milimetricamente os meus pés para a frente que vou cair. Isso me apavora e me reconforta ao mesmo tempo. Cinquenta e um por cento de mim não vê sentido em continuar com uma existência tão deprimente como a minha; entretanto, os outros quarenta e nove por cento, querem acreditar que ainda possa haver algo de bom para mim.
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O alarme toca, mas estou tão cansado que até o som irritante me faz adormecer novamente. Não demora muito para o som irritante se tornar um eco distante enquanto eu me afundo no sono, até ser abruptamente acordado com a minha mãe jogando as cobertas que estavam sobre mim no chão e, em seguida, jogando o resto de seu café sobre a minha barriga. Felizmente, o café estava morno.
— Vamos, seu inútil. Olha a hora! Nem pense em sair para o colégio antes de cumprir com tuas obrigações.
Depois desse bom dia gentil e carinhoso da minha mãe, ela saiu. Eu me levantei, tirei a camiseta molhada com o café e vi a marca vermelha que se formou na minha barriga onde o café atingiu. “Tomara que não forme bolhas ou vou estar com mais problemas”, pensei suspirando enquanto me preparava para cumprir minhas obrigações matinais antes da escola.
Desde que eu fiz uns oito anos, se tornou minha obrigação matinal arrumar a casa antes de sair para a escola. Arrumar as camas, lavar a louça do café, colocar a roupa para lavar, mas como eu fazia isso durante a noite, de manhã eu só tinha que passar e dobrar. Céus como eu odiava isso. Mas não tanto quanto eu odiava outras coisas. Como perdi a hora, estava atrasado e teria que fazer todas essas coisas em vinte minutos e ainda correr para chegar a tempo da primeira aula ou a mamãe ia me bater por ter me atrasado para a aula.
“Inferno!”, fiquei repetindo mentalmente enquanto arrumava as camas, lavava a louça do café e corria para passar as roupas. Quando olhei o tamanho da pilha de roupa, só consegui pensar “é hoje que ela me mata”. Passei algumas peças que eles, minha mãe e meu padrasto, poderiam querer usar e corri pegar a minha mochila.
Felizmente não encontrei nenhum dos dois e saí o mais rápido que consegui. A escola ficava cerca de dois quilômetros da minha casa e era um trajeto que eu normalmente fazia em meia hora, considerando que meu corpo vivia dolorido. Hoje, no entanto, eu não teria o luxo de ir devagar, pois faltava apenas doze minutos para o portão ser fechado.
Enquanto eu corria pelas ruas com meu corpo protestando a cada novo passo, eu sentia vontade de chorar. Eu só queria parar. Parar de correr, parar de apanhar, parar de respirar… A cada respirada parecia que uma faca me atingia e rasgava meu peito de dentro para fora.
Parecia que quanto mais eu corria, menos saia do lugar. Claro que, o fato de que a minha última refeição decente foi feita a uns quatro dias atrás não me ajudava em nada. Parecia que eu iria desmaiar a qualquer momento e uma parte de mim torcia para que isso acontecesse ou que meu coração parasse de bater. Sei lá, eu só queria parar.
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Nota: A expressão "POV" significa "ponto de vista" e serve para mostrar quem está narrando.
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Atualizado até capítulo 41
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