Darius ficou alguns minutos em silêncio, tentando acalmar a mente. O ambiente estava relativamente silencioso, exceto pelo som de algumas pessoas conversando ao fundo, ainda tentando lidar com a catástrofe. Ele sentiu que não podia mais ficar parado. Levantou-se lentamente e saiu para o lado de fora, onde o ar fresco parecia ajudá-lo a recuperar a compostura. Ele evitou olhar para a destruição, focando apenas no céu estrelado e na lua, enquanto tentava respirar profundamente para acalmar seu corpo e mente.
Depois de alguns minutos, sentiu-se um pouco mais calmo e entrou novamente no abrigo. Ao retornar, seus olhos se fixaram em um relógio na parede que ele antes não havia percebido ter. Ele o observou por alguns segundos, e viu que eram 19:31, e então pensou consigo mesmo:
— E pensar que até mais ou menos umas 17 horas, eu estava tranquilo em casa... Tanta coisa aconteceu em pouco mais de uma hora.
Ele forçou um sorriso, mas logo o semblante sério tomou conta de seu rosto novamente. Sentou-se no mesmo local de antes, decidido a passar a noite ali, em silêncio. Porém, logo a sensação de necessidade o fez se levantar: ele estava com vontade de ir ao banheiro. Ele respirou fundo, ainda um pouco abalado, e foi em direção à médica que ele havia visto antes.
Ao chegar perto dela, Ellen estava atendendo um paciente. Darius tocou suavemente no ombro dela. Quando ela se virou para ele, ela sorriu e rapidamente disse ao paciente:
— Eu já volto, fique bem!
Ela então se afastou e chamou outra médica.
— Erie! Pode vir aqui, por favor?
Uma mulher simples, de pele branca e com um semblante amigável, se aproximou de Ellen.
— Sim, Ellen.
— Você pode cuidar desse paciente por mim rapidinho? Ellen perguntou, parecendo tranquila e amigável.
— Claro! Erie respondeu com um sorriso caloroso.
Então Ellen voltou sua atenção para Darius e, com um sorriso no rosto, disse:
— Amo ela, sabia?
Darius a olhou com um certo estranhamento, não entendendo muito bem o que ela queria dizer. Ignorando sua afirmação, ele perguntou de forma direta:
— Éh... Onde fica o banheiro? Aqui tem banheiro, certo?
Ellen, com seu sorriso ainda no rosto, percebeu a seriedade de Darius, mas tentou manter sua atitude positiva e alegre.
— Você é muito sério! ela disse, rindo um pouco antes de continuar. — Sim, claro. Segue ali, ó. Ela apontou para uma escada. — Desça a escada, é o primeiro andar abaixo. Lá, terá um corredor com muitas portas, onde ficam os mais necessitados, com nossos melhores médicos e equipamentos. O banheiro fica ao fim do corredor. O da esquerda é o seu, dos homens! E o da direita é das mulheres, o que não é o seu! Ela riu, de maneira quase ingênua, como se tentando transmitir um pouco de sua alegria para ele.
Darius, mantendo-se sério, apenas respondeu:
— Muito obrigado. Ele então se virou e foi em direção à escada.
Ellen, enquanto voltava ao seu paciente, comentou com Erie, ainda sorrindo:
— Poxa, que mal humorado ele é, Erie! Achei sem graça...
Erie olhou para Ellen com um sorriso suave, respondendo com leveza:
— É mesmo? Sem graça? Mas ei, temos sempre que estar sorrindo! Sua alegria é contagiante! Ele vai sorrir e ser alguém muito feliz!
Enquanto isso, Darius descia as escadas. Seus passos eram firmes e objetivos. Ele não se permitia se distrair. Chegou ao corredor abaixo e, ao andar por ele, passou por dois homens que estavam sentados, aparentemente esperando atendimento. Eles o olharam, mas Darius os ignorou completamente e seguiu em frente, seu foco no caminho.
Darius parou por um momento e espiou pelas janelas das portas que se alinhavam no corredor. A visão que teve não foi reconfortante. Muitos dos pacientes estavam em condições muito piores do que os que ele havia visto antes. Ferimentos graves, dor e agonia estavam estampados nos rostos de muitos, mas ele não parou, nem sequer se permitiu refletir sobre isso. Ele continuou até o final do corredor, onde finalmente encontrou o banheiro.
Ao entrar, o cheiro forte de urina e sujeira era inconfundível. Nada surpreendente, considerando a situação. Ele fez suas necessidades rapidamente e voltou para o topo das escadas.
Agora, enquanto subia de volta, Darius não podia deixar de pensar em tudo o que havia acontecido, tudo o que ele tinha perdido e o quanto sua vida havia mudado de uma maneira que ele não havia sequer imaginado. Aquele ambiente de caos e sobrevivência estava lhe cobrando um preço muito alto, e ele sentia a pressão em cada respiração.
Ele se preparava para enfrentar mais uma noite onde o silêncio seria seu único companheiro.
Darius, após voltar do banheiro e se sentar novamente no lugar onde estava, começa a observar o movimento ao redor. O abrigo continua agitado, com vozes altas, passos rápidos, médicos e médicas andando por aí para atender as muitas pessoas e murmúrios constantes. Ele olha para o lado e vê Ellen atendendo mais um paciente, movendo-se de um lado para o outro com rapidez, como se estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele decide que precisa falar com ela sobre onde pode descansar, já que já é noite.
Ele se levanta e caminha até ela, observando-a enquanto ela limpa um ferimento e faz um curativo. Ele espera até que ela termine antes de falar, mas ela o nota e, sem parar, diz:
— Só um instante, ok? Já te atendo!
Ele cruza os braços e espera, notando como Ellen parece estar exausta, mas ainda se mantém firme. "Como ela consegue trabalhar assim, feliz... em meio a isso tudo? Isso me intriga...", ele pensa. Quando Ellen finalmente termina e se vira para ele, ela dá um sorriso rápido, mesmo com o cansaço evidente.
— Ah, oi! Posso ajudar? — pergunta, limpando as mãos no avental e depois limpando o suor encontrado em sua testa. Sua respiração é densa, é muito notável e óbvio que ela estava e está cansada. Mas, acima de tudo: Sorridente.
Ele mantém seu tom direto e calmo, mas sério perguntando:
— Onde posso dormir? Isso, se eu puder dormir aqui.
Ellen ri levemente, mas não de forma irônica, apenas tentando suavizar o momento:
— Pode, claro! Ela responde com sempre um sorriso ingênuo no rosto. Ela continua dizendo:
— mas vou ser honesta... não temos camas nem quarto. Você vai ter que achar um canto e se aconchegar nele para dormir. Espero que consiga!
Ela o responde com um sorriso caloroso em seu rosto.
— Entendido. Ele dá um leve aceno e se vira para sair, mas ela o interrompe:
— Ei! Espera! Antes que eu esqueça...
Ele para e se vira e pergunta:
— Sim..?
— Qual é o seu nome? — pergunta Ellen, curiosa e um pouco Inclinada para frente.
Ele hesita um pouco, pois fazem literalmente anos que ninguém pergunta o seu nome.
— ... Eu me chamo Darius.
— "Prazer, Darius. Eu sou Ellen, mas acho que você já percebeu isso. Todo mundo me chamando por aqui, ali!" Ela ri de leve, tentando amenizar o cansaço no ar.
— "Não. Perdão." Ele a responde direto e volta ao seu canto.
Ellen o observa sair por um momento antes de ser chamada por outro paciente. Ela fica pensando: "Darius.." e volta ao trabalho, enquanto Darius se senta e se prepara para tentar dormir em meio ao caos.
Darius finalmente consegue se ajeitar, tentando se acostumar ao ambiente improvisado do abrigo. Seu corpo ainda dói de tanto desgaste, mas ele consegue fechar os olhos, exausto com as pálpebras pesando, e aos poucos vai relaxando. No entanto, a tranquilidade não dura muito. Seu sono é interrompido por uma sensação esmagadora de pavor. O pesadelo vem, violento e implacável.
Tudo começa com uma explosão ensurdecedora. A onda de choque é tão forte que o ar é arrancado de seus pulmões, e ele é arremessado para trás, voando através de uma nuvem de destroços. Quando finalmente cai no chão, seu corpo está tonto, e ele se levanta com dificuldade, mal conseguindo se manter em pé. A visão diante dele é um cenário apocalíptico um prédio em ruínas, com fumaça negra se erguendo no ar. O fogo consome o que restou das paredes e estruturas, e o cheiro de gás vaza, misturado com o fedor de carne queimada.
Darius avança mancando, tropeçando entre escombros, sentindo a dor de cada movimento. Seu coração acelera ao ver as consequências de uma falha catastrófica. Corpos esmagados sob montes de concreto, outros perfurados por pedaços de aço, e o sangue espalhado pelo chão. Ele não pode parar de olhar, os rostos dos mortos gritando silenciosamente em sua mente.
Seu estômago se revira quando ele reconhece as figuras que se destacam entre os corpos. Seu pai, caído e sem vida, os olhos arregalados, como se fosse um homem que finalmente tivesse perdido a batalha. Sua mãe, com a expressão serena, mas marcada pela ausência de vida. Ele se aproxima deles, sentindo que, ali, naquele instante, as figuras que ele sempre viu como fontes de força e proteção agora estavam inatingíveis. Ele sabia, lá no fundo, que não poderia contar com eles nunca mais.
E então, a sombra aparece. Uma figura indistinta, uma presença sombria que se aproxima lentamente, murmurando palavras que cortam a alma de Darius.
"Seu traidor! Culpa sua! Você não me ajudou! Agora veja as consequências de sua ignorância em não me ouvir!"
Darius grita em protesto, mas sua voz parece se perder no caos ao redor.
"Não! Não! Não é culpa minha!" - ele chora, tentando se afastar da sombra, mas ela se aproxima, cada vez mais, mais implacável, mais imensa.
A sombra grita mais alto, preenchendo sua mente com palavras de raiva. Darius tenta lutar contra ela, mas suas forças começam a falhar, sua resistência cede ao peso da culpa e do desespero. Ele se sente pequeno e fraco, o choro ecoando no vazio, como se não houvesse mais ninguém para ouvir ou para ajudá-lo.
"Não é minha culpa!" ele grita, a voz se quebrando.
Uma criança, que estava perto, o observa com preocupação e corre até Erie.
"Erie! Eriee! Vem ver ele! Acho que ele está tendo um pesadelo!" apontando para Darius.
Erie, rapidamente, se aproxima de Darius, agachando-se. Ela vê o estado dele e toca suavemente no ombro dele, dizendo:
"Ei, acorde, Acorde!"
Darius acorda no susto gritando "NÃO!". Logo, Darius, ainda em choque, leva alguns segundos para se recuperar. Quando finalmente abre os olhos, está totalmente suado, a respiração pesada e descontrolada. Erie continua calma, olhando-o com uma expressão de preocupação.
Ela olha para o lado e diz a garota: "Ei, amiguinha, vá até a cozinha e pegue um pouco de água e traga para ele!" - Erie pede, e a pequena garota logo corre para obedecer.
Ela olha para Darius, que ainda luta para se acalmar.
"Ei, está tudo bem! Relaxa, ok? Vamos... Respire fundo... E solte."
Darius a observa por um momento, sem palavras, e, sem saber o que fazer, começa a seguir as instruções dela. Ele respira fundo e solta o ar, tentando se acalmar, como ela disse. O tempo parece passar lentamente até que a criança retorna com o copo de água. Ela o estende a ele com um sorriso tímido.
"Aqui, para você!" - ela diz, com um olhar gentil.
Darius pega o copo com a mão trêmula e bebe a água, fechando os olhos para se concentrar em sentir a água descendo pela garganta. Ele se força a focar nesse momento simples, tentando afastar a lembrança do pesadelo. Quando termina de beber, ele coloca o copo vazio de volta na mão da criança e diz, com um leve suspiro:
"Muito obrigado..."
A criança pega o copo e sai, indo até a cozinha. Erie observa Darius por um momento, ainda preocupada.
Ela pergunta, com uma leve preocupação em sua voz tranquila, calma e mansa:
"Como você está? Melhor?"
Darius a olha, a expressão mais calma agora, embora ainda tensa. Ele responde com um tom mais suave:
"Sim... Muito obrigado pela ajuda."
Erie acena com a cabeça, sorrindo gentilmente. Ela diz, com um tom compreensivo, mas ainda um pouco curioso:
"Parece que você teve um pesadelo forte... Qualquer coisa, você pode falar comigo."
Ela diz isso de uma maneira tão leve e sem pressa, quase como se fosse uma promessa silenciosa. A gentileza em sua voz é inegável, e Darius a olha por um momento, sem saber o que responder. A conversa se desfaz, e, logo, ele se deixa recostar novamente, tentando afastar as imagens do pesadelo, mas sabendo que, por mais que tentasse, o passado nunca o deixaria realmente em paz.
Após a conversa com Erie, Darius se recosta, tentando afastar as lembranças do pesadelo. Ele sente o peso do corpo cansado, ainda marcado pela dor e pelo desgaste da noite anterior. Sua mente continua a lutar contra as imagens do pesadelo, mas, com um suspiro pesado, ele tenta se entregar ao sono novamente.
Dessa vez, a escuridão o envolve com mais calma. Seu corpo finalmente relaxa, e ele sente o alívio de não estar mais em um estado de constante tensão. O som ambiente do abrigo — os passos de pessoas, o sussurro do vento entrando pelas brechas das paredes — cria uma sensação de normalidade que o ajuda a adormecer mais uma vez.
O sono, no entanto, não é tranquilo. Apesar do corpo relaxado, a mente de Darius continua a vagar por caminhos turbulentos. Ele novamente se vê em um campo de batalha, em meio ao caos. A fumaça o envolve, e ele sente a dor do impacto das explosões. Mas agora, ele não está apenas fugindo da destruição. Ele está parado, observando tudo à sua volta, sem poder se mover. Ele vê os rostos das pessoas ao seu redor, algumas conhecidas, outras estranhas, mas todas marcadas pela mesma dor, pela mesma perda. Ele tenta gritar, mas a voz não sai.
A sensação é a mesma de antes, a angústia de ser impotente diante de um destino que ele não pode mudar.
De repente, a sombra aparece novamente. Ela se aproxima, tão imensa e ameaçadora quanto antes. Darius tenta se mover, mas seus pés estão presos no chão, como se o medo tivesse congelado seus músculos.
— "Você ainda não entendeu, Darius?" — a sombra fala com uma voz grave e cheia de desprezo.
Darius tenta gritar, mas o som é abafado. Ele sente a pressão crescendo, as palavras da sombra invadindo sua mente, minando qualquer vestígio de esperança que ainda restasse.
Então, a pressão aumenta, e a cena se dissolve em uma espiral de escuridão. O pesadelo se desfaz, como se nunca tivesse acontecido.
Darius acorda com um salto, o coração batendo forte. Ele está novamente no abrigo, o som das vozes ao seu redor já não é mais uma ameaça. Ele respira fundo, tentando se acalmar, mas o suor ainda escorre por sua testa. Seus olhos se ajustam à luz fraca da manhã, e ele percebe que, por mais que tente, os pesadelos continuam a acompanhá-lo.
Mas, ao menos por agora, ele está de volta à realidade. Ele fecha os olhos mais uma vez, tentando se convencer de que, por mais que o passado o assombre, o futuro ainda tem algo a oferecer. Mesmo que seja só uma chance de encontrar um pouco de paz.
Finalmente, ele adormece de novo, em um sono mais profundo, porém, com uma pessoa... Um simples.
08:12 - Manhã
24/08/2032
Darius acorda abruptamente, o corpo um pouco dolorido por conta da posição desconfortável em que dormiu. Sua mente, entretanto, parecia ter encontrado um pouco de paz após a tempestade de pesadelos da noite passada.. Ele senta-se, esfregando os olhos com as mãos, e automaticamente vira o rosto para o pequeno relógio pendurado na parede. Os ponteiros marcavam 8h12.
Ele inspira profundamente, levantando-se devagar. Com os braços acima da cabeça, começa a se alongar, esticando os músculos doloridos da noite anterior. Algumas pessoas que estavam próximas observam o homem de postura firme e imponente, incluindo Ellen, que vinha passando pelo corredor com uma bandeja de medicamentos nas mãos. Ela desacelera por um momento, curiosa, mas logo continua seu caminho.
Depois de finalizar o alongamento, Darius observa o ambiente ao redor. O caos parecia mais organizado naquela manhã, mas ainda assim, as marcas da destruição recente estavam por toda parte. Ele percebe que precisava comercomeçava, e embora estivesse acostumado a muitas vezes ir treinar em jejum, ou, num dia mal, passar um certo tempo sem comer, algo naquele momento parecia exigir que ele se alimentasse.
Decidido, ele caminha até Ellen, já que ele havia visto ela passando. Ele vai até ela, mas ele percebe que ela está ocupada ajudando uma das crianças que parecia ter machucado o joelho. Ele se aproxima calmamente, sua postura firme como sempre.
— "Ellen." A voz de Darius a chama, fazendo-a virar-se rapidamente.
— "Ah, Darius!" Ela responde, sorrindo enquanto limpa as mãos com um pano. — Tudo bem? Precisa de algo?
Ele inclina levemente a cabeça, observando-a por um momento antes de responder.
— "Tem comida disponível aqui? Eu preciso comer algo." Ele pergunta seriamente.
Ellen parece refletir por um momento, seus olhos percorrem o ambiente antes de fixar-se novamente nele.
— "Temos alguns mantimentos, sim, mas... não são muitos. Estamos guardando para casos mais urgentes, como os feridos graves e as crianças.", Ela faz uma pausa, inclinando levemente a cabeça.
— "Você pode tentar encontrar algo lá fora. Às vezes, há mercados ou despensas que ainda têm suprimentos. Ou, quem sabe, até caçar."
Darius ouve as palavras dela com atenção, seu rosto permanecendo impassível. Ele assente uma única vez.
— Entendido. Obrigado.
Quando ele começa a se virar para sair, Ellen dá um pequeno passo à frente e o chama novamente:
— "Darius, espere.."
Ele para e olha por cima do ombro.
— Sim?
— Eu só estava me perguntando... — ela começa, ajeitando o cabelo para trás da orelha. — "Por que você é tão sério? Tão... fechado? Parece que está sempre carregando o peso do mundo nas costas."
Darius vira-se completamente para encará-la, o olhar profundo como se tentasse decifrá-la. Por um momento, ele fica em silêncio, ponderando sobre a pergunta.
— "Porque... o peso do "mundo" está aqui." — Ele responde finalmente, com a mesma seriedade de sempre.
Ellen o observa, percebendo que há muito mais por trás daquele homem do que apenas seriedade.
— "Mas ei, todos aqui estão passando por algo difícil, Darius. Mas não significa que precisamos nos afogar nisso. Às vezes, um pouco de leveza ajuda a manter a cabeça erguida." — Ela sorri suavemente, um sorriso que parecia querer quebrar a barreira que ele havia erguido ao redor de si.
Ele a encara por mais alguns segundos antes de responder.
— "Talvez. Mas nem todos têm essa... leveza, e... Nem todos passam pelos mesmo desafios. Eu sofri muito. Não foi só perda do meu atual lar." Ele parece totalmente sério.
E. "Sim... Verdade. Mas, por isso você tem quer ser tão... Você?.."
D. "... Eu sou o que sou pelo o que vivi e sobrevi." .
E. "Eu perdi meus pais com 6 anos em 2020, minha casa..." Ela fica menos alegre, logo após uma pausa, ela volta e com mais confiança e alegria diz:
"Mas ó, agora eu estou aqui. Sem meus.. amados pais, e irmãos numa guerra de facções. E estou feliz.. Forte e alegre... Eu tive que viver sozinha dos 6 anos até os 18, dando o meu jeito! Eu consegui! Por que não você?!"
Darius fica em silêncio, refletindo sobre diz:
D. "Eu não sou você, Ellen."
Ellen observa Darius, com uma expressão compreensiva, mas ainda com uma certa leveza no tom:
— "Eu sei que não... Mas, poxa... O que aconteceu de tão ruim que te deixou assim tão sério? Não podemos viver apenas carregando o peso do mundo, Darius. Precisamos encontrar um pouco de felicidade."
Darius reflete por um momento, o olhar distante, e responde com firmeza:
— "Meu pai foi ex-militar e praticante de artes marciais. Quando eu tinha 6 anos, ele ficou paraplégico. Ele já começou a trabalhar a minha mente, tentando me deixar disciplinado e forte, mental e psicologicamente. Aos 7, me pôs para treinar Muay Thai num salão perto da nossa antiga casa. Aos 14, entrei no exército, e lá a pressão era intensa. Perdi boa parte da minha juventude no exército. Sofri bullying no início, mal podia ver minha família — era uma vez por mês... Foi muito difícil. No exército, fui moldando ainda mais minha mente. Conheci um jovem veterano chamado..." Darius parece hesitar, seus punhos se apertando, antes de continuar:
— "Jayce... Ele tinha 19 anos. Ele me ajudou... Eu tinha 14, ele 19. Ficamos tão próximos que eu o via como um irmão mais velho, um mentor... E ele me via como um irmão mais novo, um aluno. Era uma irmandade... Mas... Em uma missão do exército, em 2024, quatro anos após a pandemia, ele não seguiu as ordens claras do exército, e por causa disso... ele... ele..." Darius fica visivelmente incomodado ao continuar, a dor transparecendo em seus olhos. Ellen, percebendo a dificuldade, o encoraja suavemente:
— "Ele...?"
Darius respira fundo, forçando a voz a sair, ainda cheia de dor:
— "Ele matou meus pais em uma explosão absurda! Isso nos separou. Fui expulso do exército e nunca mais nos falamos. Eu perdi meu pai, minha mãe, e... aquele em quem eu confiava, que eu amava, me traiu e matou meus pais... Isso dói tanto... Até hoje, tenho pesadelos sobre isso, desde 2026, quando vi meus pais mortos, ensanguentados, com destroços sobre eles." Ele pausa, os olhos perdidos por um momento, antes de continuar, com uma voz mais baixa: — "Eu sou o que sou porque vivi todo esse sofrimento. Percebi que, se me apegar a alguém, posso perder essa pessoa. E, desde então, o mundo só tem piorado, se já não é um caos... Eu perdi tudo o que tinha, menos de 30 horas atrás... Anos de luta e conquistas, tudo destruído."
Ellen, com um olhar sério e compassivo, responde com firmeza, mas sem perder a suavidade:
— "Darius... Eu sinto muito por tudo isso. Não posso nem imaginar a dor que você passou. Traição, perda, ver o mundo desmoronar ao seu redor... Deve ser devastador. Mas... você não pode continuar carregando isso sozinho. Esse peso vai te esmagar."
Darius a olha com olhar firme, mas carregado de dor.
- "Eu não tenho escolha. Eu aprendi que depender de outros, confiar... só leva a mais dor. É mais seguro manter distância. A dor é menor assim."
Ellen cruza os braços, inclinando-se levemente para frente:
- "Você acha que está se protegendo, mas está se fechando para qualquer chance de algo bom. Sim, o mundo é cruel, mas... não é só isso. Ainda existem pessoas que se importam, que lutam para fazer a diferença. Como eu. Como essas crianças aqui." Ela se aproxima um pouco mais dele.
Darius desvia o olhar por um momento, refletindo sobre e diz:
- "Essas crianças dependem de você porque você é forte, porque você consegue manter essa... leveza, como disse. Eu não tenho isso. Minha força vem do controle, da disciplina e da distância."
Ellen dá um passo à frente, gesticulando com as mãos:
- "Mas força não é só isso, Darius. Às vezes, ser forte é permitir que alguém se aproxime. É admitir que precisamos de ajuda. Você não precisa carregar tudo sozinho. Eu sei que você não vai mudar do dia para a noite, mas... você merece mais do que apenas sobreviver. Você merece viver."
Darius fica em silêncio por um longo momento, como se estivesse processando o que ouviu. Ele respira fundo, mas sua expressão permanece séria.
- Você fala isso porque acredita que é possível, Ellen. Mas no meu mundo... viver é um luxo que não posso me dar. Não enquanto o caos ainda reina... e o mundo continuar desmoronando."
Ellen coloca uma mão em seu ombro, olhando-o com determinação. Ele estranha um pouco, mas permite. Ela diz:
- "Então lute por isso. Lute para acabar com o caos, lute para construir algo que valha a pena. Não porque o mundo merece, mas porque você merece. Você já sofreu tanto... Por que continuar assim? E... porque há pessoas que precisam de você, mesmo que você não perceba agora."
Darius olha para a mão dela no ombro e depois para o rosto dela, ainda sério, mas com algo diferente em seus olhos, talvez uma semente de reflexão.
- "Quem? Quem precisa de mim?"
Ellen aperta levemente o ombro dele, como se tentando transmitir algum tipo de força através do gesto, e responde com uma expressão mais suave, mas determinada:
— "Eu, por exemplo. Não estou dizendo que você deve confiar em mim agora, mas todos nós temos nossos próprios demônios, Darius. E... os outros também. Talvez não com a mesma dor, mas com suas próprias lutas. E essas crianças... Eles precisam de alguém que os proteja, alguém que não desista."
Darius a observa por um momento, sem saber ao certo o que responder. Ele sabia que ela tinha razão, mas o peso de sua própria dor e a experiência de perda estavam ainda tão frescos, tão profundos, que ele mal conseguia imaginar uma vida diferente.
Ela continua, seu tom mais suave agora:
— "Ninguém pode curar as feridas de um dia para o outro, mas... talvez começar com um passo, um pequeno passo, possa ser o começo. Se você continuar se fechando, vai perder tudo, Darius. E o pior é que você nem vai perceber até ser tarde demais."
Darius permanece em silêncio, os punhos lentamente se apertando. Havia algo nos olhos de Ellen que o fez parar e realmente refletir sobre suas palavras. Mas, mesmo com a dor, ele ainda sentia que sua maneira de viver era a única que poderia garantir sua sobrevivência.
— "Não consigo confiar em alguém de novo..." Ele murmura, a voz carregada de frustração e cansaço.
Ellen, com a paciência de alguém que já viu muitos lutando com seus próprios demônios, balança a cabeça levemente e diz:
— "Você não precisa confiar em mim agora. Mas... talvez seja hora de começar a confiar em algo além da dor. Mesmo que seja só por um momento."
Darius fica quieto, os olhos vazios de qualquer expressão, como se estivesse processando algo muito mais profundo. A conversa não o confortava, mas, de alguma forma, as palavras dela faziam sentido. A ideia de viver de verdade, não apenas sobreviver... era algo que ele mal conseguia conceber, mas não podia negar que uma pequena parte dele queria acreditar nisso. Ele olha para ela, uma sensação estranha de algo começando a se mover dentro de si.
— "Eu não confio na dor.. E.. No que eu poderia confiar?..." Ele continua sério como sempre.
Ellen mantém o olhar firme em Darius, percebendo o peso de suas palavras e o muro de resistência que ele ainda levantava ao redor de si. Ela respira fundo, tentando encontrar a melhor maneira de se fazer entender, sem pressa, sem forçar nada.
— "Não estou dizendo que você precisa confiar em tudo, Darius. Nem em mim. Mas talvez... possa começar confiando em algo maior. Como a ideia de lutar, por exemplo. Lutar para encontrar uma razão para seguir, não só sobreviver. Lutar para fazer algo de bom, não importa o quanto o mundo ao seu redor pareça estar desmoronando."
Darius a observa por um momento, ainda com os punhos cerrados, mas seu olhar parece um pouco menos vazio. Ellen percebe que ele está tentando entender, embora a dor e a resistência ainda o dominem.
— "Lutar... para quê?" Ele pergunta, a voz ainda carregada de uma certa desconfiança.
Ellen dá um passo à frente, seus olhos suaves, mas com uma firmeza que Darius não podia ignorar.
— "Lutar para proteger. Lutar para mudar as coisas, mesmo que de maneira pequena. Lutar por um futuro melhor, mesmo que você não consiga ver um agora. Lutar para ser algo mais do que o que você foi forçado a se tornar." Ela faz uma pausa, olhando-o diretamente. — "Não é sobre confiar em outros, Darius. É sobre confiar em si mesmo. No que você pode construir."
Darius fica em silêncio, pensativo. A ideia de luta, algo que ele sempre soubera, agora parecia ter um significado mais profundo. Não uma luta apenas física, mas uma luta pela sua própria humanidade, algo que ele havia quase perdido.
— "E se eu não tiver forças para lutar por isso?" Ele pergunta, a dúvida evidente em sua voz.
Ellen dá um pequeno sorriso, mas é um sorriso genuíno, como se estivesse esperando por essa pergunta.
— "Às vezes, a gente não percebe, mas tem mais força do que imagina. Às vezes, a força vem de saber que há algo pelo qual lutar. E, mesmo que não pareça, você tem algo dentro de si que ainda quer ser mais. Você só precisa deixar isso sair."
Darius a encara por um momento, sua expressão ainda fechada, mas com uma chama de reflexão começando a brilhar em seus olhos. Ele não sabia o que isso significava ainda, mas algo havia mudado. Talvez fosse o primeiro passo.
— "Eu... vou tentar." Ele diz, a voz um pouco mais baixa, mas com um toque de algo que ele não sentia há muito tempo — uma semente de esperança, ou algo perto disso.
Ellen, com um olhar de leve satisfação, diz com suavidade:
— "Isso é tudo o que você precisa, Darius. Um passo de cada vez."
Darius acena com a cabeça, ainda refletindo sobre as palavras dela enquanto se vira lentamente para sair. Ellen observa ele ir, o olhar mais esperançoso agora, sabendo que, mesmo que o caminho fosse longo, ele já tinha começado a caminhar.
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Atualizado até capítulo 22
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